31 de julho de 2008

Cantando na Chuva

Que sentimento glorioso, parafraseando sua principal canção! Não é apenas o musical mais divertido, mas uma das comédias mais engraçadas de todos os tempos. Quem não suporta musicais tem a oportunidade de conhecer algo bastante agradável. A idéia teria surgido graças à vontade do veterano produtor Arthur Feed em fazer um longa-metragem reaproveitando velhos hits da Hollywood de ouro, ou seja, dos anos 30 e 40. Adolph Green e Betty Comden (roteiristas especializados no gênero) de forma genial situaram a história no agitado final da década de 20, quando o cinema passou a ser sonoro. Durante a maior e mais radical transição tecnológica a que a indústria cinematográfica dos EUA se deparou, quando todos foram surpreendidos pelo estrondoso sucesso de O Cantor de Jazz. Um estúdio (cujo chefão não acreditava que as fitas com áudio iriam pegar, veja só!) tenta adaptar às pressas ambiciosa produção épica em musical. Detalhe, Lina Lamont (Jean Hagen), a atriz principal, é uma insuportável estrela com voz de taquara rachada, além de falar tudo errado, fato imperceptível na fase muda. A cocota será só uma das dificuldades a serem superadas. Há pelo menos duas ceninhas que quebram o ritmo, quando Gene Kelly canta para Debbie Reynolds num cenário vazio, embora a canção seja graciosa, e o gigantesco e fora de contexto número Broadway Melody, mas nada que comprometa no geral. Mesmo sendo inspiradíssimo, foi friamente recebido em seu lançamento, inclusive pela Academia, tendo a maioria de seus prêmios (como um dos grandes de todos os tempos) entregues na atualidade. Talvez porque os 20/30 ainda fossem muito recentes nos 50 para se rir, e a chegada do áudio foi realmente traumática para várias carreiras. Para ver e rever para sempre!

Cantando na Chuva – Singin' in the Rain

- EUA 1952 De Stanley Donen e Gene Kelly Com Gene Kelly, Debbie Reynolds, Donald O'Connor, Jean Hagen, Cyd Charisse, Millard Mitchell, Douglas Fowley, Rita Moreno 106’ Musical


DVD - A Warner o tinha distribuído antes em edição simples e horrorosa de cabo a rabo. Corrigiu com esta que começa acertando ao preservar a arte do material promocional na capa e menus. No primeiro disco lamentável a faixa em áudio com comentários estar sem legendas em português, mas no resto do material extra, abundante e precioso, está ok. Há a possibilidade de se assistir ao filme comparando as cenas musicais com os filmes anteriores, uma galeria sobre as pioneiras produções faladas (O Cantor de Jazz, Broadway Melody, etc.) com trechos (!!!) delas, e ainda o trailer de 52. No segundo disco, dois documentários impecáveis. Um de 90 minutos sobre o produtor Arthur Feed contendo seqüências de seus principais trabalhos e depoimentos recentes das estrelas e envolvidos, e o outro exclusivamente sobre Cantando na Chuva apresentado por Debbie Reynolds. Ainda vem com a cena deletada (You Are My Luck Star) tida como desaparecida por décadas, incontáveis takes sonoros, uma série de cenas de filmes onde as músicas apareceram originalmente, galeria de fotos, etc. Tudo isso sem falar do filme em si, restauradíssimo! Agora dá pra ver, por exemplo, que a meia-calça de Cyd Charisse está enrugada na altura do joelho...

Cotação:

29 de julho de 2008

A Balada do Pistoleiro

Contratado pela Columbia, Robert Rodriguez dá continuidade à saga do Mariachi, agora transformado em justiceiro implacável. Muitos e muitos dólares depois, perdeu o frescor, mas ganhou em técnica e humor. É o primeiro grande filme estrelado pelos maiores astros latinos da atualidade, Antônio Bandeiras e Salma Hayek. Banderas assume o papel do músico, consciente de sua função de matador, e já lendário entre os botecos mexicanos. O ator original, Carlos Gallardo, surge como companheiro em duas ou três cenas, assim como parte do elenco anterior, amador e, portanto muito feio ou de estética mal cuidada. Aqui fica evidente que Rodriguez não é grande diretor, mas um hábil e astuto homem de cinema. Há soluções criativas por todos os lados, e o filme é divertido ao ponto de nos prender a atenção, embora também tenha amigos demais em papéis sem função à história que ganham destaque por alguns minutos e depois desaparecem. Por mais frenética que seja a trama, esta superpopulação resulta em lentidão. Mais que uma seqüência, também pode ser encarado como remake, com várias tomadas vistas no anterior agora com recursos financeiras para serem mais bem executadas. Tanto faz qual deles se assistirá primeiro, aliás, mesmo o próximo (Era Uma Vez no México), que encerra a trilogia do Mariachi, são histórias independentes que se passam no mesmo cenário, mas mostram a evolução pessoal do personagem principal.

A Balada do Pistoleiro – Desperado

- EUA 1995 De Robert Rodriguez Com Antonio Banderas, Salma Hayek, Carlos Gallardo, Joaquim de Almeida, Cheech Marin, Steve Buscemi, Quentin Tarantino, Danny Trejo, 106’ Ação


DVD - Lançado no mesmo disco que El Mariachi, com cada qual em um lado. Assim como o outro, há a faixa de áudio de Rodriguez, trailer, e o documentário “Escola de Cinema em 10 minutos” (Anatomia de um tiroteio). Lamentavelmente, exceto no filme, também não há legendas em português.

Cotação:

El Mariachi

Contado em tom de fábula, a estréia em longa metragem de Robert Rodriguez também está cercada de mitos. A princípio, teria custado sete mil dólares, com parte deste dinheiro conseguido graças a ele ter servido de cobaia à uma nova vacina. Por mais pobre que visualmente seja, só em negativo 16 mm (mais tarde estendido para 35) teria gastado o dobro disto, mas enfim, lendas são lendas... Para total apreciação, é preciso embarcar no clima de brincadeira entre amigos, estilo ao qual Rodriguez continuou sendo fiel mesmo quando passou a trabalhar para um grande estúdio americano, a Columbia. Com câmera frenética, cortes certeiros e roteiro de coincidências absurdas, nos remete a velhos cartoons do tipo Papa Léguas ou a qualquer western-espaguete produzido por algum Sergio Leone subnutrido do México. Ainda versa sobre a morte das tradições na figura do Mariachi sem emprego graças às facilidades tecnológicas. Carlos Gallardo (também produtor e responsável pelos efeitos especiais) vive perambulando de cidade em cidade à procura de lugares que lhe paguem por sua arte quando é confundido com o bandido Azul. Ambos usam um estojo de violão idêntico, só que o malvado o recheia com todo tipo de arma. Acidentalmente, o cantor se tornará o mais feroz matador que a fronteira mexicana já viu. Parece um argumento fácil e realmente é. A graça fica na forma em que foi contando, realmente original.

El Mariachi – El Mariachi

- México/EUA 1992 De Robert Rodriguez Com Carlos Gallardo, Consuelo Gómez, Jaime de Hoyos, Peter Marquardt, Reinol Martinez, Oscar Fabila 81’ Ação


DVD - Lançamento antigo da Columbia, contem El Mariachi e sua continuação (A Balada do Pistoleiro) em cada lado do disco. Assim como todos os filmes de Rodriguez, ele cuida pessoalmente de seu material extra, portanto, há sempre muito que se esperar. Aqui há a costumeira e reveladora faixa de áudio dele, trailer americano, e o primeiro documentário “Escola de Cinema em 10 minutos” visto em muitos dos seus DVDs. Lamentavelmente, exceto no filme, não há legendas em português em nada. Destaque para o primeiro curta-metragem “Bedhead”, feito com seus irmãos pequenos.

Cotação:

27 de julho de 2008

Batman – O Cavaleiro das Trevas

Explosiva seqüência do filme de 2005 tem como principal mérito escancarar o que se tornaram estas intermináveis adaptações de quadrinhos: entretenimento para crianças pequenas ou platéias com interesses mais simplórios. Vazio, para qualquer outro pessoa será uma tarefa maçante. Um espetáculo de cenas de ação tecnicamente bem produzidas, mas nem sempre justificáveis. Estruturalmente se assemelha aqueles de sacanagem com pretensões de contar alguma história. Um fiapinho de trama costura de qualquer maneira as partes que “interessam”. Para quem espera tiros, pancadaria e explosões sairá boquiaberto, para quem espera cinema sairá broxado. Haja paciência para o blábláblá infindável e sem importância alguma ao enredo, inclusive cheio de forçadas de barra. O texto parece estar presente só para os personagens terem o que falar entre uma correria e outra. Bizarramente as relações com o anterior são poucas, a ponto de até Batman parecer ser outro, inclusive na interpretação esbarrando na caricatura de Christian Bale. Batman é finalmente um paspalho vestido de preto em uma ensolarada (!!!) Gotham City. Sim! Nem a sombria cidade escapou de ser simplificada para agradar, claro, a um público mais amplo. Só não é o pior filme do Paladino da Justiça porque Joel Schumacher nos deu aquelas porcarias dos anos 90. E também porque há Heath Ledger como o mais insano, engraçado e assustador Coringa. Pena que seja no filme errado, e sem jeito de remediar isso.

Batman – O Cavaleiro das Trevas – The Dark Knight

- EUA 2008 De Christopher Nolan Com Christian Bale, Heath Ledger, Aaron Eckhart, Michael Caine, Maggie Gyllenhaal, Gary Oldman, Morgan Freeman 152’ Ação


***Em cartaz***

Cotação:

24 de julho de 2008

Tron – Uma Odisséia Eletrônica

Esta orgia de cores e formas digitais em baixa resolução diz muito mais à nossa geração, acostumados aos confortos dos bits e bytes que àquela platéia do inicio dos 80. Estavam todos empolgados com os primeiros jogos eletrônicos, mas não devem ter entendido nada sobre um super sistema operacional que vai engolindo programas independentes menores. Windows quem? Na história, hacker (Jeff Bridges) tenta entrar sistema para conseguir provar a autoria do tal software, mas é literalmente abduzido (scanneado) para dentro dele, onde terá que lutar numa espécie de arena eletrônica. Foi uma desculpa simples para a Disney correr na frente nos efeitos gerados em computador e Tron pode se orgulhar de ser o primeiro longa a ter cenários de computação gráfica. Visto agora é algo saudosista, engraçado, que remete diretamente a O Mágico de Oz ou qualquer esforço da época de ouro de Hollywood em fazer filmes fantásticos. É um espetáculo retrô, divertido e nos faz pensar o desafio que deve ter sido aos técnicos naquele tempo. Tempo remoto em que Disney, Spielberg e Lucas eram referência em modernidade técnica. Época em que o domínio da ferramenta se confundia com o domínio artístico. Os anos passaram, a tecnologia foi ficando cada vez mais barata e comum e verdades foram escancaradas. O fato de se saber usar um pincel não significa que você é um Picasso. No Brasil houve algo semelhante, mas, como era de se esperar, na TV. Com todo o dinheiro que a TV Globo sempre teve, e, portanto, tecnologia de ponta, Hans Donner era o gênio das aberturas e vinhetas. Hoje se sabe que não passa de um gringo que sabe lidar com computadores, com idéias muito pobres. E ainda estamos só no começo...

Tron – Uma Odisséia Eletrônica – Tron

- EUA 1982 De Steven Lisberger Com Jeff Bridges, Bruce Boxleitner, David Warner, Cindy Morgan, Barnard Hughes, Peter Jurasik, Dan Shor 96’ Ficção Científica


DVD - A Disney devia se envergonhar de ostentar seu logo num DVD como este. É ridículo um filme como Tron sem absolutamente nada além do filme. Pelo menos está em ótima qualidade de áudio e imagem.

Cotação:

O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final

Todo o dinheiro do mundo não supera uma boa idéia. Esta continuação, sete anos depois, comprou perfeitamente a máxima. Mesmo sendo um filme muito bom, com roteiro e conceitos bem desenvolvidos, cinematograficamente resultou em mais um produto comum de Hollywood. A trilha sonora, antes feita por alguns caraminguás com tecladinho furreca (mas de resultado excelente) deu lugar a uma orquestral banal e rufante. Outra coisa estranha: Não há um pingo de sangue! O Exterminador leva uma saraivada de balas e não sangra. Houve ainda uma troca do suspense por mais ação. As inúmeras cenas de perseguição chegam a saturar além de embolarem a trama por mais de duas horas. Mas enfim, pelo menos continuou a saga com habilidade. O tal futuro messias nasceu e com dez anos recebe a ajuda do Cyborg T-800(ou um modelo idêntico ao que atacou sua mãe) para escapar de uma máquina muito mais evoluída, o anamórfico T-1000. Inúmeros paralelos com o que aconteceu no anterior e futuro, presente, etc. o deixam acima da média em relação a qualquer filme de tiroteio muito comuns naquela época, e abrem espaço para uma fascinante mitologia mal explorada na próxima produção. Os efeitos digitais, alguns dos primeiros usados no cinema, tomam partido das limitações técnicas do período e, portanto continuam úteis. Há incontáveis furos de edição que revelam o dublê do Schwarzenegger, que tem corte e cor de cabelo diferente.

O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final – Terminator 2: Judgment Day

- EUA 1991 De James Cameron Com Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Edward Furlong, Robert Patrick, Earl Boen, Castulo Guerra, Xander Berkeley 131’ Ficção Científica/Ação


DVD - Este segundo saiu pela Universal em edição pretensamente especial com dois discos. O primeiro disco possui menus animados bem chiques, mas demorados, sem a possibilidade de pulá-los. Isso faz até com que seja difícil apertar a tecla stop do aparelho. O segundo tem uma miséria de extras: Vários storyboards de momentos importantes, trailer de cinema, e um documentário da época de lançamento, de imagem muito ruim.

Cotação:

23 de julho de 2008

O Exterminador do Futuro

Quando um trash dá certo, vira isso! Um clássico do cinema descompromissado. Muito mais violento e assustador que a maioria dos filmes de terror ou suspense. James Cameron colocou todo seu mettier em produções de baixo orçamento (do tipo Piranhas 2 – Assassinas Voadoras) a serviço da ficção científica. Sua competência contorna qualquer limitação financeira ou de efeitos especiais do período que ainda se mantém bem interessante em plena era da computação gráfica. Tão manjado naquela época que muitos méritos acabaram sendo relegados. Como se filmes populares não pudessem ser bons. Na história tradicional de gato e rato, cyborg super poderoso e inexpressivo (não precisa dizer que se trata do governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger...) vem de 2009 para matar o messiânico John Connor, líder da resistência humana contra as máquinas, antes mesmo dele ser gerado. Em contrapartida, humanos mandam um homem (Michael Biehn de Planet Terror) e dá pra prever no que vai dar esse servicinho de guarda costas da jovial Linda Hamilton (então esposa de Cameron e estrela da série de TV A Bela e a Fera). Os personagens são ralos, embora isso não tenha muita importância em meio a tanto barulho. É diversão de qualidade para a pipoca.

O Exterminador do Futuro – The Terminator

- EUA 1984 De James Cameron Com Arnold Schwarzenegger, Michael Biehn, Linda Hamilton, Lance Henriksen, Shawn Schepps 107’ Ficção Científica/Ação


DVD - Um filme com quase trinta anos e com tantos efeitos especiais defasados corre o risco de virar um desastre com imagem digital, mas O Exterminador do Futuro é tão envolvente que muito pelo contrário. Parece que o estamos assistindo pela primeira vez. Como a maioria dos filmes de produtoras pequenas (a falida Carolco), é comercializado em DVD sabe-se lá de que jeito. Este teve o azar da distribuição da MGM, ou seja, agora saiu pela Fox de qualquer maneira. Não há extras, e sim easter eggs! Vários mini documentários (bem) escondidos nos menus de escolha de capítulos. Mas nãos e anime. Talvez por economia de espaço, os transformaram em seqüências de fotografias (!!!), com áudio sem legendas.

Cotação:

22 de julho de 2008

Má Educação

Depois de ter seu primeiro Oscar em cima da lareira, aplaudido pela imprensa a cada filme como o mais maduro, e por conseqüência virado o favorito da massa pretensamente culta que finalmente vê cinema europeu (leve?), Almodóvar nos veio com este susto. Logo depois do insosso Fale Com Ela, fez seu trabalho mais radical e pessoal desde muito tempo, com tantas reviravoltas que só sabemos se foi um bom filme depois de refletir um pouco. Principalmente porque a história (deliciosamente folhetinesca) se passa em quatro momentos, ou planos, atualidade, passado e imaginação. Constrói lindos personagens para depois jogá-los na lama. Nos dá a certeza de que a realidade sempre é mais sórdida do que qualquer ficção. A igreja católica assume novamente seu papel de derrota, mas também de elemento transformador em quase todos seus trabalhos. Há pelo menos uma cena idêntica em A Lei do Desejo de 1987, quando o travesti vai acertar contas com o padre. Também mostra muitas visitas, com a história começando quando cineasta espanhol underground (nos 80) reencontrando um antigo colega do internato. Bem diferente do menininho com quem trocou as primeiras carícias íntimas, lhe entrega um roteiro chamado La Visita. E foi justo este título que Má Educação teve enquanto foi rodado. Entre as críticas recebidas, está a de ter sido autocomplacente, afinal, o único personagem que parece ter escrúpulos ali é o diretor. Almodóvar negou veemente ser uma película autobiográfica.

Má Educação – La Mala Educación

- Espanha 2004 De Pedro Almodóvar Com Fele Martínez, Gael García Bernal, Daniel Giménez Cacho, Lluís Homar, Javier Camára, Petra Martínez, Nacho Perez, Raul Garcia Forneiro, Alberto Ferreiro,Ignacio Perez 101’ Drama


DVD - No Brasil, ou seja, DVDs zona 4 foi comercializado pela Fox. Segundo o site 2001vídeo, áudio em 2 canais, formato de tela letterbox e tendo como extra apenas o trailer. Na Europa, portanto zona 2 ficou a cargo da Warner Bros., que vendeu um produto bem diferente. Áudio somente em 5 canais, tela anamórfica, vários trailers, spots de TV, dezenas de pôsteres, galeria ampla de imagens, inclusive os croquis de Jean-Paul Gaultier, cenas de bastidores e o mais curioso, duas cenas deletadas que complementam o filme dentro do filme. Sabemos o que acontece depois que o travesti de Gael fica nas mãos dos pérfidos padres. Ainda vem com uma faixa de DVD Rom. A desvantagem é que não há legendas em português, embora com esforcinho dá pra entender bem o espanhol original.

Cotação:

20 de julho de 2008

Os Infiltrados

Já dá preguiça só com o elenco. Leonardo DiCaprio (e Matt Damon!) fazendo cara de mau por 2 horas e 30 minutos são de apavorar qualquer ser humano de bom gosto que queira assisti-lo. Mas há corre-corre suficiente para que não se tenha do que reclamar sobre os moços, aliás, os já citados 151 minutos são indolores, passam mesmo rapidinho. Bem aquém do que Scorsese já fez, entrou para o grupo dos prêmios dados pela Academia para consertar injustiças. Adaptado de um filme asiático, o roteiro se apóia num furo gigante. Mafioso (Jack Nicholson) infiltra um dos seus na polícia, e a polícia faz o mesmo. Só que os caras maus levam séculos pra suspeitarem quem é o informante, sendo que eles são só meia dúzia de gatos pingados com um novato muito jovem, ainda por cima ex-policial. Jura que é difícil desconfiar quem seja? Não dá pra levar a sério também que o chefão do crime seja muito pé de chinelo para os tiras ficarem inventando toda uma estratégia rebuscada pra prendê-lo. Talvez o único que realmente tenha entendido se tratar de uma comédia violenta seja Nicholson, embora repetindo o eterno papel de louco fora de controle visto muitas outras vezes.

Os Infiltrados – The Departed

- EUA 2006 De Martin Scorsese Com Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Jack Nicholson, Mark Wahlberg, Martin Sheen, Vera Farmiga, Alec Baldwin 151’ Policial


DVD - Lá fora tem uma edição dupla, aqui devem estar esperando o filme fazer não sei quantos anos pra lançarem do mesmo jeito. O único extra é o trailer de cinema.

Cotação:

Xanadu

A bomba máxima 80’s! Muitas vezes no meio de tanta bobagem cor de rosa é difícil conter o riso. As músicas não têm lógica narrativa alguma, o conflito só surge no final, coisa que se resolve em duas ceninhas, mas irresistível! A trama, se é que isso pode ser considerado uma trama, gira em torno de algumas musas inspiradoras que tomam vida. Nenhuma tem função alguma na história, exceto uma, Kira (Olivia NewtonJohn, lógico!), que se envolverá afetivamente com pintor de cartazes frustrado com sua profissão. Desculpa deslavada pra tocar umas três músicas melosas. Terrível a justificativa pra elas ter saído do olimpo com seus patins e polainas: ”Veio para ajudar na criação da boate Xanadu!”. Gene Kelly (o velho milionário bonzinho que distribui dinheiro!!!) tenta dar algum requinte aquilo tudo mas é soterrado em tanta cafonice. Precisa falar que vai dar com os burros n’água quem esperar de Xanadu um filme de verdade, com historinha coisa e tal, mas vai se divertir pra chuchu quem esperar uma sucessão de clips horrorosos, com cenários e figurinos idem? Este parece ser o motivo plausível para tamanho fracasso ter gerado uma trilha sonora de enorme sucesso, até os dias de hoje, a ponto de originar recente (e bem sucedida) versão da Broadway. Mesmo fraquinho, prende atenção o final apoteótico com NewtonJohn cantando a música principal de escova em dia nos cabelos. Uma graça! Tão contagiante e saudosista que nos faz cantá-la ao longo de dias.

Xanadu – Xanadu

- EUA 1980 De Robert Greenwald Com Olivia NewtonJohn, Gene Kelly, Michael Beck, James Sloyan 93’ Musical


DVD - A arte da capa não parece ter sido feita por um grande estúdio como a Universal. Mal feita e de impressão lembrando Xerox colorido. Também não traz extras. Uma coisa curiosa é o DVD teve que ser trocado duas vezes, um dos poucos a vir com defeito na minha vida. Na segunda troca fiquei imaginando um inusitado recall, e que tipo de gente estaria numa fila gigantesca pra trocar Xanadu...

Cotação:

19 de julho de 2008

Vidas Amargas

James Dean é tão James Dean, que nos primeiros minutos quando um capanga lhe pergunta seu nome, se ele dissesse ser Cal, tudo desmoronaria. Não que tenha feito um mau trabalho, aliás, recebido na estréia como um novo Marlon Brando, mas teve carreira tão curta e meteórica, que todas as caretas e posições mostradas são exatamente o que acabou deixando em fotos e nos outros dois filmes. O dramalhão comandado por Elia Kazan (queimado ao dedurar colegas na era Macartista que se seguiria em Hollywood), baseado nas últimas páginas de um romance de grande sucesso, perece em sua visão antiquada de contar histórias. Há sempre choro demais a cada dez minutos. Mas não deixa de ser um trabalho interessante, com alguma ousadia fotográfica, com câmeras tortas tal e qual os sentimentos de Cal (Dean), lembrando bastante o enquadramento típico dos quadrinhos. Pode parecer bobagem agora, mas imagina o peso das câmeras da época, e ainda mais do sistema Cinemascope!!! A trama versa sobre o bíblico estigma do irmão bom e o irmão mau, ou de forma mais simplista, a relatividade destes sentimentos ou postura. É curioso como em 1955, antes da revolução cultural que Juventude Transviada (próximo de Dean) causaria os jovens ainda eram retratados como pequenos adultos com conduta infantil.

Vidas Amargas – East of Eden

- EUA 1955 De Elia Kazan Com James Dean, Raymond Massey, Julie Harris, Burl Ives, Richard Davalos, Jo Van Fleet, Lois Smith 118’ Drama


DVD - Na hora de lançar clássicos em versão digital a Warner é a melhor. Se em muitos outros teve versões simples, sempre se empenhou na arte gráfica em manter o espírito do material quando distribuído originalmente. As versões duplas, como deste Vidas Amargas, são de tirar o fôlego. Só o trailer e a faixa de comentários do primeiro disco não estão com legendas em português. No segundo disco há um documentário longo de 1988 sobre James Dean, com imagem bem ruim e algumas informações já defasadas. Principalmente no que se refere à vida amorosa do astro. O making off é curto, mas mostra a atriz Julie Harris recentemente. A parte valiosa mesmo trata-se de muitos testes de figurino, elenco, cenas deletadas ou não aproveitadas. E a principal, a transmissão televisa da pré estréia do filme com uma espécie de Amaury Junior. Ele chama o chefão Jack Warner de Coronel Warner, e ao conversar com uma estrela esquecida ouve-se uma balburdia vindo do povo. O repórter olha pro lado e manda a câmera filmar a multidão: “Senhoras e senhores, Marilyn Monroe acaba de chegar ao cinema!”. Muito emocionante. Quanto ao filme, resta falar que era considerado o elo perdido da carreira de Dean para fãs antigamente. Foi o único de seus três filmes nunca lançados em VHS, só sendo exibido na TV nas madrugadas com imagem em fullscreen bem estragada. Coisa que este maravilhoso disco corrige muito bem.

Cotação:

17 de julho de 2008

A Lei do Desejo

Tão erótico quanto engraçado, esta fábula em cores berrantes sobre a diversidade sexual e cultural é uma das melhores coisas já feitas em termos de melodramas cinematográficos. O título entrega tudo! Os personagens seguem apenas uma lei, a do desejo, e jogam-se a ela invariavelmente de cabeça, para depois pensarem o que fazer. Pablo é um celebrado cineasta underground que consegue levar pra cama todos os mancebos a que deseja, embora seja apaixonado apenas por um deles. Eis que surge em seu caminho Antônio, se diz não homossexual, embora se permita ser possuído por ele. Em troca, obcecadamente pretende possuir tudo o que Pablo tem. Carmen Maura faz Tina, a irmã transexual do diretor às voltas com seu passado e sua antiga namorada lésbica interpretada por Bibiana Fernández. Resta lembrar que Bibiana Fernández se chamava na época das filmagens Bibí Andersen, então esposa de Almodóvar e transexual de verdade. Tudo pontoado por trilha sonora inspiradíssima que incluí antigas canções do próprio Almodóvar à brasileira Maysa numa das melhores versões de Ne Me Quitte Pas. Sentimentalmente suburbano, é bem cru perto do que veríamos na filmografia do espanhol em todos estes anos. Após um crime parece que a trama corre demais, dando muitas amarras em pouco tempo como último capítulo de telenovela. Há várias referências a seus próximos trabalhos, como a peça “A Voz Humana” de Jacques Cocteu, que seria a base para Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos. E também a coisas anteriores como certas cenas antes lidas em seu romance Fogo nas Entranhas de 1981. Exibido em alguns festivais brasileiros em 87, só seria comercializado 10 anos depois, após Bandeiras ficar famoso nos EUA, e, portanto explorando as tórridas cenas gays em que participa.

A Lei do Desejo – La Ley del Deseo

- Espanha 1987 De Pedro Almodóvar Com Eusebio Poncela, Carmen Maura, Antonio Banderas, Miguel Molina, Fernando Guillén, Nacho Martínez, Bibiana Fernández, Helga Liné, Manuela Velasco 100’ Drama


DVD - Comercializado pela Van Blad (especialista em filmes de sacanagem nas bancas), não tem a mínima graça reclamar dos extras apenas em texto perto da imagem porca em fullscreen, que não só detona todo o filme como corta boa parte do texto dos créditos. A falta de foco em alguns momentos deixa dúvidas se é do original ou do disco. Há um picote numa cena importante, quando Poncelo é interrogado pela polícia. Mesmo assim, é louvável terem preservado a belíssima arte do pôster original, diferente de um relançamento mais recente. É triste não haver possibilidades de procurar o trailer online já que as películas de Pedro Almodóvar (ou de sua produtora El Deseo) se encontram nestes tempos de Internet em momento vexatório. Seus direitos estão a cargo de um furioso órgão chamado Egeda, que varre a Internet atrás de qualquer homenagem, divulgação ou coisa do tipo para tirar do ar. O que sinceramente é vergonhoso e não combina com o outrora diretor transgressor.

Cotação:

16 de julho de 2008

Despertar dos Mortos (1978)

O filme de zumbis definitivo. Exatos 20 anos depois de seu lançamento continua com a mensagem intacta: Porque diabos achamos que o consumismo é tão importante para nossas vidas? Não só os mortos vivos vão por instinto até o luxuoso shopping, mas os quatro sobreviventes insistem em permanecer ali. A mocinha Francine (Gaylen Ross, a cara da Marília Gabriela quando jovem) indaga a lógica de se ficar ao invés de pegar o que for preciso e dar no pé. É o mais cabeça do subgênero “zumbi”, e o germinal para a explosão de filmes de temática igual que assolou o cinema B naquela época, principalmente da Europa. A história é paralela ao de 1969 (A Noite dos Mortos Vivos), quando o casal de irmãos é surpreendido por mortos no cemitério. Aqui já se sabe da infestação desde o começo, com os bastidores de uma TV em pleno caos noticiando os incidentes bizarros à população. Nesse ambiente há outra sacada do diretor Romero, quando o chefão ordena que as listas dos abrigos continuem no ar, mesmo desatualizadas e colocando a população em risco. Alega que é preciso para não mudarem de canal! Bem longo, com quase duas horas e meia de duração, possui vários pontos altos e baixos, mas as centenas de zumbis engraçadíssimos e cambaleantes ajudam a manter o interesse. Cada qual representando um tipo específico de cidadão comum, são lentos e só apresentariam perigo se a vítima estivesse dormindo. A maquiagem (um verde acinzentado igual à de laranjas com bolor) ficou novamente a cargo de Tom Savini, que dirigiria a refilmagem do primeiro em 88. Ele aparece como ator vivendo o líder da gangue de motoqueiros, e recentemente como um policial mal humorado em Planet Terror. Dario Argento, o mestre, colabora duplamente, como consultor de roteiro e na trilha sonora ao lado da banda Goblin.

Despertar dos Mortos – Dawn of the Dead

EUA 1978 De George A. Romero Com David Emge, Ken Foree, Scott H. Reiniger, David Crawford, David Early, Howard Smith, Tom Savini 142’ Horror


DVD - A London (WorksDVD)comercializou originalmente em bancas e depois em qualquer lugar pelos mais variados preços. Essa inconstância é uma das principais reclamações dos lojistas à empresa, e um dos motivos para ela ter sumido do mapa. Portanto, se achar, não pense duas vezes em comprá-lo. A imagem e áudio estão excelentes, e de bônus só biografias em texto.

Cotação:

13 de julho de 2008

Um Tiro Na Noite

Este elogio à arte de fazer filmes, é um dos melhores da década de 80, embora pouco lembrado. Extremante reverente aos ídolos como de costume, Brian De Palma conseguiu resultado coeso, costurando muito bem o emaranhado de referências. John Travolta em seu primeiro papel adulto, e último da primeira grande fase, é o técnico de áudio em filmes baratos na hora e local errados. Ao gravar corriqueiros sons ambientes registra sem querer acidente automobilístico e, portanto, acaba se envolvendo na trama para assassinar importante candidato à presidência. Arriscará provar a conspiração por detrás da morte, enquanto, claro, terá que salvar sua pele e a de uma prostituta ingênua também presente à cena do crime. E dá-lhe planos seqüência magistrais, trilha sonora enervante (de Pino Donaggio), e um dos finais mais surpreendentes já filmados! Tão surpreendente que a platéia média acaba esquecendo sua coerência e detestando todo o resto. Para cinéfilos (Além das citações a Antonioni, Hitchcock...) há ainda a graça dos bastidores de uma produção B em época anacrônica e ainda o uso dramático do princípio básico do cinema, a animação quadro a quadro. É intrigante como De Palma comandou sucessivas pequenas maravilhas entre o fim das décadas 70, começo dos 80, e a quase 20 não faz nada que possa dar uma classificação maior do que regular. Como Nancy Allen, sempre competente estrelando os primeiros trabalhos do diretor, de prostituta sagaz a vilãzinha estudantil, após Robocop viu a carreira minguando, minguando...

Um Tiro Na Noite – Blow Out

- EUA 1981 De Brian De Palma Com John Travolta, Nancy Allen, John Lithgow, Dennis Franz, Peter Boyden, John McMartin 139’ Suspense


DVD - A Fox (sempre ela!) vende estes discos da MGM de qualquer maneira. Vêm só com o trailer e menus feios e estáticos. Mas isso não é mérito brasileiro. Há pessoas dos EUA reclamando no IMDB do mesmo descaso. Um filme importante e tão imaginativo merecia pelo menos um mísero featuring. Aposto que Nancy Allen toparia dar as caras! Mas a película tem imagem e áudio muito bom! Aliás, o som está apenas em dois canais, e de preferência deve ser assistido assim, até pela profissão do protagonista há todo um cuidado a mais com os efeitos sonoros.

Cotação:

Lua de Fel

Duas horas e tralalá da mulher do Polanski se esforçando pra mostrar que era safada! Depois deste longo tempo, que parece ter o dobro, não sobra muito mais do que dá qualquer filminho da Sexta Sexy menos pretensioso. Esta bobagem nada sutil e até constrangedora, alcançou bastante sucesso no Brasil em seu lançamento, numa época em que o cinema estava todo de pernas abertas depois que Sharon Stone andou fazendo o mesmo. Seria até engraçado, se não tivesse todo aquele verniz (fake) de cinema francês de arte para ludibriar platéias pretensamente cultas. O roteiro muito pobre não nos deixa enganar! Ingleses desenxabidos, Hugh Grant e Kristin Scott Thomas partem em cruzeiro rumo ao oriente para comemorar seus sete anos de casamento. Lá conhecem escritor americano (Peter Coyote) paraplégico e sua esposa maluqueira e gostosona Mimi (Emmanuelle Seigner), a referida ex senhora do diretor. Não há motivação convincente que explique porque o marido passará dias e noites ouvindo o escritor contando sua história de amor trágica, o que torna seu final quase risível de tão irreal. Ainda pra piorar Seigner é muito bonita, mas de talento dramático limitado para papel tão importante. A caracterização muito mal feita de quando ela chega ao fundo do poço também não lhe ajuda em nada. E uma coisa intriga há 16 anos: O que a música Kátia Flávia, A Godiva do Irajá faz naquela trilha sonora?

Lua de Fel - Bitter Moon

- França/Inglaterra 1992 De Roman Polanski Com Peter Coyote, Hugh Grant, Kristin Scott Thomas, Emmanuelle Seigner 139’ Drama


DVD - A imagem (widescreen) embaçada de contrastes esverdeados demonstra ter sido feito a partir de um Laserdisc. Não há bônus algum.

Cotação:

11 de julho de 2008

007, O Espião Que Me Amava

O agente secreto bom vivant chegava à nona aventura simplesmente amando ser quem é. Muito bem humorado, ainda, veja só, tem que dividir a missão com uma espiã russa, a Triple X. Pra variar leva-se um tempão para descobrir/entender o que o vilão quer, no caso, um cientista louco que seqüestra navios nucleares para fazer um tipo de Atlântida. A ininterrupta sucessão de cenas de tirar o fôlego nem sempre alcançam veracidade de como se chegou àquela situação, mas qualquer coisa que se diga a respeito de lógica em um filme do James Bond é bobagem. Eles dão entretenimento escapista isuspeito e com classe. Barbara Bach, ex-modelo, ex-senhora Ringo Star e estrela de um sem número de trashes italianos como A Ilha dos Homens Peixes, é bonita e fotogênica, mas como atriz, num papel importante quanto a da parceira de 007 da terra da vodka é quase um nabo de expressividade. Temos a sensação de que Roger Moore a carrega nas costas o tempo todo. Falando em beldades, há nada menos do que duas Bond Girls que ficaram famosas no estúdio Hammer: Valerie Leon de Sangue no Sarcófago da Múmia e Caroline Munro de Drácula no Mundo da mini-saia.

007, O Espião Que Me Amava - The Spy Who Loved Me

- Inglaterra 1977 De Lewis Gilbert Com Roger Moore, Barbara Bach, Curd Jürgens, Richard Kiel, Caroline Munro, George Baker, Valerie Leon 125’Aventura


DVD - Se é da Fox pode esperar relançamentos de todas as maneiras possíveis. Os filmes do agente com licença para matar já foram vendidos de tudo quanto é jeito, até que surgiu em 2006 a Ultimate Collection! Esta coleção é comercializada dentro de uma maleta chiquíssima custando os olhos da cara, em 5 boxes ou separadamente. Sendo que se você os adquirir a granel vêm acondicionados numa luva de papelão especial. Estão realmente com imagem e áudio maravilhosos conforme anunciaram, com menus animados fabulosos no espírito da série. O segundo disco tem uma batelada de extras, mas tantos mesmo que a gente se perde entre eles. Só Barbara Bach não aparece em entrevista recente, mas há várias imagens dela na época, como nas raras dos bastidores feitas em Super 8. Há no fundo de um menu qualquer a abertura com aquela canção tema (famosíssima) da Carly Simon com a opção de não ter as letras. Muito bom! Não há nada que não esteja legendado em português, inclusive as duas faixas de comentários e as dezenas de trailers e spots de rádio e TV. Uma aquisição imperdível para fãs de James Bond ou apenas cinéfilos. Nem que seja um título ou outro.

Cotação:

10 de julho de 2008

Marnie, Confissões de Uma Ladra

Novelão dramático com a assinatura indelével de Hitchcock. Muito engraçado em seus exageros narrativos, alcança cafonice ímpar como qualquer livro de bolso e mesmo assim é genial. Cinema em estado puro, formado por centenas de tomadas fotografadas e montadas minuciosamente. Analisando o material promocional é evidente ser intencional a mistura de gêneros, a indecisão em se assumir policial, suspense ou romance, mas há quem aponte ser este o motivo para não o considerarem grande coisa na filmografia do diretor. Marnie (Tippi Hedren, fantástica!) é a mocinha que incapaz de sentir tesão pelo sexo oposto se dedica a assaltar grandes empresas. Sean Connery (no auge do sucesso como 007) é o milionário que tem como passatempo adestrar feras selvagens e verá na garota um intrigante objeto de estudo. Embora os distúrbios psicológicos apresentados no roteiro pareçam ter alguns furos, são minimizados com diálogos discutindo tais atitudes, porque, teoricamente cleptomaníacos não roubam grandes coisas e agem por impulso ao invés de armarem planos mirabolantes. Marnie mudando a cor do cabelo e nome consegue facilmente emprego em cargos de confiança, e o motivo para tanta fluência Hitchcock conta logo na primeira tomada, prova de sua inteligência e humor únicos. O longa começa com um close fechadíssimo na bolsa da ladra, que vista de perfil é bastante semelhante ao órgão genital feminino. A próxima cena será justo a de um homem de negócios dando queixa do roubo há polícia, babando ao descrever a forma física da ladra, sua secretária ainda lhe lembra de que não exigiu referência nenhuma a larapia.

Marnie, Confissões de Uma Ladra – Marnie

- EUA 1964 De Alfred Hitchcock Com Tippi Hedren, Sean Connery, Louise Latham, Diane Baker, Mariette Hartley, Bruce Dern, Martin Gabel 130’ Policial/Suspense


DVD - Esta série da Universal com menus e capas padronizadas leva a vantagem de sempre possuir no mínimo um grande documentário sobre a obra. Neste caso, com uma hora de duração possui depoimentos recentes de quase todos os envolvidos vivos menos Sean Connery. Também não há uma palavra sobre a homérica briga de Tippi Hedren com o diretor, que marcaria o fim da parceria entre eles, e colocaria em risco sua carreira de atriz. Mais uma vez a imagem está em tela cheia e anunciada como widescreen na embalagem.

Cotação:

8 de julho de 2008

Sortilégio de Amor

Comédia romântica muito querida com Kim Novak e James Stewart, mesmo casal de Um Corpo que Cai. Ela é a dona de uma loja de esculturas africanas em Nova York bem insatisfeita com sua condição de feiticeira. No caso, feiticeiras não são mulheres que estudam os poderes da natureza, nem aquelas velhinhas com verruga no nariz, e sim pessoas que nascem com dons de encantos, quase uma raça. Embora sonhe passar o natal com pessoas normais à sua volta (no filme elas freqüentam uma animada boate de iê-iê-iê chamada Zodiac), e um homem comum, se recusa a usar seus sortilégios para conquistar por não achar honesto. Quando descobrir que seu vizinho bonitão a quem paquera está noivo de sua rival dos tempos de colégio, repensa seus princípios éticos. Como toda comédia do tipo, e como 2 mais 2, já se sabe aonde tudo vai dar assim que se superar os obstáculos. Sob a ótica da virada das décadas 50/60, o enredo versando sobre o negar a natureza própria em troca do ser amado ou aceitar diferenças. Pode parecer datado porque em nenhum momento o personagem de James Stewart demonstra interesse em mudar qualquer coisa em si, só na mulher. Mas com aquele tehcnicolor berrante, graciosa trilha sonora swingada, essa misoginia pode se tornar outro atrativo charmoso da época. Novak sussurrando a música tema ao ouvido do gato para fazer feitiços é uma imagem realmente encantadora! Baseado numa peça teatral, o título original (Bell, Book and candle) é referência direta ao poema usado pelos inquisidores na hora de exorcizar bruxas, também tem seu argumento muito parecido com o de Eu Casei Com Uma Bruxa, filme com Veronica Lake, e de forma mais óbvia, deve ter servido de inspiração ao seriado A Feiticeira. Elsa Lanchester, a tia bonachona, foi imortalizada como a Noiva De Frankenstein no clássico da Universal.

Sortilégio de Amor – Bell Book and Candle

- EUA 1958 De Richard Quine Com James Stewart, Kim Novak, Jack Lemmon, Elsa Lanchester, Ernie Kovacs, Hermione Gingold , Janice Rule 103’Romance


DVD - Pra compensar os anos a fio em que se manteve inédito no VHS, há duas capinhas diferentes circulando por aí graças a tal Classics. Embora o filme esteja em widescreen com imagem relativamente boa, o material gráfico (capa, contracapa e menus) dá pena. Parece que tudo foi feito no paint brush! Como bônus, o trailer de cinema muito bonitinho e de mais alguns outros obscuríssimos.

Cotação:

6 de julho de 2008

A Profecia (2006)

Mais uma refilmagem desnecessária, até porque, foi fiel cerca de 85% e mesmo assim não deu em nada! É quase como anotar uma receita de bolo no programa da Ana Maria Braga feita por um cozinheiro chique. Jamais teremos o mesmo resultado, embora quem não saboreou o outro poderá até lamber os beiços. Engraçado é que enquanto Richard Donner aparece negando qualquer maldição nos extras do filme original, já que coisas ruins acontecem nos bastidores de comédias românticas, dramas, etc., o gorducho John Moore deste ressalta algumas vezes nos extras ter sofrido uma espécie de praga do coisa ruim quando os negativos de algumas cenas foram perdidos. Tais declarações oportunistas são um bom exemplo do tipo de profissional que ele é e em que condições o filme foi feito. Enquanto o outro era um suspiro sobre a difícil arte de se manter como casal feliz perto de todas as transformações culturais daquele período, este é uma gritante sucessão de sustos fáceis, que pra piorar não deixa de fazer sensacionalismo com fatos (e imagens!) jornalísticos recentes. No elenco, o rejuvenescimento do casal principal incomoda menos do que o envelhecimento do ator mirim que faz Damien. Enquanto o outro era adestradinho, este tem idade suficiente para tentar interpretar, e por isso soa falso, artificial na maior parte do tempo. A curiosidade máxima fica por conta de Mia Farrow como a babá cúmplice do garoto, embora na época do lançamento (06/06/2006) a atriz tenha dito que não via relação com seu papel memorável em O Bebê de Rosemary. De qualquer forma, A Profecia de 76 foi criado na cola do sucesso do filme de Roman Polanski. Verdadeiro marco do cinema de horror levou o medo para dentro dos lares felizes com o capeta conseguindo abrigo na pele de belas criancinhas. Ainda resta falar da falta que fez a tenebrosa trilha sonora composta por Jerry Goldsmith vencedora do Oscar de 77, mas isso já soaria a pedir demais.

A Profecia – The Omen

- EUA 2006 De John Moore Com Liev Schreiber, Julia Stiles, Marshall Cupp, Seamus Davey-Fitzpatrick, Mia Farrow, Carlo Sabatini 109’Horror


DVD - A Fox o disponibilizou sozinho e em um box contendo a trilogia original, mas a parte 4 feita para TV. A propósito, esta caixa foi comercializada assustadoramente 3 vezes, fazendo paralelo talvez só com os Star Wars no quesito oportunismo cinematográfico. O Disco do filme de 2006 nem capinha combinando com os outros 4 possui. Há duas cenas estendidas, além de um alardeado final alternativo que nada mais é do que também uma versão mais longa da vista no corte final. Vem ainda com alguns trailers dele e dois making offs, do filme e da trilha sonora. Como destaque, documentário (feito para TV sem esconder as entradas para intervalos) sobre a paranóia envolvendo o número 666. Exceto a faixa de comentários do diretor(!!!) e os trailers, tudo está legendado em português.

Cotação:

5 de julho de 2008

O Expresso do Horror

Filme ruim muito bom! Climático, o tempo fez bem a ele. Começa como terror de monstro clássico, e na segunda metade vira suspense, com inúmeros personagens freaks vítimas em potencial. Destaca-se entre estes um monge com sede de poder de rivalizar com Rasputin suspeitíssimo! Ainda consegue incluir ficção científica, zumbis e espionagem, mas acredite, tanta mistura não o transformou em uma comédia involuntária. Pelo menos não tanto quanto aparenta. Nessa virada de gêneros, Christopher e Lee e o sempre grande Peter Cushing (Drácula e Van Helsing respectivamente da Hammer) ainda terão a oportunidade de superar a inimizade em prol da solução do mistério. A presença dos dois com diálogos espirituosos (“Nós monstros? Mas nós somos britânicos!”) já valeria à pena, mas a trama é interessante. No começo do século passado (perto da revolução russa) paleontólogo (Lee) embarca em trans-siberiano junto a misterioso fóssil que descobriu. Ao tentar arrombar o caixote que o transporta, famoso ladrão aparecerá assassinado, com os olhos brancos esbugalhados. A criatura tem o poder de absorver a mente de quem se aproxima, e claro, essa primeira morte vem bem a calhar para quem está preso. Toda a ação se passa dentro do claustrofóbico trem, o que faz com que não seja permitido a ninguém o desembarque ou embarque. Além, óbvio, de poupar recursos financeiros. Divertidíssimo, tem alguma violência gore explícita.

O Expresso do Horror – Horror Express

- Inglaterra/Espanha 1973 De Eugenio Martín Com Christopher Lee, Peter Cushing, Alberto de Mendoza, Silvia Tortosa, Julio Peña, Ángel del Pozo, Helga Liné, Alice Reinheart, Juan Olaguivel, Telly Savalas 87’Horror/Suspense


DVD - Lançado em VHS como Horror Express e em DVD duas vezes, pela London (WorksDVD) e a obscura Kives, é um desperdício com tantos filmes de horror do período simplesmente inéditos no Brasil. Pode-se colocar a culpa na falta de direitos autorais já que haveria uma disputa judicial envolvendo os herdeiros do produtor. Esta cópia (da Kives) manteve a arte igual na capa igual à lançada nos EUA, e sua metragem idem, com três minutos a menos. A imagem em widescreen apresenta alguns riscos, mas servem de charme pelo estilo da produção. Nesse sentido é legal não estar nítida demais, ou restaurada, preservando aquela cara trash 70’s, com fotografia desbotada. Os extras se resumem às gigantescas filmografias de Lee e Cushing.

Cotação:

4 de julho de 2008

César e Cleópatra

Quando se chama um filme de teatro filmado normalmente nos referimos a adaptações ruins, onde a ação se passa somente em um cenário. No caso desta versão inglesa da mais famosa rainha egípcia, também se encaixa nas interpretações forçadíssimas, pomposas, como se a alma do Old Vic, tivesse sido registrada em película. Vivien Leigh pobrezinha, atriz consagrada, paga um dos maiores constrangimentos de sua carreira. Até porque, o roteiro oriundo da peça de Bernard Shaw (também responsável pelos diálogos) não ultrapassa a primeira fase da história dela, se restringe à época em que César invadiu o Egito, quando Cleópatra era adolescente. Sobrou pra eterna Senhorita Scarlet fazer micagens na intenção de se passar por adolescente. Pra piorar, embora tenha tons cômicos, mostra muito mais (e de forma pesada) a política do período do que o romance Real, relegando a Leigh quase um papel secundário. A sucessão de erros só não é completa porque a produção, até então a mais cara do velho mundo, é caprichada. Pode não ter aqueles milhares de figurantes que Hollywood geralmente dispõe, mas cenários, figurinos e fotografia deixam a versão que a Fox fez nos 60 comendo poeira.

César e Cleópatra – Caesar and Cleopatra

- Inglaterra 1945 De Gabriel Pascal Com Vivien Leigh, Claude Rains, Stewart Granger, Flora Robson, Francis L. Sullivan, Anthony Harvey, Anthony Eustrel 122’Drama


DVD - Não há extras relevantes que supra uma imagem muito tosca do filme. Nesse caso nem extras há fora as biografias dos protagonistas! O que duplica a raiva pela imagem quadriculada, visivelmente baixado da internet. O nome de Vivien Leight está grafado de forma errada três vezes na embalagem. Vivian!!!

Cotação:

1 de julho de 2008

Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos

Nem tão podreira quanto as produções anteriores, nem tão calculado quanto as posteriores, a obra máxima de Pedro Almodóvar. Com roteiro mirabolante, chamou a atenção do mundo a ponto de criar um estilo, um cinema embebido em referências do que há de mais ridículo na cultura popular, cheia de emoções baratas. Entrou ao seleto grupo de diretores que tiveram seu nome transformado em sinônimo. Ao comentar este filme, a sisuda crítica Pauline Kael o descreveu como “o diretor-roteirista mais original da década de 80, um Godard com rosto humano e alegre”. Carmen Maura é Pepa, atriz televisiva que na ruína de seu relacionamento se mete num enredo rocambolesco, cheio de coincidências absurdas típicas de literatura vagabunda e das comédias lunáticas estreladas por Cary Grant e Katharine Hepburn nos anos 30. Quanto mais a trama se complica, mais vira um espetáculo engraçado e ímpar. Almodóvar jamais conseguiu resultado tão bem acabado e de sabor tão fresco novamente, tentando em suas duas produções seguintes (Atame! e Kika) uma mal sucedida consagração de formula. Com uma carreira singular, cheia de êxitos (hoje em dia fora do circuito cult), já demonstrava há duas décadas o hábito de fazer com que seus trabalhos dialogassem entre si. Como se os 16 longas-metragens fossem um novelão latino que nos obriga a torcer para não acabar nunca, tal e qual a fã mais tresloucada de Dallas. Este Mulheres, por exemplo, tem pinceladas de A Voz Humana de Jean Cocteu, não por acaso a peça que o transexual Tina (também Carmen Maura) interpreta na peça dentro de A Lei do Desejo, sua película anterior. Aqui fica evidente a importância do Oscar além de starlets exibirem seus vestidos: Serve para dar visibilidade a trabalhos de outros países, embora não faça milagres. Indicado a filme estrangeiro na festa da Academida de 89, perdeu (!!!) para Pelle, O Conquistador, um daqueles com criancinhas sofredoras. Exatos 20 anos depois, não terá muita graça comparar a carreira do espanhol com a de Billie August...

Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos – Mujeres al borde de un ataque de nervios

- Espanha 1988 De Pedro Almodóvar Com Carmen Maura, Antonio Banderas, Julieta Serrano, María Barranco, Rossy de Palma, Kiti Manver, Fernando Guillén 90’ Comédia


DVD - A MGM/Fox o distribuiu no mercado brasileiro em minúscula tiragem sozinho e depois numa caixa, que também se evaporou das lojas. Muito pobrinho e limitado perto do que o filme sugere. Com menus estáticos sem graça, tem como único extra um trailer. Mas nem é o original, e sim o do mercado americano o anunciando como se fosse algo vindo de Marte.

Cotação: