30 de abril de 2008

Narciso Negro

É como uma história de casa mal assombrada com o desejo fazendo as vezes de alma penada. Grupo de freirinhas vão comandar um convento aonde o Judas perdeu as botas, ou melhor, numa antiga casa que já serviu de harém, em lugar remoto do Himalaia. Aos poucos, seja pelo estranhismo do local, seja pelo constante vento, ou por forças desconhecidas, todas colocarão em dúvida suas convicções religiosas e humanas. A absurda fotografia, Oscar mais do que merecido, perde-se ao se assistir na TV, mas nada que um esforço imaginativo não resolva! Extremamente climático, é um pouco lento demais, confiante nas paisagens arrasadoras e nas interpretações do ótimo elenco ao invés de coisas realmente acontecerem. Ganha ritmo e suspense nos últimos minutos. No elenco Deborah Kerr como a madre superiora Clodah está linda, linda, e Jean Simmons me enganou direitinho de que era uma nativa hindu. Sabu foi uma das primeiras estrelas do cinema ocidental de etnia diferente ao do anglo saxão, com nome em destaque nos créditos iniciais, já que havia estrelado a super produção O Livro da Selva em 42.

Narciso Negro – Black Narcissus

- Inglaterra 1947 De Michael Powell e Emeric Pressburger com Deborah Kerr, David Farrar, Sabu, Jean Simmons, Kathleen Byron, Flora Robson 100’ Drama


DVD - Particularmente não gosto de coleções em DVD, quando as distribuidoras padronizam capinhas. Essa ETC lançou de tudo um pouco apenas trocando a imagem da frente e o texto de trás. Narciso Negro vem com trailer original, biografias de Kerr e Simmons e galerias de imagens. Pra compensar o desleixo da embalagem, os menus internos são muito bem elaborados. Quem não for alfabetizado, ou tiver problemas de visão irá sofrer com a dublagem fundo de quintal do áudio em português.

Cotação:

29 de abril de 2008

A Casa dos 1000 Corpos

Excelente iniciação do roqueiro Rob Zombie atrás da câmera. Mas tão soterrado de referências a clássicos do horror que não é pra qualquer um sua apreciação. Há coisas óbvias que passaram batidas sob olhos que se auto-intitulam experts no gênero, como o figurino de um clássico da produtora japonesa Guinea Pig. Mas este é dos pecados o menor. Muito inventivo, esqueceu-se de qualquer direção de atores. Está cada um na sua, e a garotada principal não passa verdade alguma em momentos cruciais. A garota Jennifer Jostin, que mais sofre, parece pouco se importar aos horrores ao qual está submetida. Não se entrega numa ridícula falta de empenho. Não sabe brincar, não brinque! Se passando nos anos 70, a reconstituição de época se perde vergonhosamente no visual dos personagens. Talvez a única referência gritante seja a presença da sumida atriz Karen Black, ícone do período. De qualquer forma é um sopro de inventividade perto do que se faz nos EUA em terror. Mas a ousadia do roteiro em brincar com nossas expectativas é merecedor de nota. Quanto tudo parece se resolver descobre-se estar redondamente enganado. Isto junto à desfeita aos clichês hollywoodianos já seria suficiente para aplaudi-lo. E também para entender um projeto desta natureza, iniciado para num grande estúdio (a Universal), teve uma pré-produção catastrófica, indo parar na minúscula Lions Gate. O que também explicaria seus sobre saltos de narrativa. Lá pelos últimos 30 minutos não se entende, ou pouco importou, quem estava morrendo, com gente ensangüentada em imagens escuras.

A Casa dos 1000 Corpos – House of 1000 Corpses

- EUA 2003 De Rob Zombie com Sheri Moon Zombie, Sid Haig, Bill Moseley, Karen Black, Chris Hardwick, Erin Daniels, Jennifer Jostyn, Rainn Wilson, Dennis Fimple 89’ Horror


DVD - A Imagem Filmes é detestável! Consegue grandes títulos independentes para distribuí-los de forma nojenta em Fullscreen. Se o filme nos é vendido nesse formato deveria custar a metade, já que é exatamente esta proporção que nos é apresentada. Há muitos extras, todos (inclusive o trailer) legendados na nossa língua. Mas tudo é muito burocrático e sem vontade de fazer bem feito. Não há nada, por exemplo, sobre os famosos seriais killers americanos citados no filme. Mesmo a faixa em áudio com o diretor não revela nada muito importante. Parece esconder o jogo, limitando-se a dizer o que poderia ser ou porcamente descrever as cenas.

Cotação:

28 de abril de 2008

O Exorcista

Filha de estrela de cinema ausente começa a manifestar estranhas atitudes se dizendo ser o diabo. Filme batidíssimo desde o seu lançamento, retumbante sucesso, primeiro (e um dos poucos) gore a ser indicado a Oscars. Bebendo diretamente na fonte de O Bebê de Rosemary, usando o capeta como vilão, ajudou as produções com pretensões assustadoras a serem cada vez mais explícitas, tal e qual o cinema erótico do período. Livre das pressões de outrora e vivendo num tempo discutivelmente liberal para os americanos, arrastou multidões ao cinema gerando duas seqüências, um recente (e ridículo) preqüel e centenas de pessoas sugestionáveis se dizendo também tomadas por espíritos do mal. Visto hoje parece um tanto carnavalesco devido principalmente à super exploração da temática e o coisa-ruim ter se tornado alvo dos espertalhões das religiões evangélicas. Pra alguém se assustar terá que ser extremamente sensível. Não se pode deixar de valorizar seu pioneirismo. É provável que sem O Exorcista não houvesse, por exemplo, Evil Dead com seus pútridos adolescentes dando moradia ao tinhoso. Mas está velho e superado! E suas mais de duas horas causam não muito mais do que bocejos. Esta versão reeditada com 11 minutos a mais se mostra um oportunismo sem tamanho, porque se percebe que as tomadas extras não tinham sido deletadas por imposição do estúdio ou coisa que o valha, mas porque eram desnecessárias. Ela foi relançada com estardalhaço nos cinemas 90’s tendo o subtítulo “A Versão Que Você Nunca Viu”, com anúncios na TV e tudo. Mostravam como principal novidade a pequena Reagan descendo as escadas como se fosse uma aranha. No ponto da história em que acontece isso nem estava tão possuída assim pra fazer tal malabarismo.

O Exorcista – The Exorcist

- EUA 1973 De William Friedkin com Linda Blair, Ellen Burstyn, Max von Sydow, Lee J. Cobb, Jack MacGowran, Jason Miller, Reverend William O'Malley 132’ Horror


DVD - Como já disse, esta é a versão “Que Você Nunca Viu”, a alardeada edição com 11 minutos a mais. Na seção (mal feita) de capítulos há indicações onde os enxertos estariam. Tanto a faixa de comentários do diretor, como qualquer trailer presente não têm legendas em português. E o material de divulgação se resume a esta nova versão, não ao filme dos anos 70. Tudo muito broxante.

Cotação:

25 de abril de 2008

Cry-Baby

Nos anos 50, Baltimore estava divida em dois grupos: Os farrapos e os quadrados. Como uma espécie de Romeu e Julieta do exagero, este musical (gênero raro nos 80/começo dos 90) faz uma espécie de homenagem às películas B de delinqüentes juvenis, tão comuns nos cinemas populares americanos em décadas passadas. O primeiro filme de John Waters para um grande estúdio não poderia ter tido um resultado (de público e crítica) mais frio. Assinou contato com a Universal portando uma cláusula onde o limite mínimo de público seria 13 anos... 13 anos para quem já colocou um travesti gordo comendo fezes de cachorro é quase uma piada! Ainda por cima tinha Tracy Lords, logo depois do escândalo na indústria pornô, quando descobriram que a maior e insaciável pornô star tinha começado na carreira aos 14 aninhos. Algumas tesouradas dos produtores e o filme não só decepcionou os habituais fãs do cineasta, também o público médio munido de seus pudores contra o conhecido príncipe do lixo além da resistência a musicais. É divertido e inteligente, embora realmente muito mais leve do que se poderia esperar. Teve o mérito ainda de tirar Johnny Deep do limbo de galã apático, bônus da repentina fama como astro da série de TV Anjos da Lei. A primeira vez que ouvi falar de Cry-Baby (e Waters) foi justamente numa revista Capricho da minha irmã, numa foto do astro vestido a caráter ao lado de Tracy Lords. Nem sonhava que a inspiração para o visual do chorão era o trabalho do fotógrafo Bob Mizer, famoso por uma série de retratos com temática homo-erótica, relembrado no obscuro filme Carne Fresca. Um de seus modelos, Joe Dalessandro, aparece como fanático religioso em Cry Baby. Engraçado que na filmografia do diretor número um de Baltimore, este localiza-se entre Hairspray e Mamãe é de Morte, e ele é exatamente a medida destes dois: bonitinho, mas protagonizado por desajustados!

Cry-Baby – Cry-Baby

- EUA 1990 De John Waters com Johnny Depp, Amy Locane, Susan Tyrrell, Ricki Lake, Traci Lords, Polly Bergen, Joe Dallesandro, Mink Stole 85’ Comédia/Musical


DVD - O pouco que é muito! Em se tratando dos filmes de John Waters que sempre ganham versões podres, quase sempre em tela cheia, este merece o título de “Edição Especial” que ostenta! Olha que nem estou sendo bonzinho, porque os menus são estáticos e podres, mas a imagem foi preservada em widescreen e os (poucos) extras não poderiam ser melhores! O documentário “Veio de Baltimore” possui quase uma hora de duração, com cenas raras de bastidores, e depoimentos recentes de todo o elenco e técnicos. Entre muitas coisas relembram, por exemplo, do FBI perseguindo Traci Lords nos bastidores, e quando todos revelaram os motivos por já terem sido presos a fim dela não se sentir mal. Há cenas excluídas, incluindo uma que faria referência direta a Bob Mizer, o fotografo tarado, com Lords dentro de uma taça de champanhe, e outra com uma menina contorcionista, que só descobriu que a cena estava deletada quando foi assistir à pré-estréia! Coitadinha! A cereja do bolo fica por conta da faixa de comentários do diretor. Espetacular! Jamais se suspeitaria de qualquer significado pornográfico no fato do protagonista derramar uma lágrima quando vê a mocinha...

Cotação:

24 de abril de 2008

Touro Indomável

Demora quase meia hora pra este dramalhão ser palatável. Principalmente para quem não só entende bulhufas de boxe, como para quem ainda choca-se com tanta brutalidade. O temperamento hardcore do biografado Jake La Motta, estúpido e casca grossa, também não é uma das coisas mais agradáveis de querer se assistir. Mas o filme mostra-se tão visceral e autêntico que ao fim se aplaude, pelo menos porque com todo esse viés consegue impor-se pela beleza estética ímpar. Um trabalho essencialmente Artesanal, de notável carpintaria artística de todos os envolvidos. Sem um pingo de maniqueísmo, e uma narrativa linear muito simples, deixa este mito esportivo quase tão íntimo quanto qualquer vizinho grosseirão que todos nós se não temos, já tivemos! E é genial que Scorsese faz uso justo de um vizinho, que nunca se visualiza o rosto, pra dizer algumas verdades a La Motta. Esnobado em seu lançamento, virou clássico mais de vinte anos depois como cinema espetacular e, sobretudo como um dos mais crus retratos humanos fabricados em Hollywood. Há inúmeras referências bíblicas implícitas o tempo todo, o que pode servir de válvula de escape a tanta truculência, ou símbolo das infinitas possibilidades de se levar a vida.

Touro Indomável – Racing Bull

- EUA 1980 De Martin Scorsese com Robert De Niro, Joe Pesci, Cathy Moriarty, Frank Vincent, Nicholas Colasanto 124’ Drama


DVD - O “Edição de Colecionador” na capinha é um exagero. No primeiro disco além da película vem o trailer original. O mesmo trailer está presente no outro disco, junto a um curta jornalístico com Jake La Motta em ação, comparação entre o lutador da tela e o real e um making of. Destaque para um documentário com entrevistas recentes, dividido em algumas partes curtas, mostrando todos os envolvidos vivos, inclusive o biografado. Faltou ousadia para o merecedor status Cult da obra.

Cotação:

23 de abril de 2008

Calígula

19 No despertar do VHS, poucos filmes foram mais famosos que Calígula! Junto a Cristiane F., outra película mitológica, se aproveitou da ascensão do formato home vídeo para voltar a ser assunto de rodinhas curiosas, muito tempo depois da estréia nos cinemas. Com o frigir dos ovos desta nova era onde qualquer perversão está a um click do mouse pouco sobrou dele. Não há nenhuma sacanagem ali que não possa ser vista em mil e uma variações em qualquer site que o Google alcance. E pior, há um dramalhão histórico entre uma cena e outra que só causa bocejos... A propósito, se o seu interesse for exatamente esta parte, se prepare para incontáveis cenas de sexo explícito se esforçando pra chocar. Pelo menos não há engodo, nos créditos iniciais é bem claro que Tinto Brass fez um filme, e o produtor Bob Guccione (chefão da revista erótica Penthouse) depois de torcer o nariz o remontou como bem quis incluindo algumas cenas explícitas mais escrotas. Nota-se não só pelos closes genitais, felações a granel e ejaculações aqui e ali, mas porque estas seqüências possuem qualidade técnica bem inferior a todo o resto do filme. Fica-se imaginando atores como Peter O'Toole e Helen Mirren (que jamais aparecem nos momentos hardcore), que assinaram por um trabalho específico se vendo acidentalmente num projeto desta natureza...

Calígula – Calígola

- Itália/EUA 1979 De Tinto Brass/ Bob Guccione/ Giancarlo Lui com Malcolm McDowell, Teresa Ann Savoy, Guido Mannari, Peter O'Toole, John Gielgud, Helen Mirren, Mirella D'Angelo 155’ Drama/Pornô


DVD - Das inúmeras durações que há pelo mundo, a lançada no Brasil pela Europa Filmes é uma das mais longas. 155 minutos, um a menos que a inglesa e bem distante dos 210 do corte original. Pra nossa alegria, tem menus climáticos bem feitinhos e um documentário da época muito legal com quase uma hora de duração! Hilária a seriedade dos depoimentos e roupa das peladonas, tão fora de moda como o estilo “chefão mafioso” de Guccione de camisa aberta no peito cheio de correntes de ouro. Resgata preciosos depoimentos do elenco e do diretor de arte Danilo Donati, colaborador de Federico Fellini em Satyricon, assim como a ansiedade de público e jornalistas com todo o suspense em cima da produção antes da estréia. Só ele já vale a compra do disco!

Cotação:

21 de abril de 2008

Papai Noel Conquista os Marcianos

As honras de estar na lista dos piores de todos os tempos no IMB já dizem tudo! Seus erros (literais!!!) começam logo nos créditos iniciais ao som do empolgante canção “Hooray For Santy Claus”, lê-se "custume designer" ao invés de costume... Parece que estamos vendo uma terrível peça de fim de ano feita numa escola suburbana, ou o que aconteceria se o Chaves resolve-se num momento de insanidade produzir uma ficção científica! Um tropeço atrás do outro, dos figurinos confeccionados visivelmente com sucata às interpretações ridiculamente amadoras, nada se salva neste sui generis exemplo de incompetência cinematográfica. O Papai Noel em sua esfuziante alegria, cheia de “ho ho hos”, era pra ser bacana, mas dá pra bendizer sua ida a Marte! Chega a dar dó da pequena Pia Zadora, “ex quase pop star” nos 80, como a marciana mirim sempre com os olhinhos assustados. Trash total com o argumento, curiosamente, parecido ao de O Estranho Mundo de Jack. As crianças de Marte estão incrivelmente tristes porque apenas estudam e ficam assistindo programas da TV terrestre. Assim descobrem que está chegando o Natal. O rei daquele planeta não pensa duas vezes e vai até o pólo norte seqüestrar o bom velhinho sem imaginar as conseqüências catastróficas. Repare o zíper nas costas do urso polar que ataca a garotada... Num mundo justo, Papai Noel Conquista os Marcianos tiraria a coroa de pior filme já feito de Plan 9 From Outer Space.

Papai Noel Conquista os Marcianos – Santa Claus Conquers the Martians

- EUA 1964 De Nicholas Webster com John Call, Leonard Hicks, Vincent Beck, Pia Zadora, Leila Martin 81’ Ficção Científica


DVD - Caiu em domínio público. Pode ser facilmente achado em site de downloads do gênero, e foi lançado por inúmeras distribuidoras nos EUA. Aqui a Works de forma inteligente o distribuiu num mesmo disco com Os Adolescentes do Espaço. Ambos formam uma excelente sessão pra quem gosta de porcarias.

Cotação:

Cowboy Bebop: O Filme

Emaranhado de referências a Hollywood clássica, parece ter sido criado por uma mente perturbada de algum seguidor do Timothy Larry! Se não fosse lá pela meia hora final toda a história ficar absurdamente bizarra e confusa, seria uma obra prima não só da animação, mas do cinema como um todo. A apresentação dos personagens é de uma eficácia desconcertante. Há um assalto medíocre a uma destas bibocas que ficam abertas até tarde e vendem de macarrão instantâneo a pilhas alcalinas. Os ângulos são os mesmos de câmeras de segurança só que com resolução boa, até Spike adentrar no local mais blasé do que se espera de quem vá resolver o crime. Depois de alguma porrada, e com uma velha senhora de refém sob a mira de um revolver, ele deixa claro: “Se quiser atirar fique há vontade. A vida dela não me diz respeito! Sou um caçador de recompensas, não um herói!”. Pronto, o mundo também ficará aos cuidados deste anti-herói fumante que não se importa com o mundo. E precisaremos de ajuda graças às ameaças de um terrorista chamado Vincent (inspirado adivinha em quem?) envolvido com metafísica e nanotecnologia contando com o amparo de experientes hackers! Embalado por uma espetacular trilha sonora assinada por Yoko Kano, tão eclética e autêntica que se chega a duvidar que uma mesma pessoa a tenha criado!

Cowboy Bebop: O Filme – Kaubôi bibappu:Tengoku no tobira (Cowboy Bebop: The Movie)

- Japão, 2001 De Shinichirô Watanabe 116’ Ficção Científica/Animação


DVD - Depois do parto que foi seu lançamento nos cinemas, em momento Tim Maia (“Será que vem?”), a Columbia resolveu distribuí-lo diretamente em DVD. A versão dublada em português teria sido feita também de forma conturbada, mas as vozes antes ouvidas na exibição do canal Locomotion estão lá. Há alguns extras bem caretas e curtos, que não fazem jus ao espetáculo cinematográfico do filme.

Cotação:

19 de abril de 2008

Guerra dos Mundos (1953)

Competente primeira versão da obra de H. G. Wells para o cinema, e um retumbante sucesso. Aparentemente bem envelhecido, é de 1953, mas parece ser do inicio da década passada! Bancado por um grande estúdio (Paramount), possui inúmeros recursos que seriam amplamente imitados nas sucessivas cópias, imitações e ficções científicas B 50’s, como imagens de arquivo, que aqui ganham destaque por serem de cine jornais da segunda guerra e, portanto preto e branco e o resto da película em brilhante Tecnicolor. Essa pobreza franciscana acaba dando pontos a mais que a recente refilmagem assinada por Steven Spielberg. As naves alienígenas são uns caraminguados, em duas ou três cenas até nos permite ver os fiozinhos que a sustentam no ar. Mesmo quando o extraterrestre é visto, soltando um gritinho e saindo correngo tipo “bem lôca”, é condizente quando eles acabam sendo vítimas de vírus e bactérias. Aqueles da nova versão, hiper hi-tec, vieram dominar o planeta cheios de pompa e nem estudaram a existência de microorganismos? Interpretações mil à história, originalmente dramatizada no rádio por Orson Wells, pode representar o medo da ameaça comunista que vinha da Europa, e isto fica evidente com os raios avermelhados, ou o bucólico lugar onde as naves pousam pela primeira vez, cheio de gente pacata de espírito “american way” elevado. Mas também o mal que a TV, recém inaugurada em Londres, poderia trazer aos hábitos do novo mundo. A base militar marciana não deve ser na Inglaterra à toa, nem os olhos da sonda em RGB...

Guerra dos Mundos – The War of the Worlds

- EUA 1953 De Byron Haskin Com Gene Barry, Ann Robinson, Les Tremayne, Robert Cornthwaite, Lewis Martin, Houseley Stevenson Jr., Cedric Hardwicke 85’ Ficção Científica


DVD - Primeira das duas edições comercializadas pela Paramount no Brasil. Esta ao ser anunciado o remake, tem na capa até estampado “a primeira invasão!” só tem o trailer de cinema como extra. A imagem possui full frame, que seria as dimensões originais, e embora cristalina na maior parte do tempo, aparecem alguns riscos do negativo.

Cotação:

17 de abril de 2008

Como Agarrar Um Milionário

Três belezocas do mundo das passarelas mudam-se para Manhattan a fim de arrumarem maridos ricos. Ricos não. Podres de rico! O plano é bem simples, alugam um apartamento chiquérrimo mesmo sem terem como pagar, a primeira que casar com um bom partido ajuda as colegas. “Se queremos pegar um rato, é preciso armar uma ratoeira!” Nem tudo, claro, será tão simples assim nesta deliciosa comédia de erros, com diálogos engraçados e ninguém menos que Lauren Bacall, Betty Grable e Marilyn Monroe estreando o CinemaScope da Fox, o segundo filme no sistema. Mesmo com as curvas das atrizes, principalmente de Monroe (em relativo começo de carreira), suficientes para atrair multidões, Hollywood tentava com inovações tecnológicas reagir à TV, transformada em queridinha da classe média. Primeiro com produções em 3D, e a partir de 53 em CinemaScope. O 3D nunca funcionou direito, com seu efeito possível apenas com o uso dos incômodos óculos especiais a ponto da tagline e trailer evidenciarem que “óculos não serão necessários”. Logo na abertura vemos Alfred Newman e todos os 110 integrantes de sua orquestra demonstrando a nova capacidade da tela. Transbordando glamour 50’s, o elenco está engraçadamente à vontade com tema “caça dotes”, que, aliás, jamais saiu de moda. Dois diálogos brincam com as vidas pessoais/matrimoniais das estrelas: Quando o milionário diz que é muito velho para casar com Bacall e ela prontamente se declara adoradora de homens mais velhos, inclusive “aquele ator de African Queen”, se referindo a Humphrey Bogart, e Gable (enganada) teimando que o som que vem do rádio é do maestro Harry James e que o som de Harry James ela conhece muito bem. Ainda há a verdadeira passagem de faixa de “loira número 1” do estúdio entre Gable, que reinou na Fox durante os 40 para Monroe. Só faltava o papel de Bacall ser de Alice Faye, a representante platinada dos 30, para termos toda a corte.

Como Agarrar Um Milionário – How to Marry a Millionaire

- EUA 1953 De Jean Negulesco Com Marilyn Monroe, Lauren Bacall, Betty Grable, Rory Calhoun, William Powell , David Wayne, Cameron Mitchell 95’ Comédia/Romance


DVD - Segue dois padrões de coleções. Internamente, em menus e extras, a Coleção Diamont Collection, e a capinha é a horrorosa da Fox Classics. Há três trailers, o original americano (com texto vangloriando o CinemaScope), alemão e italiano. Legal um cine jornal com a premiere cheia de celebridades. Sem querer ser venenoso, note entre os casaizinhos apaixonados Debbie Reynolds e Eddy Fisher, e Rock Hudson acompanhado de um de seus “eternos amores” arranjados pelos departamentos de publicidade.

Cotação:

15 de abril de 2008

Carmilla – A Vampira de Karnstein

Os tempos eram outros, e a Hammer estava no vermelho. Não o vermelho do sangue que Drácula tanto degustou e que fez a fama do estúdio inglês, mas vermelho financeiro e era preciso modernizar seus monstros. Quem ainda iria ao cinema ver castelos góticos com tantos hippies gritando a chegada da nova-era? Uma condessa diabólica e sua família de vampiros que de tempos em tempos desperta parecia ser o motivo ideal para mostrar o antigo sexo frágil em busca dos seus desejos, de preferência, claro, usando esvoaçantes camisolas transparentes. Joseph Sheridan LeFanu lançou o romance Carmilla antes de Bram Stoker dar ao mundo Drácula e embora seja menos famoso que o sucessor traz o diferencial da protagonista feminina. De extremo erotismo lésbico, é um divisor de águas no estilo rococó da Hammer com violência mais explícita e farta exibição de seios femininos, sem perder a classe costumeira ao diretor Roy Baker. A produção de visível pobreza não compromete nem se reflete danosamente no desenrolar da história divertida fazendo bom uso da óbvia apologia ao cristianismo como todo filme de sugadores de sangue que se preze. O estúdio faria mais duas películas com Mircaela/Carmilla (Luxuria de Vampiros e As Filhas de Drácula), mas fora a personagem, não há relação entre eles, nem mesmo o elenco, portanto não tem lógica chamá-los de trilogia. Este alçou à categoria de estrela sua atriz principal, a polonesa Ingrid Pitt, considerada tão iconográfica para o horror quanto Christopher Lee ou Peter Cushing, só pra citar dois nomes da Terra da Rainha. Mas não é a única celebridade do elenco! Temos ainda a sexy Kate O’Mara, implorando tragicamente pra ser vampirizada depois de noites de amor com Pitt. Cult até o talo!

Carmilla – A Vampira de Karnstein – The Vampire Lovers

- Inglaterra 1970 De Roy Ward Baker Com Ingrid Pitt, George Cole, Kate O’Mara, Peter Cushing, Dawn Addams, Madeline Smith, John Forbes-Robertson 90’ Horror


DVD - Um dos primeiros a ser distribuído pela London Films (Works DVD) tem uma arte de capa bem bacaninha, mas parece não indicar a importância de seu conteúdo já que ainda o achamos ele até por cinco reais. Está com a imagem em tela cheia com problemas de brilho e contraste, bem diferente dos outros que lançaram da Hammer. Na contracapa diz que vem com o trailer do cinema, mas no menu principal está escrito que se trata de Drácula, Príncipe das Trevas. Ao se clicar, surpresa! É na verdade é o de Drácula no Mundo da Minissaia! Aliás, nunca comercializado em DVD.

Cotação:

13 de abril de 2008

Ed Wood

Normalmente biografias só são filmadas quando há uma superação de limites físicos, quando alguém morre por uma grande causa, enfim, retratam heróis, pessoas vencedoras. Isso faz com que esta biografia de Ed Wood Jr. seja mais estranha. O afamado pior de todos os diretores do mundo, dono de uma filmografia com bombas do gênero Glen ou Glenda, Plan 9 From Outer Space, A Noiva do Átomo ainda por cima tinha a péssima mania de usar calcinha e sutiã! Claro que seria um fracasso de público embora muito elogiado pela crítica e adoradores de cinema. É sobretudo a obra prima de Tim Burton, diretor igualmente esquisito, e que vive nos dias de hoje ganhando milhões com fetiches e bizarrias igualmente amante da sétima arte. Não nos mostra apenas ao auge, se é que aquela sucessão de fracassos pode ser considerada auge de alguma coisa, de Ed Wood, mas a paixão que move a vida de um homem não longe do medíocre. O descompasso entre capacidade e a ambição, produzido como se realmente fosse uma divertida produção ruim 50’s. E os envolvidos parecem ter abraçado o projeto com a mesma loucura. Interpretações fantásticas, como a de Martin Landau de Bela Lugosi, premiada com o Oscar daquele ano, fotografia preto e branco de contrastes fortes a trilha sonora que se dá ao luxo de usar Teremim, secular instrumento musical eletrônico ouvido naquele período à exaustão em ficções científicas. Junto a Crepúsculo dos Deuses e Cecil Bem Demente, é o melhor filme sobre cinema, celebridades e teimosia! Seu coração suportará estes chocantes fatos?

Ed Wood – Ed Wood

- EUA 1994 De Tim Burton Com Johnny Depp, Martin Landau, Sarah Jessica Parker, Patricia Arquette, Jeffrey Jones, Bill Murray, Lisa Marie, Juliet Landau, George 'The Animal' Steele 127’ Drama/Comédia


DVD - Além de resgatar a imagem original widescreen, há alguns extras simplesmente imprescindíveis não mencionados na contracapa! Mesmo não sendo a edição definitiva lançada lá fora. Dois documentários, por exemplo, estendem assuntos tratados no filme: travestismo (!!!) e o uso do teremim, verdadeiras aulas de psicologia e história musical. Cenas deletadas, making of, clip musical com Lisa Marie dançando de Vampira, etc. O destaque é a faixa em áudio com comentários do diretor, Martin Landau, roteiristas e produtores, que teria sido um dos motivos para o DVD em seu primeiro lançamento nos EUA ser recolhido tamanha franqueza nas declarações. Gravada com eles separadamente, mas com depoimentos costurados pela voz de Landau encarnando Bela Lugosi, temos o distanciamento necessário de quando o filme foi feito para todos revelarem muitas curiosidades. Os roteiristas lembram por exemplo quando fizeram O Pestinha, que originalmente seria uma comédia inteligente adulta e depois de tanto mexida virou uma comedinha infantil ruim explorada em continuações e série de TV. Sucesso de público os colocou artisticamente numa espécie de limbo, porque ninguém queria trabalhar com eles. E fazer um filme ruim não era a sua intenção, assim como Ed Wood.

Cotação:

12 de abril de 2008

O Fantasma

Corajosa mistura lusitana de drama e sexo explicito! E vem dessa coragem a delícia ou o martírio de tal produção. Seja por repulsa ou desejo, sacanagem escancarada em filme sério só serve pra atrapalhar a atenção na história. Mas a propósito, que história há pra ser assistida aqui? Lixeiro de Lisboa meio que vai se metamorfoseando em cachorro ao dar ouvidos ao seu tesão mais primário, e pronto! Só! E não tem realmente mais nada além disso, por uma hora e trinta minutos que parecem oito!!! Existe uma cena de sexo explícito oral entre dois homens e várias de nudez masculina frontal, o que pode ser uma excelente desculpa para o diretor nunca mais ter feito nada, pelo menos tão famoso quanto este O Fantasma. Na época em que saiu, foi exibido no Brasil numa mostra e causou certa barafunda na imprensa, hoje se sabe que mais pelas cenas ousadas do que por seus predicados artísticos. O valente estreante Ricardo Meneses, em cenas de sexo fortes com outros homens, também não voltou a trabalha na área, teria abandonado a carreira, segundo o IMDB, voltando a morar na zona rural com sua mãe. É uma oportunidade raríssima de se assistir a um filme português, que mesmo ao lado da Espanha, aparenta ter uma produção irrisória, ou que faça barulho o suficiente para a gente ouvir deste lado do oceano.

O Fantasma – O Fantasma

- Portugal 2000 De João Pedro Rodrigues Com Ricardo Meneses, Beatriz Torcato, André Barbosa, Eurico Vieira 90’ Drama


DVD - Os guias de VHS e DVD indicam que foi lançado em ambos os formatos, mas parece não ter tido uma distribuição a contento! Minha edição é Zona 2(Europa), e na contracapa vem com um selo de autenticidade parecendo aqueles que lacram maços de cigarro. Escrito “interdito o aluguer”... Há vários extras, como trailers de outras produções da tal Filmes da Rosa e o teste do ator principal, bem moleque, morando na cidade grande há pouco tempo, cheio de sonhos, o que entristece saber sua atual vida. Ainda cenas deletadas, o curta-metragem Parabéns, do mesmo diretor que também não é nada espetacular e uma faixa multimídia. Esta vem com muito material legal do tipo pôsteres em JPG de alta resolução, texto em .doc, etc. Durante o filme, o elenco fala muito rápido para nossa compreensão, então as legendas em português são um alívio em muitas momentos.

Cotação:

10 de abril de 2008

Drácula (1931)

Historicamente é um filme muito interessante. Em plena recessão pós crash da bolsa, quando boa parte dos americanos estava sem dinheiro e os estúdios idem, adaptar a peça baseada em um romance clássico parecia a solução ideal. O retumbante sucesso desta primeira tentativa é um capítulo à parte! Teria aquela gente, mal tendo o que comer, se identificado com temas tão sombrios? Como cinema há muitos senãos. A primeira versão do Conde usando o título Drácula, por exemplo, é acanhada, o que pode refletir as dúvidas da Universal, em plena crise investindo num gênero nunca levado a sério, e Tod Browning praticamente iniciante na direção de uma película sonora. Extremamente careta, poucas vezes há movimentos de câmera, não há trilha sonora exceto O Lago do Cisne na abertura, que o estúdio reutilizaria em alguns outros desta safra de horror, e as interpretações beiram o forçado típico da era muda. Há deslizes ridículos, como deixarem numa cena importante, quando Drácula atacará Mina, aparecer um papelão preso com pregadores a fim de rebater a luz de um abajur. Mas mesmo assim deu certo! Gerou continuações e muitas cópias. Também marcou a caracterização do personagem (um dos mais filmados) para a posteridade. É o filme do Bela Lugosi e ponto! Este é mais um dos motivos para ser visto e revisto como forma de análise, embora seja mais uma produção velha do que clássica. Algumas curiosidades, é que sua fidelidade ao romance é resumida porque se aproveitou do roteiro teatral, bastante econômico, e não diretamente do livro de Bram Stocker. Mesmo com Lugosi interpretando o aristocrata romeno nos palcos, a primeira opção para o papel seria Lon Chaney, famoso ator das primeiras tentativas de Hollywood causar medo. Mas ele morreu pouco antes da produção ter inicio. Ironicamente, seu filho Lon Chaney Jr. estrela o terceiro da série, O Filho do Drácula. Bela Lugosi canastrão, mas emblematicamente soturno teve um fim triste como todos sabemos, na miséria, viciado em álcool e morfina. Mas não foi o único do elenco! Dwight Frye que faz o Renfield não durou nem dez anos depois disto, padecendo do mesmo vicio. Helen Chandler, a bonitinha que faz a Mina foi outra a ter carreira curta, dizem também por problemas com o álcool. Passou muitos dos seus últimos anos internada em manicômios, recurso da época para tratar dependentes.

Drácula – Dracula

- EUA 1931 De Tod Browning Com Bela Lugosi, Helen Chandler, David Manners, Dwight Frye, Edward Van Sloan, Herbert Bunston, Frances Dade 74’ Horror


DVD - Vem um DVD de brinde! Brinde mesmo, porque nem há nada a respeito na contracapa. “Stephen Sommers e os Monstros Clássicos da Universal Pictures” tenta mostrar o que o diretor de Van Helsing sabe sobre o assunto. Assim como o filme, descobre-se que nada! Pura futilidade! No do Drácula tem galeria de fotos e material promocional, trailer original, e a possibilidade de se assistir finalmente com trilha sonora, composta por Phillip Glass. Há ainda um documentário bem longo apresentado pela até então única sobrevivente do cast, a sobrinha do presidente do estúdio e uma ótima faixa de áudio com um historiador.

Cotação:

9 de abril de 2008

A Casa de Cera

Uma turba enfurecida de cinéfilos, munida de tochas em punho, queimou este antes mesmo da estréia. Basicamente por dois motivos: Primeiro porque o “original” de 1953, estrelado por Vincent Price, é muito querido, e esta refilmagem (ou reimaginação) não passaria de oportunismo barato após o sucesso da nova versão de O Massacre da Serra Elétrica. Segundo, tem a milionária Paris Hilton no elenco, inclusive houve camisetas promocionais com a frase “Veja Paris Hilton Morrer”. Bobagem! O dos 50 não é lá essas coisas também, e já se tratava de uma refilmagem, com bastante liberdade narrativa, diga-se de passagem, e depois que mal há uma celebridade trash dos dias de hoje em pouco menos de vinte minutos em cena? É levar a sério demais um filme que não se leva! É só mais uma película de adolescentes correndo de maníacos com a sempre previsível reviravolta final para outros adolescentes entre 13 e 16 anos fazerem algazarra nas salas de cinema. Pra gente, com todos os 32 dentes no lugar, um divertimento rasteiro, inofensivo, muitas (e muitas vezes!) óbvio, mas indolor. Cumpre bonitinho seu papel de divertir, e em se tratando do produto que é já tá valendo! E por falar em Hilton, mesmo com minguados minutos (e texto!), sua morte é especial e crudelíssima. Daqui a uns 15 anos, adoradores de lixo pop dos 2000 cultuarão A Casa de Cera muito provavelmente por esta seqüência! Há outras bem bacanas como a final, grandiosa e polêmica pela falta de veracidade. Mas também é não saber se divertir...

A Casa de Cera – House of Wax

- EUA 2005 De Jaume Collet Serra Com Elisha Cuthbert, Chad Michael Murray, Brian Van Holt, Paris Hilton, Jared Padalecki, Damon Herriman, Thomas Adamson 113’ Horror


DVD - Como foi mal das pernas na bilheteria e pertence a um grande estúdio (a Warner), não houve edição de luxo nem nada. Mas há alguns bônus legais do tipo o elenco comentando algumas cenas, making of, erros de gravação, etc. Terríveis estas frases apregoadas a críticos sei lá de onde sempre dizendo se tratar de um filme “imperdível”.

Cotação:

A Noite do Desejo

De cara parece uma versão pornochanchada de Noite Vazia, ou mais com jovens boa praça em busca de prazeres fugazes na noite, como o cinema brasileiro produziu às toneladas. Lentamente as cartas vão sendo mostradas com uma sensibilidade acima do que normalmente vinha da boca-do-lixo. Dois pés rapados juntam dinheirinho para cair na gandaia do centrão de São Paulo onde se envolverão com prostitutas e pederastia de uma forma bastante intensa e reflexiva. Para resolver o desfalque de algumas seqüências, retiradas por problemas com a censura, criou-se uma trama paralela, com um pacato cidadão indo resgatar sua amada da capital aonde vive de trottoir. Sua intenção é clara, quer fazê-la recordar dos bons valores familiares do interior. Em apenas uma pequena seqüência os personagens se cruzam, uma ousadia, não de sexo, mas de narrativa. Ousada também a edição, assinada pelo diretor e (pasme!) Inácio Araújo, um dos melhores críticos de cinema em nossa língua. Todo o filme é entrecortado por momentos nem sempre claros de espaço, tempo e personagens. Desde os créditos iniciais, por exemplo, vê-se a polícia em diligência, mas não se sabe para qual das sub tramas se dirigirá em crescente tensão até o sanguinolento final, de fazer Tarantino babar, com a mesma cena mostrada de inúmeros ângulos. Mais? Pelo ano em que foi feito, mesmo com tantas qualidades cinematográficas, ainda tem de bônus todo o aspecto visual 70’s, com as mocinhas de peruca e cílios postiços chamando os machos de “benzinho”, trilha sonora com alguns tangos, música progressiva e efeitos sonoros bizarros... Vencedor de alguns prêmios quando finalmente pode ser lançado de forma satisfatória em 81, permanece com espantoso vigor.

A Noite do Desejo – A Noite do Desejo

- Brasil 1973 De Fauzi Mansur Com Ney Latorraca, Marlene França, Ewerton
de Castro, Francisco Curcio, Roberto Bolant, Selma Egrei, Betina Viany, Carlos Bucka 113’ Drama


DVD - Sei lá o que falar deste disco, porque filmes brasileiros desta época são tão raros que a sua existência já é um bônus... Não há nada de extras além de uma galeria com screenshots no menu único que tem mais dois botões. O primeiro escrito “filme” e outro com “capítulos”. A imagem em tela cheia está relativamente boa, á vezes com alguns arranhões.

Cotação:

8 de abril de 2008

Prelúdio Para Matar

Argento se despedia dos giallos simplesmente com uma obra prima. De estética gráfica fabulosa, manteve o mesmo empenho na maquiavélica trama de violentos assassinatos. Há várias pistas, algumas reais, outras apenas para nos ludibriar, mas sempre coerente. Não é daqueles filmes onde no fim descobre-se o culpado, sendo que isso tanto fazia, poderia ser o leiteiro assim como a freirinha histérica... Inclusive, e isto é realmente uma ousadia, é possível vislumbrar a face do criminoso logo na primeira morte. Portanto, olho vivo! A trilha sonora psicodélica e doce da banda Goblin contrasta tenebrosamente com todo aquele sangue vermelho fosforesceste, e é também digna de se ter na coleção. Ao testemunhar crime brutal de uma parapsicóloga, pianista inglês vê-se envolvido com serial killer que pode ser qualquer um à sua volta. Como os policiais são uns bananas, arregaça as mangas e vai ele mesmo tentar desvendar porque e quem estará por traz de tanta brutalidade ao som de uma cantiga de ninar. Seguindo à risca o estilo dos livros policiais vendidos a preços populares na Itália, e que por terem capas amarelas ganharam o apelido de giallo, Argento demonstra um controle técnico beirando o doentio, seja visualmente quanto no roteiro. O diretor, merecedor do título de mestre, toca em vários assuntos que usaria em seus próximos trabalhos, como os poderes telepáticos dos insetos, e a sobrenaturalidade, tema de todas as suas películas a partir de Suspiria. Nada está ali à toa e por mais elaborado não deixa de ser extremamente popular. Assim como os melhores de Hitchcock que, aliás, teria dito brincando com as comparações, após assistir Prelúdio Para Matar: “Este jovem italiano está começando a me preocupar”.

Prelúdio Para Matar – Profondo Rosso/Deep Reed

- Itália 1975 De Dario Argento Com David Hemmings, Daria Nicolodi, Gabriele Lavia, Clara Calamai, Macha Méril, Giuliana Calandra 126’ Suspense/Policial


DVD - Versão estendida com duas horas e tralalá, widescreen, de fazer até a polêmica edição norte-americana ficar verde de inveja! Mas nem tudo são flores! Ele lamentavelmente tem um defeito grave com o áudio que fica oscilando entre italiano e inglês, sendo que quando está em italiano não há legendas! Isso por muito tempo a ponto de irritar... Claro, que com um pouco de boa vontade se consegue entender, mas é uma pena mesmo assim.

Cotação:

7 de abril de 2008

Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América

Mezzo documentário, mezzo ficção, tem sabor de pilhéria infantil esta comédia de grande sucesso. O mais estranho é que ninguém mencionou tratar-se de quase plágio de outro filme meio desconhecido, mas que chegou a passar nos cinemas brasileiros. Caro Diário, do italiano Nanni Moretti misturava tal e qual documentário com ficção cômica em 1993. A semelhança mais gritante é que a espinha do roteiro consistia na vontade de encontrar sua estrela favorita, no caso a atriz de Flashdance Jennifer Beals. Para Borat foi Pamela Anderson, igualmente diva trash. De resultado duvidoso, arranca certas gargalhadas, claro, mas a preço bem alto. Faz parte daquela nova categoria de humor, tão presente na internet e TV atual, que consiste na cafajestada de colocar terceiros em situações constrangedoras. É ainda um filhote de Bruxa de Blair com Jackass Cara de Pau, e está nesta mistureba de realidade e mentirinha outro desconforto. Há alguém neste planeta que mesmo como espectador goste de ser enganado?


Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América – Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan

- EUA 2006 De Larry Charles Com Sacha Baron Cohen, Ken Davitian, Luenell, Pamela Anderson 85’ Comédia


DVD - A versão para locação não traz extras como a para venda direta que tem cenas inéditas. Há um easter egg no menu de escolha de legendas bem engraçado. Mas o ponto forte é que todo o material finge se tratar de um DVD-R caseiro dos mais toscos, seguindo a linha do site oficial. Muito legal.

Cotação:

6 de abril de 2008

Drácula – O Demônio das Trevas

Se não fosse a costumeira confusão entre Mina e Lucy, este seria um Drácula tão fiel ao romance de Bram Stoker quanto o de Francis Ford Coppola. Dizem, aliás, que é o primeiro a usar o lance do amor de outras vidas, não presente no livro, assim como a forte associação com o príncipe histórico Vlad Tepes. Ambas as inovações aparecem na produção de 92 e são os principais motivos de críticas negativas a ele. É estranho que mesmo tão fiel comeu algumas frases clássicas, do tipo “crianças da noite! Que doce música elas fazem.”. Por ser uma produção para a TV inglesa, que posteriormente foi exibida nos cinemas (inclusive no Brasil), peca pela fotografia escachada, quase luz de padaria. Isso, junto à direção de arte pobre, deixa o castelo do conde parecendo casa de tia velha, toda limpinha, iluminada, cheia de bibelôs... O que definitivamente compromete o clima de horror. Outro exemplo de falta de recursos financeiros são alguns cachorros da raça pastor alemão (!!!) tentando se passar por lobos. Aparecem alegres, balançando o rabinho, e os atores apavorados! Descontando a cara de índio cherokee do Jack Palance vê-se que está bem no papel, já que sua canastrice combina com um personagem tão poderoso quanto prepotente, e ainda caprichou no sotaque romeno. Tanto ele quanto todo o filme ficam a milhas do glamour sombrio dado por Christopher Lee e a Hammer, mas longe (desculpe o trocadilho!) do diabo trash que pintavam os antigos guias de VHS.

Drácula – O Demônio das Trevas – Dracula

- Inglaterra 1973 De Dan Curtis Com Jack Palance, Simon Ward, Nigel Davenport, Pamela Brown, Fiona Lewis, Murray Brown 100’ Horror


DVD - Não há nada além do filme, mas está com relativa boa qualidade de copiagem. O fullscreen se explica por ter sido originalmente produzido para a TV, ou seja, nãos e perde nada da imagem. Há uma hilária dublagem em espanhol, além do áudio original em inglês.

Cotação:

5 de abril de 2008

Chega de Saudade

E que calafrio se deparar com o logo da Globo Filmes logo no inicio... Dá a sensação de ter caído em um conto do vigário, ou fazer parte da grande massa Dãããã que fez bobagens como “Se Eu Fosse Você” ser um estrondo de bilheteria. Mas é bacaninha, bacaninha... Também é aliviante ver às vezes um filme brasileiro que não trate de gente levando pipoco em favela carioca, né? Eu hein! E que atores estupidamente fantásticos há no Brasil! Deus amado! O elenco (fora o sempre apático Paulo Vilhena, começando a ficar calvo no cocuruto. Sorry, mas eu vi!) é formado por alguns dos melhores, já consagrados em outras épocas, mas que agora estranhamente o cinema nunca aproveita. Eu lá imaginava que a jurada de calouros e ex-vedete Marly Marley soubesse interpretar tão bem? Isso porque na filmografia da senhora só tem filme do Mazaroppi. Dá dózinho de saber que alguém como Betty Faria paga as contas em porcarias como aquela telenovela da Globo... Se americana fosse, estaria linda e diva colhendo os louros de uma grande carreira cinematográfica! E Cássia Kiss é o Paulo César Pereio de saias! Sempre boa, vivendo o mesmo personagem... A diretora Bodanzky deu alguns passinhos além de Bicho de Sete Cabeças, embora, talvez pra conquistar o povão acostumado a ver TV, faz um trabalho bem careta, cheio de closes pra cá e pra lá. Chega a cansar. Mesmo na hora das danças, quase só se vê pés, mãos, e cabeça... Filmado em locações tradicionais e legais de São Paulo não explora devidamente os cenários. Também perdeu a chance de ser menos contemplativa aos personagens, o que daria um retrato menos plastificado dos bailes da terceira idade e ainda agilidade ao todo. Pode não ser uma obra prima, aliás, tá longe de ser, mas é um bom filme, sensível, cuidadosamente interpretado e produzido. Vale o ingresso e os aplausos ao elenco.

Chega de Saudade – Chega de Saudade

- Brasil 2007 De Laís Bodanzky Com Leonardo Villar, Tônia Carrero, Cássia Kiss, Betty Faria, Stepan Nercessian, Elza Soares, Clarisse Abujamra, Marly Marley 95’ Drama


*** Em cartaz ***

Cotação:

4 de abril de 2008

A Casa dos Maus Espíritos

Imagina que o dono de um parque de diversões vagabundo, daqueles com trem fantasma e tudo, resolvesse fazer um filme baseado em Ágata Christie tendo como cenário uma casa mal assombrada. Umas das primeiras produções dirigidas por William Castle foi enorme sucesso em sua época. É tão divertidamente exagerado que seus incontáveis furos de roteiro são superados. Um verdadeiro (e imperdível) clássico do gênero, com momentos impagáveis de ingenuidade 50’s. Milionário excêntrico, do tipo que Vincent Price se tornou mestre em interpretar, faz uma festa em sua mansão misteriosa. Cinco convidados, escolhidos a dedo, deverão passar a noite lá. Quem sobreviver será agraciado com 10 mil dólares! As coisas não serão tão fáceis assim. Com as portas trancadas, luz e telefone desligados à meia noite, há no passado do lugar nada menos que sete assassinatos, que junto a vários elementos pretensamente pavorosos, testarão os nervos de todos. As platéias do diretor passavam literalmente o diabo no cinema. Dessa vez a invenção criativa foi o Emergo, sistema que fazia um esqueleto sobrevoar a sala de projeção em momento específico, dando ainda mais graça ao qüiproquó assistido na tela. Fizeram na década de 90 um remake chamado A Casa da Colina, mas de resultados obviamente bem menos charmosos.

A Casa dos Maus Espíritos – House on Haunted Hill

- EUA 1958 De William Castle Com Vincent Price, Carol Ohmart, Richard Long, Alan Marshal, Carolyn Craig, Elisha Cook Jr., Julie Mitchum, Howard Hoffman, Leona Anderson 75’ Suspense/Horror


DVD - A versão lançada pela Works DVD está com a imagem cristalina, widescreen, áudio 2.0, o que lhe garante ser item imprescindível na coleção de amantes do cinema. Há um trailer original bem engraçado devidamente legendado e as biografias de Castle e Price em texto.

Cotação:

3 de abril de 2008

Psicose

Silvio de Abreu, diretor do mais hitchcockiano filme brasileiro, o subestimado Mulher Objeto, já declarou inúmeras vezes que para seu trabalho de novelista é imprescindível ser contratado da TV Globo. Suas criações necessariamente carecem de todo aquele aparato técnico e financeiro. Hitchcock, ao contrário, tentou com Psicose provar que precisava de muito pouco para fazer um grande trabalho. Baseado no livro de Robert Bloch, sobre um escabroso caso real, usou a mesma equipe de seu programa de televisão Alfred Hitchcock Apresenta, meia dúzia de cenários e apenas uma estrela, com o resto do elenco desconhecido, ou vindo da TV. Inclusive Vera Miles que fez carreira no veículo, depois de recusar o papel feminino principal em Um Corpo Que Cai (Vertigo) porque engravidou. E isto o gorducho diretor a jogou na cara pro resto de seus dias! Também como contenção de gastos o rodou em preto e branco, evitando o dispendioso sistema Technicolor. Como marketing era tão seu forte quanto suspense, divulgou-se que tal recurso foi para não chocar a platéia com o vermelho do sangue, e é esta versão repetida à exaustão até os dias atuais. Dessa pequinesa toda saiu nada menos que a película que revolucionaria o cinema do medo. Tão espetacularmente orquestrado que influenciou não só os novos rumos do gênero, mas carreiras, e a forma de Hollywood (em pleno declino) encarar suas produções. Tão famoso desde sua estréia, que mesmo com spoliers divulgados aos quatro cantos, ainda é um espetáculo notável. De comercial de pastilhas pra garganta a programas humorísticos, não há quem nunca viu um homem louco vestido de mulher empunhando uma faca ao som de “Qüin, qüin, qüin!”. Mas há uma na riqueza de detalhes, a ser observada, dando suporte às reviravoltas propostas pelo roteiro. Até nos cenários, sempre com objetos que refletem os personagens, ou no lingerie da mocinha Marion Crane. No inicio, quando é apenas uma garota indecisa com seu futuro aparece com peças íntimas brancas, ao fazer a mala e resolver ficar com o dinheiro de seu patrão usa de cor preta. Quando já no hotel Bates decide retornar e devolver a grana, escolhe branco antes de entrar no chuveiro. Água, claro, bíblico símbolo de purificação. Depois de tanto tempo, tornou-se sim bem batido, mas o que a simples genialidade tem a ver com isso?

Psicose – Psycho

- EUA 1960 De Alfred Hitchcock Com Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, John McIntire, Martin Balsam, Patricia Hitchcock, Mort Mills 109’ Suspense


DVD - Sacanagem da grossa, deve ser o terceiro lançamento do mesmo filme, com pouquíssima diferença entre as edições. Primeiro apareceu sem extra algum, depois com uma porrada em menu tosco e sem nenhuma legenda. Este relançaram o mesmo sem legendas acrescido de mais um disco, chamado “O Legado de Alfred Hitchcock”. Ele contém apenas 2 especiais. O primeiro é a entrega de um prêmio do American Film Institute ao diretor com discurso de muitos dos atores fetiches. Chega a emocionar James Stwart, Ingrid Bergman, Cary Grant, todos com idade avançada relembrando o que era trabalhar em seus filmes. Ele na platéia muuuuuuito velhinho, acompanhado da esposa Alma, ainda com aquela centelha de humor que o faz ser reconhecido como gênio. O outro especial é uma entrevista de Hitchcock a dois apresentadores de TV, sendo que a mulher parece estar absurdamente deslocada. Tanto o prêmio, quando as entrevistas não possuem mais do que 15 minutos cada, o que nos faz estranhar a lógica do segundo disco.

Cotação:

2 de abril de 2008

Onda Nova

O cinema feito por José Antonio Garcia e Ícaro Martins nos 80 está para a cidade de São Paulo como o de Woody Allen está para Manhattan! Apaixonadamente bairrista, mostrando cenários pouco vistos na tela grande. Onda Nova, é uma grande farra, começa com Camurati e Muttarelli pixando lençóis estendidos no parque Ibirapuera. Recurso amador para se mostrar créditos, mas eficiente como demonstração do espetáculo que teremos. É a segunda parte de uma espécie de trilogia do sexo jovem assinada pelos diretores naquela época (completa com O Olho Mágico do Amor e A Estrela Nua), e infelizmente a mais fraca, com o argumento simples e por vezes difícil de ser acompanhado. Há um fiapo de trama: Garotas moderninhas montam um time de futebol, o Gayvotas Futebol Clube, e a partir daí teremos suas desventuras pessoais quase sempre envolvendo a sexualidade. Algumas cenas de sexo (hetero, gay, lésbico) esbarram no sexo explicito não raro gratuito. Até o jogador Casagrande tem seu momento hot. Não se faz de rogado quando uma tiete pede com a finesse peculiar às produções da boca-do-lixo, que ele lhe “descabaçasse”. Mas legal mesmo é que como tudo excessivamente moderno hoje fica hilário amanhã, tornou-se um exagerado raio-x do seu tempo. Onda Nova não é a tradução de New Wave afinal? De sapatões com corte de cabelo repicado tipo Simone, sonatinha tocando Rita Lee à sempre desnecessária participação de Caetano Veloso, aqui mais freak do que de costume. Patricio Bisso brilhante poderia ter sua Olga Del Voga explorada em mais filmes brasileiros. Teríamos nossa própria Divine, só que made in Argentina, né?

Onda Nova – Onda Nova

- Brasil 1983 De José Antonio Garcia e Ícaro Martins Com Carla Camurati, Cristina Mutarelli, Cida Moreira, Vera Zimmerman, Tânia Alves, Patricio Bisso, Regina Casé, Ênio Gonçalves, Dartagnan Júnior 98’ Comédia


DVD - A Cinemagia presta um verdadeiro serviço ao cinema do Brasil lançando produções de pouco sucesso comercial, nem sempre devidamente reconhecidas, embora curiosas e divertidas. A arte da capa está bem bagunçada, diz que o gênero é “Nacional”, e que erroneamente está em fullscreen. Os extras se resumem a biografias em texto, galeria de fotos, e pra dar água na boca, lista de alguns outros títulos lançados pela distribuidora.

Cotação:

A Dama na Água

Há muito tempo atrás ouve um grande baile, onde todos os cachorros foram convidados. Ao chegarem lá, deixavam seus pipis na chapelaria a fim de se divertirem mais livremente. No meio da festa, um imprevisível incêndio aconteceu! De proporções catastróficas causou grande tumulto, quem pode correu para salvar a vida. Na confusão cada um pegou a primeira genitália vista pela frente e foi para casa. Desde então, todo cãozinho ao encontrar semelhante imediatamente confere se finalmente achou seus pertences. Meu falecido pai não se chamava M. Night Shyamalan, por tanto era com esta história de ninar nada poética, repetida inúmeras vezes graças aos meus pedidos, que me fazia ninar. Até hoje não entendi direito o fundo filosófico dela, mas ajudou a enriquecer minha infância com fantasia. É neste universo das coisas pouco explicáveis que o diretor de O Sexto Sentido desenvolve sua trama mais radical. Assim como um conto de carochinha há inúmeras camadas e lições de moral muito claras e outras nem tanto. A principal delas é a de que todo ser humano, não importando de que raça, nacionalidade ou credo, está inevitavelmente interligado. Perde-se precioso tempo tentando negar isso. Há um escritor, que precisa terminar seu livro (The Cook Book, o grande caldeirão de raças) para que uma criança o leia. Influenciada pelas idéias, se tornará um grande presidente no futuro. O germe foi que certa vez, ainda adolescente, Shyamalan esperando seus pais no aeroporto resolveu ler um livro de Spike Lee. Graças a este livro decidiu ser cineasta e com parte da grana que recebe banca uma ONG, vital à sobrevivência de um vilarejo indiano. E é assim, ao sabor de boas intenções que vai se percebendo que este filme vai além de ser uma história de ninar. É um dos mais espetaculares argumentos dos últimos anos, uma aula de roteiro tão bem elaborada a ponto de transformar elementos da escrita em personagens, dá voz ao que é técnica. Neste exercício intelectual sobre aptidões humanas aproveita-se do que é clichê ao cinema fantástico para depois o levar ao chão. De resultado singular para poucos paladares.

A Dama na Água – Lady in The Water

- EUA 2006 De M. Night Shyamalan Com Paul Giamatti, Bryce Dallas Howard, Jeffrey Wright, Cindy Cheung, M. Night Shyamalan, Freddy Rodríguez 110’ Fantasia/Suspense


DVD - Muito caprichadinho como todos os outros de M. Night Shyamalan, fã confesso da mídia DVD. Bacana que quase sempre seus filmes chegam com extras relevantes para nós também. Aqui há um documentário dividido em pedaços curtos, teaser e trailer de cinema (absolutamente diferentes), erros de gravação e cenas deletadas. Nas cenas deletadas há aquelas que muita gente sentiu falta, dos envolvidos em salvar Story sendo convencidos. O destaque é um especial com o diretor tratando sobre o livro infantil Lady in The Water.

Cotação: