31 de outubro de 2008

Canibal Ferox

Essa grossura em forma de película se orgulha de ser o filme mais violento já feito. Proibido em 34 países, deveria ter sido em outros tantos só pela escrotice do diretor em sacrificar e maltratar animais pra conseguir tal mérito. Há uma tomada bem curta dos atores com o jipe em movimento onde se vê o pobre quati pendurado pela cordinha sendo arrastado do lado de fora. Da parte dos humanos, embora aja boa tensão, nem sempre os efeitos de violência explícita ficaram bem feitos. E em matéria de gore, o que não choca faz rir, não há meio termo! A história vai e volta das ruas de Nova York à selva Amazônica, o que além de dispersar o interesse pelo grupo de jovens perdidos na expõe o amadorismo técnico da produção. Pertencente à vertente (bem popular na Itália nos 70’s) dos filmes sobre canibalismo, é apenas uma grande curiosidade de gosto duvidoso, um grande teste de estômago para espectadores sem coisa melhor pra assistir. Como cinema deixa muito a desejar, sendo que a principal mensagem (quem é mais selvagem, os nativos da floresta ou nós, seres pseudo civilizados?) bem escancarada, dita inclusive pelos atores, ajuda a dar ainda mais sabor de obvio em tanta gratuidade. Em suma, uma grande selvageria artística no mau sentido.

Canibal Ferox – Cannibal Ferox

- Itália 1981 De Umberto Lenzi Com Giovanni Lombardo Radice, Lorraine De Selle, Danilo Mattei, Zora Kerova, Walter Lucchini, Fiamma Maglione, Robert Kerman, Venantino Venantini, 'El Indio' Rincon 93’ Horror


Cotação:

Romance da Empregada

Há algo sempre estranho nos filmes produzidos pela família Barreto. Talvez porque encarem a coisa como profissão, o que não é pecado algum se não buscassem invariavelmente os caminhos mais óbvios do que é popular no Brasil em busca de bilheteria. No caso, as novelas da TV Globo. Romance da Empregada não só deixa isso bem claro, com um monte (um monte mesmo!) de atores fingindo (fingindo mesmo!) que são pobres, como é contado sob a ótica da classe média sobre a classe trabalhadora. Todos fazem o que for pra se dar bem, são burros, porcos, mal educados de boca imunda. Isso é subestimar demais a platéia e as figuras retratadas. Se a intenção era dar humor ou simpatia, dá bode, constrange! O roteiro do conhecido diretor teatral Naum Alves de Souza pode até ter nuances interessantes ao mostrar o dia a dia de uma doméstica, mas os diálogos são mais pobres que os personagens. Ouvem-se frases que não têm sentido algum além de estarem ali pra ter algum texto sendo dito na tela. Se a produção é bem caprichada em locações, cenários, figurinos e elenco famoso, não parece ter havido a mesma exigência para os atores, dezenas de rostos cariocas conhecidos em pontas, se empenhassem na interpretação. Todo o filme é gritado, empostado como se estivessem num palco, em contrate fatal com direção de arte realista. Volta e meia há palavrões ditos de boca cheia, como se fossem a coisa mais inédita do mundo. Tanta falta de sutileza nos faz admirar a sorte de Bruno (e Fábio) em ter mamãe e papai bancando tanta arte. Mas nem tudo é ruim, Betty Faria à deriva como protagonista segura as pontas na medida do possível, assim como o sensacional Brandão Filho como o velhinho safado. Ele parece ser o único a compreender o que acontecia ali.

Romance da Empregada

- Brasil 1987 De Bruno Barreto Com Betty Faria, Brandão Filho, Daniel Filho, Tamara Taxman, Stela Freitas, Cláudia Jimenez, Eri Johnson, Vick Militello, Marcos Palmeira, Zezé Polessa, Cristina Pereira, Telma Reston 90’ Drama/Comédia


DVD - Os escassos filmes brasileiros em DVD costumam se dar melhor quando lançados por distribuidoras locais. A Paramount distribui vários com preços muito elevados, nem sempre com qualidade de imagem. Este está com a imagem mezzo widescreen, mezzo fullscreen e o áudio muitas vezes ruim. A trilha sonora também fica sempre num tom acima do volume dos diálogos. Como bônus, muito texto, o que é bom em se tratando de produto nacional, num país conhecidamente desmemoriado e o trailer da época, narrado de forma hilária por Paulo César Pereio.

Cotação:

30 de outubro de 2008

A Cidade dos Amaldiçoados (1995)

Refilmagem inútil número 4.876. Isso porque, o original de 1960 continua ótimo, empolgante de suspense discreto e eficaz. Feito em 1995 pelo irregular John Carpenter, a pista mais óbvia de sua existência desnecessária são os figurinos de Kirstie Alley. O personagem não presente no original se veste com uma capa de chuva mesmo num visível calor. A médica cética não passa da vontade de tirar casquinha em cima do sucesso do seriado Arquivo X, grande sucesso do inicio dos anos 90, sendo que é absolutamente mal aproveitada. Daria pra cortá-la na edição que não faria diferença alguma. O que era sugerido, tornou-se uma sucessão de sustos fáceis, daqueles em que a música faz um “bam!” e não têm conexão alguma com a história. Tudo é tão mastigado e claro que até evidenciaram a origem das criancinhas, que aliás, muito mal selecionadas. Mesmo a aparência delas, todas loirinhas (referência à guerra fria) foi mudado para um platinado ridículo, ignorando que a outra produção era preto e branco. O argumento é idêntico, mas a forma com que ele foi conduzido é que são elas! Uma neblina (!!!) invade pequena cidade fazendo seus habitantes adormecerem. Alguns meses depois todas as mulheres (umas 9!) ficam grávidas, etc., etc. E não é que entre os pequenos agora há um bonzinho? Nem do final com gancho para uma seqüência (que jamais aconteceu) foi esquecido. Pra piorar a zica, é o último trabalho de Christopher Reeve antes do acidente que o deixaria tetraplégico.

A Cidade dos Amaldiçoados - Village of the Damned

- EUA 1995 De John Carpenter Com Christopher Reeve, Kirstie Alley, Linda Kozlowski, Michael Paré, Mark Hamill, Meredith Salenger, Pippa Pearthree, Cody Dorkin 99’ Horror/Ficção Científica


DVD - Bem antigo, quando a Universal tentou padronizar os ícones de navegação em seus discos. Pelo menos tem o trailer como extra, além de algum texto em inglês.

Cotação:

29 de outubro de 2008

A Aldeia dos Amaldiçoados (1960)

Clássico da paranóia anticomunista, com suspense ainda intacto por mais estapafúrdio que seu argumento pareça. Numa cidadezinha inglesa, inexplicavelmente todos os habitantes caem no sono. Após alguns meses do fenômeno, as mulheres com idade madura para gerarem filhos aparecem grávidas. O impacto inicial da notícia, com maridos apostando na infidelidade das esposas, virgens assustadas, dá lugar à esperança graças ao natural amor familiar. Exames apontam se tratar de bebês normais que se desenvolvem com rara velocidade no útero. Super inteligentes, com cabelos muito claros, poderes paranormais, e sem nenhum sentimento, os pequenos especiais se reúnem num grupo fechado, e começam a atacar qualquer um que se meta em seu caminho. George Sanders, oscarizado por A Malvada (All About Eve, 1950) faz o pai do principal deles, um cientista que defende a proteção dos seres, já que em alguns outros países onde ocorreu o mesmo fato, os governos decidiram simplesmente varrê-los do mapa com o uso de armas nucleares. No elenco também há a musa do horror Barbara Shelley vivendo a doce esposa de Sanders. A produção modesta não atrapalha o argumento genuíno, e muito bem construído. Assim como todos os outros personagens, em momento algum se sabe o que são aquelas criaturas bizarras. Embora seja forte a suspeita de que sejam parte de experiência alienígena após se recusarem a responder se há vida inteligente em outros planetas. Quase uma unanimidade entre cinéfilos, continua inédito no mercado de home vídeo brasileiro, conhecido apenas por constantes reprises na TV. Gerou uma seqüência bem menos impactante e em 1995 um mal fadado remake pelas mãos de John Carpenter.

A Aldeia dos Amaldiçoados - Village of the Damned

- Inglaterra 1960 De Wolf Rilla Com George Sanders, Barbara Shelley, Martin Stephens, Michael Gwynn, Laurence Naismith, Richard Warner, Jenny Laird 77’ Horror/Ficção Científica


Cotação:

28 de outubro de 2008

Os 12 Macacos

Uma das mais surpreendentes e pouco reconhecidas ficções científicas dos anos 90. Tão cheia de camadas que é quase automático querer revê-la apenas para observar novas texturas. A primeira surpresa é que sempre se espera mais rococó neste gênero associado à assinatura de Terry Gilliam. Tanto em efeitos especiais, quanto em visual, até que é bem contido, com muitos filtros claros de fotografia para não afugentar fãs dos filmes bobocas estrelados por Bruce Willis e Brad Pitt na época. Aliás, este último somado ao estranhamento do argumento é um desconforto inicial. Quando a trama ainda não decolou, sua interpretação de deficiente mental ensaiadinha demais destoa do realismo cenográfico. Em 2034, a humanidade vive nos subterrâneos graças a um vírus espalhado em 1996. Todo o planeta está novamente tomado por animais selvagens, que vivem livremente sobre o que foi a civilização. Mesmo com a tecnologia ainda precária, cientistas usam detento (Willis) para que ele volte ao passado a fim de conseguir amostras da tal praga antes dela sofrer mutações. Sem controle exato da época em que será enviado, vai primeiro para 1990, e suas convicções o levam ao hospício. Este argumento, baseado no curta francês La Jetée de 1962, pode ter cheiro de “déjà-vu”, mas é só cheiro mesmo. Embalado numa trilha sonora atemporal, Os 12 Macacos (entre dezenas de outras coisas) nos lembra o emaranhado de referências culturais e imagens constroem nossa memória, e sobretudo, se somos por natureza criaturas sociáveis, a quem se agrupar. Com roteiro muito bem amarrado, desliza (sem maiores prejuízos) no final, quando a profundidade sai de cena para dar lugar a um saturado “quem é o culpado?”.

Os 12 Macacos – Twelve Monkeys


- EUA 1995 De Terry Gilliam Com Bruce Willis, Madeleine Stowe, Jon Seda, Brad Pitt, Simon Jones, Carol Florence, Christopher Plummer 129’ Ficção Científica


DVD - Mais uma pobreza franciscana da Universal. Não há nadica de nada além do filme. Como isso é inacreditável em se tratando de uma obra tão interessante, fica-se tentando achar algum easter egg... Não perca seu tempo! Não dá pra clicar no olho do Bruce Willis que fica rodando no menu estático.

Cotação:

A Batalha dos Monstros

Ocidentais adoram teorizar sobre o sucesso dos monstros gigantes dos filmes japoneses. Se a do trauma causado pelas bombas atômicas americanas em Hiroshima e Nagasaki estiver correto, este A Batalha dos Monstros ganha sabor de paz na Terra total! Para conquistar de vez as platéias dos EUA há dois personagens ocidentais importantes, e não apenas cenas enxertadas no país do Tio Sam como a Toho fez com os do Godzilla. Dois garotos curiosos (um japonês e outro inexplicavelmente norte americano), entram numa nave espacial que imediatamente os leva a outro planeta, mais precisamente Tera, o 10º do Sistema Solar. A armadilha foi criada por duas habitantes locais que pretendem comer seus cérebros e assim adquirir todo o conhecimento necessário (!!!) para a conquista da Terra. O roteiro não especifica em momento algum porque com tantos cientistas coisa e tal, escolheram dois garotinhos, mas enfim... Lógico que serão salvos por Gamera, a tartaruga gigante que cospe fogo por todos os orifícios e é uma espécie de Godzilla, mas com personalidade menos volúvel do que ele. Desde a sua primeira produção é amiga das criancinhas e ponto! Aqui enfrentará Giron, um dos seus famosos arquiinimigos, misto de serrote com tubarão e toupeira. E dá-lhe pancadaria em cenários de papelão hiper coloridos... Ingênuo, brega e hilário! Espere para a mensagem pacifista final e não caia na gargalhada se conseguir.

A Batalha dos Monstros – Gamera tai daiakuju Giron (Attack of the Monsters)

- Japão 1969 De Noriaki Yuasa Com Nobuhiro Kajima, Miyuki Akiyama, Christopher Murphy, Yuko Hamada, Eiji Funakoshi, Kon Omura, Edith Hanson 80’ Ficção Científica


DVD - Oportunidade única! Dois filmes de Gamera num mesmo DVD. A London (WorksDVD) incluiu A Batalha dos Monstros e Destruam Toda a Terra no box Sci-Fi, juntamente a outras 18 perolas retrô, incluindo o primeiro da tartaruga gigante. Todos agora são encontrados em pequenas lojas a preços pra lá de camaradas. A imagem está bem ruim em fullscreen e o áudio dublado de qualquer jeito em inglês, mas numa produção deste tipo qualquer qualidade se torna luxo inimaginável.

Cotação:

24 de outubro de 2008

Os Garotos Perdidos

É evidente que se tornou muito melhor com o passar dos anos graças à nostalgia. Mas agregar seus valores apenas a isso é esnobar de forma ranheta uma das mais competentes atualizações do mito “vampiro”. Como o filme parte da chegada de uma jovem senhora desquitada (Dianne Wiest sempre como Dianne Wiest) e seus dois filhos a uma pequena cidade, a história é contada pelo ponto de vista do menor, o galã pré-adolescente Corey Haim. Essa fase da vida já é dificílima, cheia de auto-afirmações (note o poster de Rob Lowe seminu na parede de seu quarto), imagine tendo que se mudar da para um lugar onde o Judas perdeu as botas e sem TV? Para todo garoto os um pouco mais velhos são sempre guardiões de segredos, donos de um universo próprio, possuidores de um poder que ele também ambiciona conquistar algum dia. Parece inteligente rimar isso com vampiros motociclistas, maloqueiros que devoram tudo o que os incomoda. Visualmente está datado, tanto cinematograficamente quanto no aspecto dos personagens. Há uma urgência de parecer MTV que nos diz pouquíssimo agora,além de ser engraçado. O que se mantém em pé são o ritmo, humor e uma ótima utilização da trilha sonora. Joel Schumacher dirigindo, quando obedece direitinho aos produtores, sabe deixar tudo nos trilhos de forma limpa. De carreira super irregular, aparenta ser basicamente um funcionário de uma indústria do que artista.

Os Garotos Perdidos – The Lost Boys

- EUA 1987 De Joel Schumacher Com Jason Patric, Corey Haim, Dianne Wiest, Barnard Hughes, Edward Herrmann, Kiefer Sutherland, Jami Gertz, Corey Feldman, 97’ Horror


DVD - É aquela edição que vendeu feito água em DVD o que aguçou a cobiça da Warner em produzir tardia seqüencia. Duplo, nem tem seus extras tão espetaculares quanto parecia. Há várias entrevistas curtas, documentário também curto sobre a maquiagem, o trio adolescente central comentando algumas cenas, clip que lamentavelmente não é a da música que mais toca no filme e o trailer. A faixa de comentários do diretor, como é de costume na distribuidora, não está legendada em português.

Cotação:

23 de outubro de 2008

Criatura Sangrenta

Este “A Ilha de Dr. Moreau” classe Z cumpre o que promete: diversão barata ininterrupta e cômica involuntariamente. O atrativo principal, alardeado no trailer, é que uma campainha soaria nas cenas mais fortes para que a platéia pudesse fechar os olhos! O elenco igualmente pobre e decadente é encabeçado por Greta Thyssen, miss Dinamarca 1951, que embarcou para Hollywood alguns anos depois para tentar seguir os passos de Marilyn Monroe. O máximo da estrela da Fox que chegou foi numa ponta não creditada em Nunca Fui Santa (Bus Stop, 1956). Mesmo assim, conseguiu popularidade em revistas de celebridades até encontrar seu espaço nas produções B assim como Jayne Mansfield e Mamie Van Doren, entre inúmeras outras sub Monroes. Em Criatura Sangrenta faz a mulher do cientista louco que arde de desejo enquanto o marido só pensa em “brincar de Deus”. Trancafiada numa ilha para os experimentos secretos de mesclar animais e humanos sejam feitos, vê sua chance de alívio sexual chegar junto a um galã naufrago. Como a certa altura todos os nativos abandonam a ilha, economiza-se até com elenco, sobrando pouquíssima gente para o monstro atacar, embora muito mais monstro seja o cientista louco, com sua ambição desenfreada. Produto típico de grindhouses e drive-ins, a imagem caindo aos pedaços é um charme a mais. Parece que foi editado na tesoura com as cenas coladas com fita adesiva. Sempre que aparece a “queimadura de cigarro” no canto da tela, sinal para o projetor trocar os rolos, a imagem dá um salto gigantesco de tempo, perdendo muitos frames.

Criatura Sangrenta – Blood Creature (Terror is a Man)

- EUA/Filipinas 1959 De Gerardo de Leon Com Francis Lederer, Greta Thyssen, Oscar Keesee, Lilia Duran, Peyton Keesee, Flory Carlos 89’ Horror


DVD - Esta belezinha trash, provavelmente com direitos autorais vencidos, foi comercializada no Brasil na série Sessão da Meia Noite, da Fantasy Music. Junto vem outra pérola, O Lobisomem no Quarto das Garotas, ideal para se fazer um “Double Feature” caseiro. A imagem não está nada restaurada, cheia de riscos e pulos de frames, o que, neste caso, só agrega simpatia. Antes de o filme começar há um anúncio pomposo de drive-in anunciando as próximas atrações. Está presente o trailer das duas películas, além de O Círculo do Diabo (The Devil's Hand), distribuído aqui pela London (WorksDVD).

Cotação:

22 de outubro de 2008

À Meia Luz (1944)

Ingrid Bergman nos presenteia talvez com a interpretação mais fofa de sua vida. Tão desprotegida que dá vontade de gritar que seu marido é um bandidão tentando fazê-la de louca pra botar as patas na fortuna da tia morta. Nitidamente, e com insuspeita classe, esse filme da época das trevas Hollywoodiano faz proveito do espírito de Rebecca. Está presente o casarão, o quadro da finada entre outras pitadas do sucesso recente de Hitchcock, embora suas raízes não sejam um livro, e sim uma produção teatral inglesa também de 1940. Seu clima de eterno desamparo, com luzes instáveis e o fog londrino escondendo o horizonte, assume na segunda metade postura muito mais policial do que suspense, e nessa virada o personagem de Joseph Cotten ganha força abrupta demais, mas é um alívio que desponte alguém que ajude a mocinha. Charles Boyer, a esta altura consagrado como grande, parece ter no papel de vilão mor a chance de parecer perfeito usando sua antiquada interpretação típica do cinema mudo, cheio de caras e bocas. Coroando o elenco de luxo está Angela Lansbury como a petulante empregadinha do tipo cama e mesa, seu primeiro personagem adulto. Dirigido por George Cukor (gigante responsável por incontáveis clássicos nos mais diversos gêneros) é bastante prazeroso na franca nobreza cinematográfica.

À Meia Luz – Gaslight

- EUA 1944 De George Cukor Com Ingrid Bergman, Charles Boyer, Joseph Cotten, Dame May Whitty, Angela Lansbury, Barbara Everest, Emil Rameau 114’ Suspense


DVD - Outro espetacular lançamento da Warner com a capinha e menus reproduzindo o pôster original. Contendo lado A e B, traz como extra nada menos do que a versão feita na Inglaterra quatro anos antes, trailer do americano e documentário apresentado por Pia Lindström, a filha menos famosa de Ingrid Bergman. A curiosidade máxima fica por conta do filmete com a entrega do Oscar de 1944, no qual à Meia Luz saiu vitorioso nas categorias atriz e direção de arte (Decoração). Na época, sem TV, o prêmio da Academia era bem artificial. Aliás, bem mais artificial.

Cotação:

21 de outubro de 2008

Thriller em grym film (Thriller Um Filme Cruel)

Tarantino o considera o mais arrepiante filme sobre vingança já feito, e isto ganha peso especial se lembrarmos de Kill Bill Vol. 1 e 2 que versa sobre a mesma temática. Diga-se de passagem, é uma das maiores referências a eles, não só pela personagem caolha, mas pela heroína injustiçada que se aperfeiçoa ao máximo para dar o troco em grande estilo. Imagina-se desde o início que toda barbárie a qual é submetida será compensada violentamente, e nós de forma sádica aguardamos de forma quase impaciente até a hora de aplaudir cada gota de sangue! Madeleine começa como uma criancinha doce que é violentada sexualmente por um velho nojento. Num corte rápido de tempo, aparece na adolescência, linda com seus grandes e expressivos olhos de mangá. Do crime do passado, ficou muda como seqüela. Ingênua, cai numa rede de prostituição diabólica ao aceitar carona de um estranho. Dopada, a garota passa quatro dias desacordada enquanto injeções de heroína lhe são aplicadas. Ao despertar estará mortalmente viciada o que lhe obrigará a se prostituir em troca de mais droga. Estuprada, cega pelo cafetão (que ainda a chama sarcasticamente de pirata), verá sua antiga existência desmoronar por completo. Neste ponto sua história deixa a vida de Christiane F. parecer um conto dos irmãos Grimm, até renascer como uma vingadora vestida de negro, especialista em artes marciais, armas de fogo e todas as outras habilidades que lhe permitirão comer o prato frio. Como se trata de uma produção sueca (O primeiro país a legalizar a pornografia), soa menos bizarro que em meio a tanta violência haja várias cenas de sexo explícito hardcore, inclusive lésbico e anal. Embora tais tomadas pareçam dispensáveis (ainda mais porque notadamente são enxertos de double bodys), combinam perfeitamente com o clima tétrico do roteiro. Já seria merecedor dos melhores créditos que tendo a protagonista sem falar (logicamente) uma palavra, e um tema tão forte, ainda consiga nos distanciar ao ponto de divertir. Exagerado e de ritmo semelhante ao de um desenho animado moderno qualquer, está estranhamente em um patamar elevado do cinema.

Thriller em grym film (Thriller Um Filme Cruel)


- Suécia 1974 De Bo Arne Vibenius Com Christina Lindberg, Heinz Hopf, Despina Tomazani, PerAxel Arosenius, Solveig Andersson, Björn Kristiansson, Hildur Lindberg 104’ Drama


Cotação:

17 de outubro de 2008

Diabolik

Nada parece ser mais pop que cinema italiano comercial. Adaptação de personagem de quadrinhos local muito popular, cada frame de Diabolik é um deleite kitsch assinado por Mario Bava, produzido pelo não menos lendário Dino De Laurentiis e trilha sonora (menos swingada do que se espera) de Ennio Morricone. Não uma trama em si, mas um infinito gato e rato do anti-herói (John Phillip Law) com a polícia e a máfia. Com alguns personagens sumindo da ação depois de um tempo, além de seguir divertidamente lógica física inverossímil, dá pra perceber que o roteiro (também de Bava) é uma grande colcha patchwork reaproveitando situações dos quadrinhos. Também engraçado o personagem seguir um estilo James Bond, cheio de apetrechos tecnológicos, mas é um ladrão que não pensa duas vezes em matar quem se colocar à sua frente, mesmo se for apenas um pau mandado do chefão. Seus planos mirabolantes não são para roubar dos ricos e dar aos pobres, mas pra puro e simplesmente enriquecer e dar tudo o que sua amada Eva (Marisa Mell belíssima) quer. O mais próximo do heróico que seus atos fazem é desestabilizar o sistema vigente. Explode vários prédios públicos obrigando o ministro ir à TV pedir aos cidadãos que por amor à pátria declarem novamente seu imposto de renda, já que todos os registros foram perdidos. “Só pode ser piada!” declara um nobre tiozinho enquanto toma sua biritinha num boteco. É esse espírito que o põe muito acima de 9 entre dez versões cinematográficas do gênero, cada vez mais enquadradas na burrice da média intelectual das platéias. O ator Law, falecido em 2008, apareceria como o anjo de Barbarella, outro filme de heróis do mesmo ano.

Diabolik - Danger: Diabolik

- Itália/França 1968 De Mario Bava Com John Phillip Law, Marisa Mell, Michel Piccoli, Adolfo Celi, Claudio Gora, Mario Donen, Renzo Palmer 105’ Aventura


Cotação:

Horror Hotel

O grande Christopher Lee é o carrancudo professor Allan Driscoll que impressiona alunos contando a história de Elizabeth Selwyn,
queimada pela Santa Inquisição 300 anos antes. A acusada teria se revelado culpada ao amaldiçoar entre as chamas o vilarejo Whitewood. Impressionadíssima com o que ouve, uma das garotas segue as recomendações do mestre para conhecer o local e assim aprofundar os estudos sobre religiões pagãs. Mórbido e curto, esbanjando demonismo, fantasmas e assombrações em geral, é inusitado pela violência explícita (pouco comum para a época) e a espantosa semelhança entre a estrutura do roteiro com Psicose de Alfred Hitchcock. Surpreende saber que ambos são do mesmo ano, o que faz descartar inspiração, plágio, etc. O próprio cenário, o hotel, uma das mocinhas é parecida com Janeth Leigh, e uma outra coisa importante, mas que não se deve dita. Quem viu algum deles deve imaginar o que seja! Não é uma produção espetacular, embora vá bem além das expectativas com sombras dando um clima desolador em alguns rituais de magia negra de aspecto clássico. No geral, é muito mais comprometido por vários pontos mal explicados do que pela falta de recursos financeiros. A tal bruxa reencarnada (ou só materializada?) torna-se a Senhora Newless, dona do hotel. Obviamente o nome é o mesmo apenas invertido, num recurso mais comum aos filmes de vampiro do que de bruxas.


Horror Hotel – Horror Hotel (The City of the Dead)

- Inglaterra 1960 De John Llewellyn Moxey Com Christopher Lee, Dennis Lotis, Patricia Jessel, Tom Naylor, Betta St. John, Venetia Stevenson, Valentine Dyall 78’ Horror


DVD - Tão obscuro quanto o filme é este DVD, que não contém nem o logo da distribuidora ao ser inicializado. Na contracapa há a indicação de que é da Fantasy Music, o que não significa realmente muita coisa. A imagem tem boa qualidade perto dos outros B comercializados de qualquer jeito no Brasil.

Cotação:

16 de outubro de 2008

Topkapi

A coisa mais engraçada desta comédia (pouco engraçada) é Melina Mercouri como a larapia ninfomaníaca suspirando pra qualquer mancebo desprevenido. Bem levezinho, pertence ao subgênero comum na época de grupo de ladrões metidos a espertos que têm plano mirabolante a colocar em prática, no caso, roubar valiosa jóia pertencente ao museu de Topkapi, na Turquia. Pesa contra, além do humor mediterrâneo ímpar, as infinitas seqüências onde se discute o tal plano. O elenco internacional passeia livremente por vários países em locações ensolaradas e belas, o que também exige a mínima localização geográfica de quem o assiste. Fora isso poderia ser uma comédia do Black Edwards sem o mesmo jogo de cintura, mas cheio do colorido espírito 60’s. Seus momentos finais são espetaculares minutos de suspense similares à famosa cena dirigida por Brian de Palma no primeiro Missão Impossível. Peter Ustinov fazendo o paspalho que entre pro bando sem saber ao certo do que se trata, acabou valendo-lhe o Oscar de Ator daquele ano. Nos extras de Spartacus ele aparece em entrevista recente contando sobre as incríveis coincidências envolvendo o número 13 que o fizeram ter certeza de que seria o premiado da noite embora não fosse o favorito.

Topkapi

- EUA 1964 De Jules Dassin Com Melina Mercouri, Peter Ustinov, Maximilian Schell, Robert Morley, Jess Hahn, Gilles Ségal, Akim Tamiroff 119’ Comédia


DVD - Edição boa da New Line Home Video, respeitando o estilo do filme nos menus animados e na arte da capa. Como extras, incluíram o trailer e biografias em texto incluindo o da atriz grega Mercouri, que se dedicaria à política em seu país de origem .

Cotação:

15 de outubro de 2008

Sin City – A Cidade do Pecado

Fosse uma história original, não uma adaptação de graphic novel, poderíamos apontar este noir moderno como um dos melhores filmes deste início de século. É uma pena que apenas sua técnica foi imitada em outras produções, não seu conceito artístico. Estilizado, usando a obra original praticamente como storyboard, à primeira vista é dramaticamente belíssimo,e tanta beleza merece (pelo menos) uma segunda assistida. Isso porque, pelo radicalismo é impossível não se notar o distanciamento dos atores do resto do cenário, dando impressão de que todos estão presos a uma mentira. Na revisão percebe-se que tal coisa parte apenas do ponto de vista do espectador. Assim como os contos criados por Frank Miller ficaram muito bem costurados, a escalação do elenco está irrepreensível. Ainda demonstra um notável amadurecimento narrativo de Robert Rodriguez, que pela primeira vez fez um filme pensando na platéia, não uma experiência tecnológica somente para satisfação própria. Se for necessário apontar alguma falha, dá pra chutar a metragem longa, ou a sensação causada pelo processo, que depois de uma hora parece que se passaram 3. Seguindo a lógica de triplicar, ao final pode-se aplaudir as seis horas de puro e vibrante entretenimento cinematográfico.

Sin City – A Cidade do Pecado – Sin City

- EUA 2005 De Robert Rodriguez e Frank Miller Com Bruce Williams, Mickey Rourke, Jessica Alba, Benicio Del Toro, Rosario Dawson, Alexis Bledel, Elijah Wood, Clive Owen 124’ Ação


DVD - Ao contrário de outros países, a Buena Vista só disponibilizou aqui um disco simples em lá maior. O vergonhoso único extra trata-se de pobre documentário que se tiver dez minutos é muito. Pena que na época da Columbia o próprio Rodriguez produzia os DVDs repletos de material bônus. Pelo menos tem menus animados, coisa que nem isso foi feito para a única cópia até agora de Pulp Fiction no Brasil.

Cotação:

14 de outubro de 2008

O Lobisomem de Londres

O ser mitológico mais incompreendido do cinema ainda está por ganhar um filme que preste. A Universal, em sua época áurea no gênero, fez o que pode já que por mais popular que seja, não há nenhum clássico da literatura a ser adaptado como Drácula ou Frankenstein. Optou-se curiosamente por uma trama que anteveria a febre das produções com cientistas loucos mutados da década de 50 e pinceladas de O Médico e o Monstro, estrondoso sucesso com John Barrymore em 1920. Cientista inglês é atacado por um lobisomem ao viajar ao oriente procurando uma rara flor que floresce apenas ao luar. A planta se revelará o único antídoto (paliativo) para a maldição. O resto seria de total banalidade, com o médico enfurnado em seu laboratório quando não está atacando mocinhas indefesas, se não houvesse um toque de brilhantismo, de extrema humanidade. Casado com uma linda jovem, e muito ocupado com descobertas científicas, vê sua relação ruir com a chegada de um ex namorado de infância da garota. A primeira transformação total vem justo num rompante de ciúmes, quando os velhos amigos saem pra passear e ele fica imaginando o que poderia estar acontecendo. Paralelamente há um homem suspeito de olho na tal flor que consegue florescer artificialmente em Londres. Outra peculiaridade são os muitos momentos cômicos, sinal de que a platéia da metade da década de 30 não era tão ingênua como se imagina ou o estúdio não confiava tanto assim neste monstro. Pode-se levar em conta também que o país estava saindo da aterradora crise causada pelo crash da bolsa de 29, uma das explicações para tanto sucesso das películas de horror alguns anos antes. A transformação da criatura (de aparência engraçada, quase fofa pra atualidade) merece algumas linhas porque nem sempre funciona, mas às vezes dá muito certo . Na primeira vez pode-se chamar de verdadeiro milagre técnico, conseguido facilmente apenas nos dias de hoje com o auxílio de computador: Editar uma seqüência feita com a câmera em movimento.

O Lobisomem de Londres – Werewolf of London

- EUA 1935 De Stuart Walker Com Henry Hull, Warner Oland, Valerie Hobson, Lester Matthews, Lawrence Grant, Spring Byington, Clark Williams 75’ Horror


DVD- Os direitos autorais são logicamente da Universal, mas a London (WorksDVD) comercializou em “sessões duplas” junto a outros do estúdio. Com imagem muito boa, incluíram A Mulher Fera de Londres, feito quase dez anos depois e os trailers de A Filha de Drácula, O Filho de Drácula e Drácula (de Bela Lugosi) também presentes nos respectivos filmes.

Cotação:

11 de outubro de 2008

King Kong Vs Godzilla

Foi o evento do ano sem dúvida! O confronto dos monstros gigantes mais famosos de todos os tempos e ainda por cima ambos pela primeira vez em cores. Como King Kong era bem mais popular no Japão do que o conterrâneo Godzilla, os personagens evidenciam uma torcida por ele, mas a gente acha os dois uma graça e torce para que nenhum saia muito ferido. Por incrível que pareça, a idéia deste crossover surgiu de um produtor americano que tendo seu projeto “King Kong Vs Frankenstein” recusado pelos estúdios de Hollywood foi bater na porta dos japoneses da Toho. Embora os créditos iniciais indiquem que o macaco está sob autorização da RKO, há substanciais mudanças com o que conhecemos no clássico de 31. A começar, lógico, pela troca do bonequinho em stop motion por um homem numa fantasia ridícula. A técnica é usada apenas nos closes, sendo que a figura original aparece nas fotos do departamento de divulgação enfrentando Godzilla em tosca montagem. Ele também não vivia mais na Ilha da Caveira, mas numa outra onde japoneses da raça negra dançam coreografias fáceis. É levado à civilização graças a um ambicioso e atrapalhado empresário do ramo farmacológico e pra não ficar tão em desvantagem com o lagartão que cospe fogo, King Kong fica super forte ao entrar em contato com a rede elétrica, ou levar raios na cabeça... Com carinhos de brinquedo, navios, etc. fingindo ser de verdade, e as sempre engraçadas cenas de multidões em pânico garantem a diversão. Lamentável que estes filmes só chegam até o ocidente com dublagem em inglês e a adição de atores americanos, mas em meio ao samba do criolo doido do roteiro, o que há pra reclamar? Talvez do broxante final do embate...

King Kong Vs Godzilla – Kingu Kongu tai Gojira

- Japão/EUA 1962 De Ishirô Honda Com Tadao Takashima, Kenji Sahara, Yu Fujiki, Ichirô Arishima, Jun Tazaki, Akihiko Hirata, Mie Hama, Akiko Wakabayashi, Akemi Negishi, Senshô Matsumoto, Senkichi Omura 91’ Ação


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10 de outubro de 2008

Que Fiz Eu Para Merecer Isto?

Só mesmo Almodóvar para querer nos fazer rir de tanta desgraça alheia e ainda triunfar! Carmen Maura é a coitada suburbana, ironicamente chamada de Glória, que engorda de forma miserável a renda doméstica à custa de faxina. Para levar a vida ainda furta um troco ou outro da carteira do marido, um taxista machão com o incrível dom de imitar caligrafias alheias. Talvez porque sua realidade seja tão dura, com os únicos escapes em calmantes e fungadas em produtos de limpeza tóxicos, que torcemos por ela como se fosse aquela vizinha ferrada na vida. Do mesmo jeito nos decepcionamos aos muitos erros que vai cometendo pelo caminho. É inacreditável quando deixa Miguel, o filho mais novo, nas mãos do dentista pedófilo e vai correndo comprar um baby lise... Mas tudo dá errado pra ela! Sua única tentativa de sexo extraconjugal é justamente com um policial impotente, ao contrário da vizinha, a prostituta simpática de Verónica Fourqué, tão bem sucedida que ambiciona carreira internacional. É o melhor do diretor (que aparece dublando La Bien Pagá) em sua primeira fase, tanto técnica quando artística, já bem à vontade com as mazelas da cultura pop madrilena. No meio do caminho, como em inúmeros de seus roteiros, há um crime, que parece não dar em nada além de ocupar tempo de projeção, assim como os falsários interessados em escrever as memórias de Hitler. Seu brilhantismo ofusca qualquer deslize.

Que Fiz Eu Para Merecer Isto? – ¿Qué he hecho yo para merecer esto!!

- Espanha 1984 De Pedro Almodóvar Com Carmen Maura, Luis Hostalot, Ryo Hiruma, Ángel de Andrés López, Chus Lampreave, Gonzalo Suárez, Verónica Forqué, Juan Martínez, Kiti Manver, Sonia Anabela Holimann, Cecilia Roth 101’ Comédia


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O Martírio de Joana D’arc

A feroz crítica Pauline Kael considerava a interpretação de Maria Falconetti talvez a melhor já capturada por uma câmera. O fato de ser o único trabalho da atriz no cinema amplifica esse caráter de película singular, obra máxima que nos compele ao tom reverente, sacro, guardando forças como um dos melhores de todos os tempos. A falta de som, responsável por envelhecer drasticamente tantos outros, torna-se um elemento a mais para deixá-lo poeticamente realista. Kael relembra em seu texto as palavras de Cocteu, para quem parecia o registro de uma época a qual o cinema não existia. Baseado nas minutas do inquérito, consegue ser fidelíssimo muito mais às emoções do que à história. Só nos minutos finais é que teremos extravagantes cenas de multidão, com ângulos fantasticamente modernos. Difícil de imaginar, como com o peso dos equipamentos daquele tempo conseguiam dar giros de 180º. Não se sabe se ficamos embasbacados com tudo o que vemos ou se choramos copiosamente pela tragédia que “segue” os desígnios de Deus. Sobram duvidas sobre a pobre Joana, que mal sabia a idade ao certo, ter continuado até seus últimos momentos ancorada na fé cristão-católica, seria sua ignorância um alívio à realidade? Pior, como uma religião que nunca hesitou em usar seu poder pelas vias do sangue sobrevive até os dias atuais, continuamente sacrificando vidas em prol de sua permanência no topo. Dreyer aliás, não abre mão do principal elemento ao qual a igreja de Paulo se firmou: O medo. Cada sacerdote é terrivelmente fotografado de baixo pra cima, dando-lhes contornos de vampiros góticos. Joana, complacente, é mostrada ao contrário. Seus grandes olhos cristalinos refletem sobre tudo a dor de toda a humanidade.

O Martírio de Joana D’arc – La Passion de Jeanne d'Arc

- França 1928 De Carl Theodor Dreyer Com Maria Falconetti, Eugene Silvain, André Berley, Maurice Schutz, Antonin Artaud, Michel Simon, Jean d'Yd, Louis Ravet 82’ Drama


DVD- A qualidade da imagem no disco distribuído pela Magnus Opus nos faz pensar se mesmo em 1928 as platéias viram tudo tão nítido. O filme teve várias mutilações com o passar do tempo, negativos queimados, etc. Esta versão foi a partir dos negativos muito bem conservados encontrados em um hospício na década de 80. Há bastante texto como extra e longa entrevista com a filha de Falconetti. Ela relembra por exemplo que quebrada, no início da Segunda Guerra, fugiu para a suíça, tentou entrar nos EUA e acabou na bancarrota total num cassino do Brasil. Morreu logo depois na Argentina.

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A Pantera Nua

Rossana Ghessa é a suburbana que sai em revista de mulher pelada enquanto sonha em encontrar um bom partido. Vê sua grande chance ao servir de “cala-boca” para um milionário gay não ser deserdado pelo pai. De forma confusa, aparece um malandro (Roberto Pirillo, em alta depois de aparecer na novela A Escrava Isaura) se dizendo fazendeiro e leva a belezoca no bico. Bobagem! O argumento explorado nas coxas, pra usar um termo que lhe cabe bem, é só desculpa para Ghessa tirar a diminuta roupa em 9 a cada dez cenas, e por incrível que pareça, por vontade própria já que é a produtora desta vídeo cassetada retrô. Constrange ainda obra de tão baixo calão conseguir ser co-produzido com verba pública via Embrafilme. Este tipo de apoio é a principal diferença entre as comédias cariocas e as da Boca do Lixo, frutos da iniciativa privada, e daí vem mais outra estranheza. Os personagens, em meio a um roteiro muito pobre, de diálogos idem, ficam soltando farpas ao cinema paulista, no sempre ridículo bairrismo entre Rio de Janeiro e São Paulo. Amadoristicamente dirigido, fotografado, escrito e interpretado, serve só pra rir da moda da época, além de dar vergonha alheia.

A Pantera Nua

- Brasil 1979 De Luiz de Miranda Corrêa Com Rossana Ghessa, Roberto Pirillo, Neuza Amaral, Heloísa Helena, Agnes Fontoura, Marcos Wainberg, Wagner Montes, 102’ Comédia


DVD- Todo e qualquer filme brasileiro é sempre um upa se achar em DVD, mas também, qual a lógica da CineMagia ter lançado isso com tantos outros mais interessantes ainda inéditos? Mesmo pornochanchadas que pelo menos divertem, continuam lendárias. Ao contrário da imagem, o áudio, principal obstáculo técnico do cinema nacional por muito tempo, está péssimo na maioria do tempo, o que justificaria a existência de legendas. Na contracapa o nome da atriz e política carioca Neuza Amaral está grafado como Nelsa Amaral.

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Mortos que Matam

Primeira versão do texto de Richard Matheson, que geraria outros dois filmes sendo o mais recente Eu Sou A Lenda com Will Smith, revela-se bem à frente de seu tempo. O IMDB, conta que o projeto original foi criado para a Hammer Films, mas como a censura inglesa o recusou, teve que ser filmado na Itália. Estrelado pelo grande Vincent Price, em silêncio por longos minutos, tem alguma violência explícita e um final nada feliz. Seus zumbis de hábitos noturnos atacam com fúria alguns anos antes dos de Romero no filme que mudaria o rumo do gênero horror para sempre. Aqui, também surgem por um inexplicável vírus, com as vítimas estranhamente cegas antes de se transformarem em mortos-vivos. Apenas um cientista incrédulo sobrevive, e por mais de três anos cria a rotina num cenário apocalíptico, tentando contato com outros possíveis sobreviventes, construindo réstias de alho protetoras e, claro, acabando com os mortos vivos enquanto é de dia. Durante um flashback conhecemos sua história, com a família adorável sendo destruída pela doença junto com a sociedade mundial. Qualquer informação a mais pode estragar as inúmeras surpresas do roteiro muito inventivo filmado com capricho. Mesmo quem viu a versão recente pode esperar um desenrolar diferente e camadas mais profundas do que se vê numa simples produção B. Price, como de costume, parece se divertir (literalmente) horrores enquanto trabalha.

Mortos que Matam – L´Ultimo uomo della terra (The Last Man on Earth)

- Itália 1964 De Ubaldo Ragona Com Vincent Price, Franca Bettoia, Emma Danieli, Giacomo RossiStuart, Umberto Raho, Christi Courtland, Antonio Corevi, Ettore Ribotta 86’ Horror


DVD- Com direitos autorais vencidos, pode ser baixado legalmente em sites que disponibilizam filmes nas mesmas condições. A Media Group o comercializou de forma bastante amadora, com a arte da capa muito feita, impressa em impressora caseira, visivelmente cortada com tesoura. O selo do disco está escrito Mortos que Matam e A Casa dos Maus Espíritos, num erro básico de atenção. Os extras são um monte de texto sem sentido algum, trailers feitos por eles de outros lançamentos e vários do diretor Willian Castle, sendo que ele não tem absolutamente nada a ver com o filme.

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8 de outubro de 2008

Pesadelo Mortal

O título medíocre em português esconde logo de cara um elemento importante do filme. Cigarette Burns, ou queimadura de cigarro, refere-se àquelas marcas redondas que aparecem no canto da imagem de um filme para o projetor saber que está na hora de trocar o rolo, e que acabam denunciando que algo de importante acontecerá. Antigamente eram visíveis até na TV, mas com a digitalização ficaram relativamente raras. Milionário cinéfilo (Udo Kier) contrata dono de cinema que só passa cults para que ele encontre uma produção européia lendária. Tal filme muito chocante, teria sido exibido apenas uma vez no começo da década de 70, e causado histeria coletiva na platéia ao ponto de todos terem se matado e colocado fogo na sala. A prova de que ele existiu é que o ricaço guarda na mansão um souvenir das filmagens, o anjo que teve as asas arrancadas diante da câmera. Este instigante e original argumento, serve para John Carpenter, cineaste irregular, encontrar o equilíbrio perfeito com bem dosada violência explícita. Com estrutura de velha história detetivesca, a busca do protagonista pela fita mais escabrosa de todas é um paralelo interessante à sede dos fãs do gênero horror por cada vez mais e mais. Feito para a TV na série Mestres do Terror, é de lamentar sua duração curta.

Pesadelo Mortal - John Carpenter's Cigarette Burns

- EUA 2005 De John Carpenter Com Norman Reedus, Udo Kier, Gary Hetherington, Christopher Britton, Zara Taylor, Chris Gauthier 59’ Horror


DVD- A Paris Filmes comercializa no Brasil alguns episódios da série Mestres do Terror separadamente, já que cada episódio conta uma história independente. No caso deste, vem com inúmeros trailers tanto dos outros trabalhos quanto de produtos da distribuidora. Vários documentários sem edição dos bastidores mostram o quanto a equipe canadense se sentiu honrada em trabalhar no projeto, e entrevistas curtas com elenco, roteiristas e o diretor. Carpenter, de ovos virados, dá um banho de grosseria com o péssimo repórter.

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Saló - 120 dias de Sodoma

O filme mais insultuoso e subversivo já feito em todos os tempos tem desconcertante artificialismo cênico. Espetáculo repulsivo quase insuportável de ser revisto, choca antes pela crueza das idéias que defende do que pelas imagens mostradas. Vai radicalmente na contramão do cinema que se acredita ser antes de tudo entretenimento, uma forma de escape. Pasolini, em seu último trabalho, sentia então, resquícios do fascismo na Itália, mas é inegável que ali está todo e qualquer país de qualquer época pseudo civilizada. Enquanto o povo nada literalmente na merda, os poderes vigentes, Estado e igreja, caiem na farra auto-afirmando sua duvidosa superioridade. A história (inspirada em Marquês de Sade) transcorre na década de 40 quando, com o fim de Mussolini, grupo de autoridades mantém grupo de adolescentes presos para a realização de todos os seus desejos, por mais porcos, cruéis e degradantes que possam ser. Se há rapazes armados mantendo a ordem sem a mínima reação humana, não faltam pequenos delatores entre as jovens “vítimas” (de origens humildes semelhantes) preparadas a apontar o próximo. Dividido em três partes, o Ciclo da Paixão, da Merda e do Sangue, faz pensar o último não ter fim, trazendo tal desgraça para o lado de cá da tela, embora as três putas velhas que narram histórias escabrosas tentem nos fazer acreditar que não passa de um conto de fadas tenebroso. Sem exageros, dá vontade de vomitar e inigualável mal estar social. Poderoso na construção de seu universo sistemático, não foi à toa ter sido proibido em muitos países e continuar inédito em DVD.

Saló - 120 dias de Sodoma - Salò o le 120 giornate di Sodoma

- Itália/França 1975 De Pier Paolo Pasolini Com Paolo Bonacelli, Giorgio Cataldi, Umberto Paolo Quintavalle, Aldo Valletti, Caterina Boratto, Elsa De Giorgi, Hélène Surgère, Sonia Saviange 116’ Drama


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3 de outubro de 2008

Lágrimas Amargas

Dramalhão tão cafona quanto irresistível sobre atriz de Hollywood decadente. Pela época dá pra apostar que foi produzido (com poucos recursos) no embalo de Crepúsculo dos Deuses, mas claro, sem um terço da acidez de Billy Wilder. Grande dama de Hollywood, Bette Davis parece estar deslocada contracenando com atores muito abaixo de seu talento, fotografada com granulação excessiva e inúmeras cenas em locação. Pelo menos no primeiro item tentaram disfarçar com a maioria de suas falas interpretadas diretamente para a câmera. Por muito tempo acreditou-se erroneamente que estava em situação difícil quando aceitou o papel tal e qual Gloria Swanson no de Wilder. Teoria facilmente descartada, já que dois anos antes tinha concorrido ao Oscar com A Malvada, feito repetido nesta fita quando chegou à histórica 10ª indicação. Falando na academia, Davis aparece com seu próprio troféu, ganho por Jezebel, na seqüência em que dirige bêbada pelas ruas preferidas dos ricos e famosos de Hollywood. Este momento de desespero, após cortar relações com seus familiares sanguessugas, ser ameaçada de despejo e praticamente perder a guarda da filha e mesmo assim agarrar seu Oscar e ir encher a cara merece estar em qualquer antologia do que de mais kitsch o cinema mostrou. O próprio filme tem várias outras que rivalizam com isto, como a grande diva vendendo calcinhas, ou péssima durante teste para um papel pequeno. E sobrevive a tudo! Seu talento, que lhe coloca no patamar de uma das maiores atrizes de todos os tempos, está evidente na emocionante festa dos ricaços, onde se vê em seus grandes olhos o quanto está deslocada em meio àquele luxo que não lhe diz mais respeito.

Lágrimas Amargas - The Star

- EUA 1952 De Stuart Heisler Com Bette Davis, Sterling Hayden, Natalie Wood, Warner Anderson, Minor Watson, June Travis, Barbara Lawrence, Fay Baker 102’ Drama


DVD- Não dá pra entender a lógica para “The Star” ter ganhado o título “Lágrimas Amargas” no Brasil, mas enfim... Ironicamente é distribuído agora pela Warner, “casa” original de Davis, mas já de relações cortadas quando o filme foi produzido de forma independente. O material bônus é o trailer espalhafatoso original e um documentário de 6 minutos com historiadores desmentindo que a personagem refletia a situação real da atriz. Aparece uma biógrafa apontando semelhanças bem maiores com a vida de Joan Crawford naquele momento, não por acaso, a arquiinimiga de Bette Davis.

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2 de outubro de 2008

Era Uma Vez no México

Como final de trilogia, é grandioso o bastante. Como filme, parece uma colcha de retalho de seqüências extravagantes para Robert Rodriguez exercitar seus malabarismos tecnológicos. É muito mais uma conquista técnica do diretor do que outra coisa. Atrapalha aquela pequena multidão em cena, cada qual querendo alguma coisa que só fará sentido lá pela segunda ou terceira vez que se assiste. Banderas, com a chapinha em dia, tem presença forte como o Mariachi protagonista, mas em meio a tanta gente teve seu personagem diluído. Esquisito é que o passado mostrado nos flasbacks não pertence ao filme anterior da saga, e os três têm pouquíssimo em comum, fora o personagem principal. Sua violência é cartoonesca o suficiente para não chocar ninguém, sendo que Johnny Deep, o agente do FBI pilantra, consegue perfeitamente virar o jogo e se tornar muito simpático aos nossos olhos, numa reviravolta exemplar de roteiro e atuação. Mesmo separado por mais de uma década do primeiro da série, aquele que teria custado apenas 7 mil dólares, tem muito mais a alma barata dele do que o seu sucessor, A Balada do Pistoleiro.

Era Uma Vez no México - Once Upon a Time in Mexico

- EUA 2003 De Robert Rodriguez Com Antonio Banderas, Salma Hayek, Johnny Depp, Mickey Rourke, Eva Mendes, Danny Trejo, Enrique Iglesias, Cheech Marin, Willem Dafoe 102’ Ação


DVD- Essencial para quem gosta de cinema, com Rodriguez explicando em horas de extras como fazer um filme barato parecer uma super produção. Assistir à película com seus comentários abre um novo universo, concretamente revelador. Entre os documentários, vemos a garagem onde produz, dissertando sobre o fim do negativo e até a receita passo a passo de Porco Pibil, o prato que se der certo faz o agente Depp matar o cozinheiro para que tal experiência seja única. Para quem tem DVD-Rom há ainda dois joguinhos simples em flash.

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1 de outubro de 2008

O Homem dos Olhos de Raio X

Cientista bonzinho (Ray Milland) cria colírio que o permite ver absolutamente tudo o que há no mundo sem barreiras. Ao resolver aplicar em si, acarreta uma série de incidentes, além de ficar inebriado com o poder. Esta estranha ficção científica tem a assinatura de Roger Corman, cientista louco como protagonista, fotografia de um bizarro “novo“ sistema com nome engraçado e mesmo assim é muito bom! Transcende o gosto de filmes B só porque são mal feitos ao ponto de involuntariamente causarem risos. Por uma merrequinha Corman colocou o ex-grande astro (oscarizado e tudo) pra trabalhar num roteiro bastante envolvente e divertido, imerso de aura 60’s. Consegue discutir filosoficamente o enxergar além, e os transtornos e delicias que isto acarreta, sem perder o bom humor literalmente de vista. A cena da festinha regada a iê-iê-iê, quando o doutor usa seus poderes para ver todo mundo peladão, é antológica. Há quem critique o tom moralista que a fita assume nos momentos finais, mas seu impacto é compensador.

O Homem dos Olhos de Raio X - X: The Man with the X-Ray Eyes

- EUA 1963 De Roger Corman Com Ray Milland, Diana Van der Vlis, Harold J. Stone, John Hoyt, Don Rickles 79’ Horror/Ficção Científica


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