8 de outubro de 2008

Saló - 120 dias de Sodoma

O filme mais insultuoso e subversivo já feito em todos os tempos tem desconcertante artificialismo cênico. Espetáculo repulsivo quase insuportável de ser revisto, choca antes pela crueza das idéias que defende do que pelas imagens mostradas. Vai radicalmente na contramão do cinema que se acredita ser antes de tudo entretenimento, uma forma de escape. Pasolini, em seu último trabalho, sentia então, resquícios do fascismo na Itália, mas é inegável que ali está todo e qualquer país de qualquer época pseudo civilizada. Enquanto o povo nada literalmente na merda, os poderes vigentes, Estado e igreja, caiem na farra auto-afirmando sua duvidosa superioridade. A história (inspirada em Marquês de Sade) transcorre na década de 40 quando, com o fim de Mussolini, grupo de autoridades mantém grupo de adolescentes presos para a realização de todos os seus desejos, por mais porcos, cruéis e degradantes que possam ser. Se há rapazes armados mantendo a ordem sem a mínima reação humana, não faltam pequenos delatores entre as jovens “vítimas” (de origens humildes semelhantes) preparadas a apontar o próximo. Dividido em três partes, o Ciclo da Paixão, da Merda e do Sangue, faz pensar o último não ter fim, trazendo tal desgraça para o lado de cá da tela, embora as três putas velhas que narram histórias escabrosas tentem nos fazer acreditar que não passa de um conto de fadas tenebroso. Sem exageros, dá vontade de vomitar e inigualável mal estar social. Poderoso na construção de seu universo sistemático, não foi à toa ter sido proibido em muitos países e continuar inédito em DVD.

Saló - 120 dias de Sodoma - Salò o le 120 giornate di Sodoma

- Itália/França 1975 De Pier Paolo Pasolini Com Paolo Bonacelli, Giorgio Cataldi, Umberto Paolo Quintavalle, Aldo Valletti, Caterina Boratto, Elsa De Giorgi, Hélène Surgère, Sonia Saviange 116’ Drama


Cotação:

3 comentários:

  1. Estou com uma cópia e será um dos próximos a serem vistos na minha lista.

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  2. Eu vejo qualquer filme de terro e embora não seja do gênero, ele incomoda demais, é realmente desconcertante, de tirar o fôlego. Eu adoro os diretores italianos, mas eles são uns dementes.

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