28 de novembro de 2005

Cecil Bem Demente


Cecil B. Demented só chegou às minhas mãos depois de 5 anos de lançamento. Há dois meses A Dirty Shame (o mais recente John Waters) ganhou o título de O Clube dos Pervertidos e saiu diretamente em vídeo. Já o viu em algum lugar? O humor em Cecil veio logo na compra: Blockbuster! Da mesma forma que achei surreal demais comprar ingressos para ver um Tim Burton das mãos de uma anãzinha de braços felpudos, este veio inesperadamente do reino dos filmes "família". "Família é eufemismo para censura!", brada um dos personagens a certa altura. Pronto! Tornou-se meu atual filme de cabeceira. Um dos hits de minha filmoteca visto e revisto, com a trilha sonora (com Moby!) martelando a toda hora! O melhor Waters desde Polyester (1982), pode ter certeza. E o mais bizarro (como se houvesse poucas coisas bizarras na filmografia dele) é que é uma espécie de retrocesso na carreira. Sabe quando você abre um jornal ou um destes portais de notícias e lê que o novo Almodóvar é o filme mais maduro de sua carreira e sente um frio na espinha? E isso a gente lê quase sempre, né? Pois é, este é exatamente o contrário, tecnicamente falando. O diretor inclusive usa o arcaico recurso de tela dividida em duas quando os personagens estão ao telefone. Não há novidades em enquadramentos e a fotografia não é mais a "chapada" e comercial dos seus anteriores como Mamãe é de Morte ou Cry Baby, sendo muitas vezes até bem ruim. O plot é um primor do óbvio, mas pra lá de bem resolvido. Cineasta adolescente underground, junto com sua gangue, seqüestra famosa atriz de Hollywood para obrigá-la a estrelar seu filme classe Z. Exatos 50 anos depois de Billy Wilder gerar a obra-prima Crepúsculo dos Deuses (você TEM que ver este!) cuspindo na cara da burguesia hollywoodiana, Waters bebe na mesma fonte, fazendo talvez o melhor filme sobre filmes desde que Norma Desmond se declarou pronta para seu close up!!! Ah, e como queria também bater boca com velhinhas comedoras de jujuba saindo de uma seção da versão autoral de Patch Adams, ou ameaçar aquele diretor que fez aquela versão americana horrível daquele filme europeu maravilhoso! Melanie Griffith, com vozinha da Madonna cinematográfica que conhecemos tão bem, não poderia estar melhor. Arrogante, vil, e depois a indefesa mártir e diva do bom cinema, seja ele qual for. Claro que se você morre de rir assistindo a versões cinematográficas de programas de TV lançados pela hedionda Globo Filmes, não assista este filme, nem tampouco nenhum outro do diretor. Aliás, vá se tratar! De resto, entre no espírito natalino, saiba o que é uma pilha humana, aprenda a cantar jingle balls, jingle balls... E grite: Morte ao cinema ruim!

Cecil Bem Demente (Cecil B. Demented)
- EUA 2000 De John Waters com Melanie Griffith, Stephen Dorf, Alicia Witt, Mink Stole, Ricki Lake 88' Comédia

DVD - Caretinha (como todos os lançamentos da Europa Carat), mas visivelmente esforçado para se tornar uma edição boa. Menus ok, e nos extras dois trailers bacanas pra chuchu e um longo especial com Waters feito para o canal Comedy Central, que pode não ser a 8ª maravilha, mas iria correr gravar se visse na TV e ainda só houvesse VHS na parada.

IMDB: http://us.imdb.com/title/tt0173716/

Cotação:

19 de novembro de 2005

A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005)

Tim Burton é Deus!!! E, passado o susto, já dá pra confessar que torci o nariz quando soube que ficaria a cargo de Tim Burton uma nova versão para A Fantástica Fábrica de Chocolate, popular livro infantil inglês, levado às telas em 1971 com bastante sucesso. O diretor vinha de uma série de fracassos de bilheteria, mas, claro, absolutos sucessos artísticos, como A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, Marte Ataca! e, mais recentemente, o morno Peixe Grande, o que poderia demonstrar que os executivos do cinemão yankee estavam-no relegando a projetos de segunda classe. Que tristeza ver a competente refilmagem O Planeta dos Macacos sendo massacrada... Nem queria imaginar o que poderia vir com um clássico cult sendo refeito nos dias de hoje. Realmente, aos cuidados de uma mente menos astuta, poderia ter ficado só mais um filminho para passar "inédito" na Sessão da Tarde, repleto de pirralhos com texto decorado, mas é um Tim Burton até o osso. Talvez o mais Tim Burton em muito tempo, com fotografia cinza desbotado, personagens marginalizados, árvores retorcidas, a abertura semelhante a Edward Mãos de Tesoura, as viajantes citações cristão-pagãs, e aquela sensação de que, se alguém guardou um cadáver no armário, não foi sozinho! Primeiro ponto positivo foi a total recusa a mostrar parentesco com o filme anterior. Não encontrei, até agora, nenhuma referência que seja, talvez porque o diretor tenha dito em inúmeras entrevistas que não gostava do resultado anterior, pouco fiel ao livro e que, portanto, não seria uma refilmagem, partindo da estaca zero na concepção. Declarações estas que estão suprimidas das entrevistas (leia abaixo) no material extra do DVD, já que ambos os filmes são da Warner, que também relançou, em versão digital, o clássico para quem quiser comparar. E era de se esperar que Willy Wonka, encarnado por Johnny Depp, fosse salvar o filme de um possível desastre. Como o resultado geral está a anos-luz disso, o que se vê é um personagem riquíssimo que nos dá calafrios e, logo depois, nos faz gargalhar, façanha para poucos atores da atualidade. O engraçado é que o de 71 chamava-se Willy Wonka and The Chocolate Factory, este é Charlie and The Chocolate Factory, como se chama o livro, mas agora o dono da fábrica tem muito mais importância do que o menino, com sua história pessoal chegando a conduzir muitas vezes toda a trama. Os personagens mirins também tiveram substanciais mudanças de comportamento. Se, no anterior, praticamente só a riquinha Veruca Salt era a vilãzinha do grupo e os outros tinham pouquíssimos pecados (fora o fato de estarem dispostos a entregar os segredos do senhor Wonka a um misterioso concorrente), aqui todos os quatro (exceto Charlie, claro) são insuportáveis levando suas compulsões ao extremo. Sempre me identificava com o Mike Teavee, mas agora... Oh, oh! E como todo trabalho do diretor, a cada assistida dá pra notar coisas incríveis antes despercebidas, principalmente a enxurrada de referências cinematográficas, tendo como as mais óbvias 2001, Uma Odisséia no Espaço e Psicose. Olho vivo para Ben-Hur, Psicose, O Chamado, cartoons de Charles Schulz, Hair e até o cumprimento dos adoráveis Oompa Loompas foi pinçado de Plan 9 From Outer Space. E a trilha sonora? O velho e bom Danny Elfman se renova sendo o mesmo! Deus, só a alma mais gélida não terminará de assistir sem sair cantarolando a canção dos Oompa Loompas para Augustus Gloop. Com o DVD você agora tem a oportunidade não só de cantar como um Oompa Loompa, mas de aprender a dançar como eles! Por um triz tascaria ali em baixo, na cotação, uma "obra-prima", se não fosse a esticadela no final. Ao invés de acabar com o pequeno Charlie, agora rico, há ainda uma resolução do drama familiar de Wonka. Desnecessário! Aliás, o passado de quem coloca uma balinha na boca e a transforma em um passarinho não mereceria explicação alguma. Mas como bem se sabe, o criador nem sempre é perfeito...

A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and The Chocolate Factory)
- EUA 2005 De Tim Burton com Johnny Depp, Freddie Higghmore, Noah Taylor, Chritopher Lee 115' Aventura

DVD - Daqui mesmo da net compre agora! O disquinho prateado mais fantástico que já vi até agora. E olha que já vi muuuuuuitos! Mas nenhum com o elenco filmando cenas só para os menus. Todos confusos, mas encantadores! Os extras no segundo disco nos trazem alguns joguinhos viciantes (mesmo para maiores de 12 anos!), e alguns documentários imperdíveis, além de surpresinhas no caso de você possuir DVD-Rom! Aliás, logo no menu dos documentários tem um easter egg. Falta a faixa de áudio de comentários com Tim Burton, mas já não disse que o criador nem sempre é perfeito?

Cotação:

15 de novembro de 2005

Os Homens Preferem as Loiras

Esta deliciosa farsa em reluzente Technicolor sobreviveu não só pelo humor atemporal, mas por ter uma jovem em ascensão chamada nada menos que Marilyn Monroe. Este último motivo sozinho já a tornaria obrigatória para quem ama cinema, ou para quem tiver a curiosidade de conhecer um pouco mais sobre a construção de um mito, uma lenda única, imitada, admirada, reverenciada e referenciada eternamente. Coube a Howard Hawks dirigir este seu primeiro mega sucesso. Para isso junto à novata Monroe, Jane Russell, uma antiga queridinha sua, divide os créditos. Em O Proscrito (que seria dirigido por ele, sendo substituído por Howard Hughes) de 1943, Russell foi a primeira mulher a participar de um faroeste em um papel que não era meramente figurativo. Entrou assim para a história logo em seu filme de estréia. Ou seja, neste Os Homens Preferem as Loiras, já poderia ser considerada uma veterana (seu nome vem antes do da colega na abertura e material promocional), e nem por isso ofuscou, ou deixou-se ofuscar. Química! Diga-se de passagem, não há notícias sérias de rivalidade nos bastidores, e nem no roteiro, ao contrário do que o título possa sugerir tanto em português, quanto no original. Fato que denota a percepção de que (em seu 20º filme!!!) a loira teria seu tão sonhado estouro de bilheteria. O diretor já havia trabalhado com ela no ano anterior, em Monkey Business (O Inventor da Mocidade), e soube agora (talvez apenas como Billy Wilder) capitalizar o seu eminente talento e sex appeal em uma interpretação memorável. Marilyn está afinadíssima como a material girl de plantão (consegue alternar instantaneamente glamour, humor refinado e imediatamente uma sexualidade explosiva), mas ainda bem longe do trabalho memorável que nos mostraria anos depois, a partir de Bus Stop (Nunca Fui Santa). Talvez porque em 1953 ainda estava sob as rígidas orientações de Natasha Lytess, sua primeira professora de arte dramática. A trama (até que bem simplista) gira em torno de Dorothy (Russel) e Lorelei (Monroe), dançarinas norte-americanas que viajam à França: uma atrás de homens musculosos, a outra, de uma polpuda conta bancária e muitos diamantes, respectivamente. Baseado em uma peça teatral, esta caprichada produção da Fox nos proporciona ótimas piadas, muitas delas vindas de situações, e claro, interpretações estonteantes das protagonistas. Talvez a profissão das moças seja desculpa para alguns números musicais, mas que números musicais!!! Desde os créditos iniciais, com as duas cantarolando suas pobres infâncias em Little Rock, a um inacreditável e hilariante de Russel e a comitiva olímpica em trajes sumários. E falar de Diamonds Are a Girl's Best Friend sempre é chover no molhado. Cada frame dele dá vontade de transformar em um quadro gigantesco e pendurar na parede. Poderia ser mais uma comedinha antiga e tola em cores berrantes, mas é um clássico delicioso não só por suas qualidades próprias.

Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes)
- EUA 1953 De Howard Hawks com Marilyn Monroe, Jane Russell, Charles Coburn 91' Comédia

DVD - Lançado em 2002 juntamente com muitos outros de Marilyn Monroe em uma coleção chamada Diamond Collection durante o 40º ano de falecimento da estrela, pela sua existência já merece festejos. Praticamente idêntico ao lançado no exterior (raridade!), ainda nos dá a agradável surpresa de ter um cine jornal da época, quando as duas protagonistas deixaram suas marcas na calçada da fama, não descrito na embalagem. Também o áudio é apenas em espanhol (antigo) e em inglês estéreo, sendo que a versão gringa contém o mono original. Poder ver o trailer original também já nos emociona, mesmo sem legendas e imagem podre, e os menus estáticos são outra coisa que pode ser perdoada só pelas fotos belíssimas de Monroe que os ilustram. A imagem restauradíssima deixa toda a película muito mais viva literalmente, e os diamantes finalmente brilhantes como devem ser. Como falar mal deste DVD?


IMDB: http://us.imdb.com/title/tt0045810/

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9 de novembro de 2005

Exorcista: O Início

Prometo não tomar seu precioso tempo com um filme deste porte. E antes que me esqueça, maldito seja George Lucas que, para encher seu cofrinho, laçou esta hedionda modinha de se contar como tudo começou... Se a platéia média americana é burra o suficiente para só ver filmes explicados nos míííííííííínimos detalhes, acharam a mina de ouro certa! A propósito, alguém quer ver o começo de carreira do doutor Hannibal Lecter? Fala sério! Até Batman (que ainda não vi provavelmente por isso) teve direito ao seu. No caso deste Exorcista, assim que começaram os primeiros boatos de confusões no set e de película amaldiçoada pelo Coisa-Ruim, já se sabia a bomba que viria. Depois que o clássico de 1973 foi relançado com sucesso nos cinemas recentemente, com alarmadas (e desnecessárias) cenas extras, era de se esperar que os engravatados dos estúdios não deixassem o fato passar batido. E o resultado foi muito, mas muito ruim mesmo! Bocejante! A maioria dos filmes de terror, pelo menos se não nos assusta, vira pérolas trash, para revermos e darmos boas gargalhadas. Aqui não é o caso. Primeiro, coisas pseudo-assustadoras levam séculos para aparecerem, segundo, a África fake ao cubo e com elenco black falando um dialeto nada convincente ("mugunzunka racamaté!") só nos dá sono. Chato, arrastado, e com uma absurda necessidade de ter elos com o filme original, não só na trama, mas até nos efeitos especiais e maquiagem. Deus, após 30 anos? Nessa urgência de referências ao clássico, a necessidade de haver um possuído com a cara toda machucada e os olhos com lentes coloridas acaba se tornando um hilariante "adivinha quem será o escolhido pelo demo?". Dizem que o filme era outro, os produtores recusaram e rodaram tudo de novo a toque de caixa, e que essa primeira versão saiu diretamente em DVD nos States, o que pouco importa. Aliás, até o original, que revi há pouco tempo, perdeu muito do seu impacto nestes anos todos. Só por curiosidade, o sucesso, quando lançado nos anos 70, foi tão grande (históricas 10 indicações ao Oscar!!!) que o número de pessoas que se diziam possuídas pelo demônio cresceu consideravelmente na época. E claro, inúmeras seitas e religiões prontinhas a expulsar o capeta. Uma maria mole azul violeta para quem adivinhar em qual década a Igreja Universal do Reino de Deus foi criada.

Exorcista: O Início (Exorcist: The Beginning)
2004 - EUA De Renny Harlin com Stellan Skarsgard, Izabella Scorupco 114' Terror

DVD - Se todo o filme tivesse 10% do capricho exibido no menu principal, seria uma obra-prima. Fora isso, nos extras o trailer de cinema já cheirando a EQ dos bravos, faixa com comentário do diretor para quem se importar, e um documentário curto sobre os bastidores. Neste documentário, dependendo de sua noção de humor, dá pra rir um pouco com os atores seríssimos tratando a "obra" como se fosse grande coisa. O que não se faz por um punhado de dólares?


Cotação:

3 de novembro de 2005

Kung Fu Futebol Club

E faço coro com os que acham que se o Brasil ainda fosse o país do futebol o fenômeno (desculpe o trocadilho) mundial Shaolin Soccer teria sido exibido nos cinemas e não lançado diretamente em DVD com absurdos quatro (!!!) anos de atraso. O Zé povinho só reage aos apelos da TV pra torcer por este ou aquele... Em troca da venda de anúncios publicitários. Trufas... Ok, o filme é sobre kung fu, mas é tão desta mitológica luta quanto do bom e velho esporte do Garrincha. E se você não tá nem aí pra uma coisa nem outra, assista mesmo assim se você quer se divertir sem culpa com um humor ingênuo, mas que não é burro. Sabe quando se paga uns trocos para dar uma voltinha numa montanha russa? É isso aí! Entretenimento puro e indolor. Acaba-se o filme da mesma forma que começamos. Stephen Chow não aparenta querer mudar o mundo, mas divertir, e faz isso com competência de dar gosto! Inclusive depois de 10 minutos dá pra adivinhar o que vai acontecer em todo o filme, mas isso não importa muito. Prepare-se para ver não só cenas de futebol da forma que você jamais imaginou, e (assim como a maioria dos filmes asiáticos) soluções dramáticas absurdamente criativas. Tal e qual o pobre shaolin pensa quando lhe dão a idéia de misturar a arte marcial com o esporte: “Como é que eu nunca pensei nisso?”. E os efeitos visuais, com esse tempo todo, praticamente não envelheceram em nada. Ainda dá pra ficar de boca aberta, inclusive com uma cena que o ocidente só produziu igual dois anos depois em Matrix Revolutions. Já ouviu falar deste?

Kung Fu Futebol Clube (Shaolin Soccer)
- China, 2001 De Stephen Chow com Stephen Chow, Vicki Zhao, Man Tat NG, 87’ Comédia


DVD – Mais um da série “Dá nojo!”. Menu estático e absolutamente nada de extras! A Buena Vista além de cortar “alguns” minutos de projeção nem o trailer disponibilizou. Parece DVD lançado na década passada, e isso não é força de linguagem... E um filme com tantas possibilidades de bônus... Nem dá pra esperar uma edição mais caprichada, porque lembra muito a edição paupérrima de Pulp Fiction lançada a uns cinco anos pela mesma empresa. Se com a obra máxima de Tarantino não lançaram outra, o que esperar de uma comédia comercial chinesa?

Cotação: