17 de março de 2008

O Homem Que Sabia Demais (1956)

Filme de um profissional! Aliás, esta é a própria opinião de Hitchcok ao ser perguntado por Truffaut sobre as duas versões dirigidas por ele de O Homem Que Sabia Demais. A de 34 segundo o próprio, em lampejo de humildade, seria obra de um amador. A verdade é que em seu 44º filme, vindo de uma de suas raras comédias (O Terceiro Tiro/ The Trouble with Harry), tinha experimentando de tudo um pouco, sentia-se seguro o suficiente para entrar na (chamada pelos críticos de) “grande fase”. Há inúmeros elementos já explorados, e muitos outros que seriam reaproveitados em seus futuros filmes. Até a trilha sonora, discreta para explodir no fim, na grande cena da orquestra, dialoga com a de Vertigo, também composta por Bernard Hermann. E se Deus fosse um compositor de cinema, seu nome seria Bernard Hermann! O roteiro, com o casal em férias pelo Marrocos que acaba se envolvendo numa sinistra trama de espionagem é um primor em elaboração. Lapidado de forma tão envolvente que se engole, quase sem se notar, que está feito em cima de um Mac Guffin! Recurso (ou truque) criado pelo diretor com a ajuda do roteirista Charles Bennet que consiste simplesmente em disfarçar a pouca importância do que realmente move os vilões. No caso não se sabe ao certo o que realmente pretendem os espiões com o crime, qual a finalidade dos mirabolantes planos, etc. Nossa atenção estará voltada para o drama dos pais em desbaratinar o grupo sem a ajuda da policia a fim de terem seu gracioso filho são e salvo. O elenco é um achado a parte, como em muitos dele. Que me recorde, talvez o único deslize seja Jessie Royce Landis sendo a mãe de Cary Grant em Intriga internacional, mesmo com ambos tendo nascido no mesmo ano! Neste, Brenda De Banzie evidencia o desperdício que foi sua carreira em obras muito pequenas. Está fabulosa nas reviravoltas que sua personagem dá, de turista acima de qualquer suspeita, a ratazana a serviço do mal, até revelar embaixo de todo aquele gelo um coração maternal. E claro, Doris Day, até então mais uma cantora loirinha bonitinha tentando ser atriz, convencendo como uma sofredora mãe, passando o diabo para reaver seu rebento. O próprio diretor teria batido o pé para tê-la ali contra muitas opiniões. Talvez porque naquela época havia uma piada em Hollywood a respeito da atriz. Para se referir a coisas feitas, ou vistas muito antes, dizia-se que foi antes de Doris Day ser virgem, tamanha docilidade que sempre demonstrou em uma época marcada por loiras fatais como Marilyn Monroe. Uma espécie de “Do tempo do Onça” no Brasil. E nada melhor que uma atriz com tal rótulo para interpretar uma mãezinha, todas elas também eternamente puras!

O Homem Que Sabia Demais – The Man Who Knew Too Much

- EUA 1956 De Alfred Hitchcock Com James Stewart, Doris Day, Brenda De Banzie, Bernard Miles, Ralph Truman, Daniel Gélin, Christopher Olsen 120’ Suspense


DVD - Como muitos de Hitchcock, lançado e relançado! Esta coleção de capa padronizada cinza tem menus estáticos com o desconfortavelmente cômico tema do programa Alfred Hitchcok Apresenta destoando do filme. A galeria de arte mantém dois pôsteres da versão inglesa. Há dois trailers, um narrado por James Stewart para um dos vários relançamentos da obra do mestre, e o original de cinema. Nele o vilão principal foi redublado. Onde se ouvia que Jo McKenna iria cantar Whatever Will Be, Will Be (Que Sera, Sera), agora é “Miss Doris Day”. E claro, um documentário caprichado com muitas curiosidades sobre a película. Na contracapa diz que vem com um livreto contendo notas da produção, o que não é verdade.

Cotação:

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