27 de setembro de 2008

Querelle

Livremente baseado em romance de Jean Genet, Fassbinder, talvez o último verdadeiramente grande diretor alemão, dava ao mundo seu canto de cisne sem concessões comerciais. Tanto que o filme é febrilmente erótico sem mostrar se quer um único corpo nu. Fotografado em alaranjado lúgubre, com claustrofóbicos cenários teatrais, não se desenvolve neste mundo que em que vivemos, mas no sempre misterioso terreno do desejo, embora faça uso de claras regras sociais. Querelle (Brad Davis) é o marinheiro que ao aportar se lambuza dos pés à cabeça do poder proporcionado pela atração que desperta em homens e mulheres. Trapaceará no jogo de dados para ser possuído pelo marido da dona do bordel jurando ser aquela sua primeira vez. Jeanne Moreau, a única mulher em cena, interpreta a triste puta velha que cantarola a mesma canção enquanto recolhe para si os amantes recusados pelo esposo. “O homem mata tudo aquilo que ama” diz a canção. Há uma trama policial que na verdade só serve para mostrar a desenvoltura do marinheiro em usar os atributos físicos a seu bel prazer. Querelle só não consume nada com o paternalista capitão (Franco Nero) e o doentiamente apaixonado irmão. O mais perto que chegará do incesto é ao experimentar o primeiro beijo na boca de outro homem, quando um fugitivo (Hanno Pöschl em papel duplo) se disfarça tornado-se idêntico a ele. Brilhante trabalho de atmosfera, envolve principalmente na ótima construção de personagens, e na narrativa ousada. De forte temática homossexual, é, sobretudo, um filme sobre machos.

Querelle - Querelle

- Alemanha/França 1982 De Rainer Werner Fassbinder Com Brad Davis, Franco Nero, Jeanne Moreau, Laurent Malet, Günther Kaufmann, Hanno Pöschl, Burkhard Driest 120’ Drama


DVD- A Versátil bate no peito deixando claro no texto da contra capa de que está sob licença da Gamount. Essa óbvia alusão ao paraíso das contraversões de copyrights que parece ser o Brasil pode ser desculpa justa aos preços estratosféricos de seus maravilhosos produtos. Pena que o valor alto não nos dá direito a um conteúdo mais caprichado. Menus horrorosos, extras relaxados se resumindo a texto e galeria curta, e o pior de tudo, legendas que não passaram pela mínina revisão. Há palavras com três esses, fora erros gramaticais grosseiros. Mesmo sendo uma película considerada forte, as legendas ainda apazigua o linguajar dos marinheiros, marca registrada de Jean Genet.

Cotação:

2 comentários:

  1. Nunca vi este filme de Fassbinder, com muita pena minha.

    Aliás, já fazia falta uma retrospectiva do cinema deste mestre dos anos 70...

    Abraço.

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  2. Sam, Fassbinder está meio esquecidinho a bem da verdade...

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