12 de agosto de 2008

Encarnação do Demônio

O dia em que veríamos um novo José Mojica Marins nos cinemas parecia não chegar nunca! Mas chegou, com baixo orçamento como se esperava e uma inacreditável distribuição da Fox. Se tudo correr bem, ou seja, tiver bilheteria satisfatória, talvez a filmografia nacional escape da atual arapuca favela - elenco da Globo - drama. Há tela pra todo tipo de platéia. Embora a entrada custando quase duas notas de 10 Reais, sabe-se que esta platéia só pode vir da classe média. Diante do caos crônico, assistir uma nova desventura do coveiro mais famoso do mundo ganha status de momento histórico em nossas vidas! Mojica continua sendo único, criador de uma mitologia 100% nacional, diretor à base de boas idéias executadas a duras penas, sob o olhar de viés de um publico cada vez mais acostumado ao óbvio e ululante. Infelizmente o roteiro escrito por Dennison Ramalho, tendo como base argumento do cineasta, faz concessões a essa vertente de entretenimento fácil. Se no filme anterior (Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, 1967) havia uma trama bem certinha onde personagens bem delineados giravam em torno do protagonista que buscava a mulher superior, agora temos o Zé do Caixão exibindo sua crueldade a torto e a direito, e só! São tantas garotas em tão pouco tempo que a motivação principal da esposa que gerará seu filho vira pó. Encarnação do Demônio parece confirmar os roteiros mal estruturados como o defeito mor do cinema daqui, não se sabe se por pressa ou falta de recursos, parecem receber pouco tratamento. A edição (só na base do picadinho!) também não nos dá tempo suficiente para que haja empatia com qualquer das vítimas a ponto dos crimes nos importarem. Entre muitas boas sacadas, os fantasmas dos filmes anteriores reaparecem em preto e branco conforme foram fotografados no passado. O grande Jece Valadão faz um policial caolho fabuloso e de tabela nos faz indagar porque filmes brasileiros desprezam tantos atores típicos da mídia. Sua morte, com o trabalho incompleto, forçou a várias (ótimas) trucagens para não eliminar o ator. Mesmo inserindo um substituto, em momento algum o resultado lembra o absurdo de Bela Lugosi em Plan 9 from other Space. Ainda no elenco (de uma forma geral bem coeso e esforçado), há dois ícones das nossas telas que merecem atenção: Cristina Aché e Helena Ignez. José Celso Martinez Corrêa, diretor de teatro, tem presença over desnecessária, em um inferno de resultado idem. Lá, convence pouco que pessoas têm seus olhos e boca costurados (de verdade!) por um capeta que usa luvas cirúrgicas, assim como a presença da morte representada de maneira bem óbvia por garota muito magra de capuz negro. Como fim de trilogia, não é a chave de ouro que merecia, como cinema, embora com seus defeitos, ainda é bem superior à maioria das tranqueiras que os norte-americanos desovam em nossas telas todas as semanas.

Encarnação do Demônio - Encarnação do Demônio

- Brasil 2008 De José Mojica Marins Com José Mojica Marins, Giulio Lopes, Milhem Cortaz, José Celso Martinez Corrêa, Jece Valadão, Helena Ignez, Rui Resende, Eduardo Chagas, Cristina Aché, Thais Simi, Cléo De Páris 98’ Horror


*** Em cartaz ***

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