4 de setembro de 2011

Enrolados

Difícil assistir filmes com a chancela Disney sem uma certa má vontade. Na primeira cantoriazinha a gente já torcer o nariz sem nem prestar atenção ao que se trata a música.

Enrolados aponta para um esforço monumental do estúdio em se adaptar aos novos tempos. Precisa manter a linha que todos crescemos aprendendo a reconhecer como da casa do Mickey, mas também fazer dinheiro na bilheteria, interessando a um público cada vez menos interessado em cinema, além dos minutos que passará sentado assistindo.

Começa por adaptar uma princesa clássica como de costume (Rapunzel), mas não usar seu nome no título como de costume. Usaram um trocadilho com uma gíria que dá mais a impressão de romance do que a aventura que nos será apresentada.

Há ainda aquelas perversões à história original. Lembro pouquíssimo de Rapunzel, mas lembro (principalmente pela versão do Sitio do Pica Pau Amarelo) que o príncipe caia numa armadilha ao tentar subir pelas tranças, despencando de cara num roseiral.

Aqui, evidente, nada de cegueira com sangue espirrando pelos olhos. A guria nem trança usa como escada, vive com ele solto, tal e qual uma dessas evangélicas radicais que vemos por aí.

Mas nem por isso é uma história tolinha, como vimos em coisas de fundo puramente mercantilista como Pocahontas. Não há um fiapo de história cheio de músicas com começo, nada de meio e final feliz.

É bem desenvolvido, interessante tanto para adultos quanto para crianças. Bom sinal para o primeiro longa tendo John Lasseter num cargo executivo, alma da Pixar, parece ter conseguido injetar algum fôlego nos poupando de outro comercial animado gigante.

Até as canções são divertidas, ajudando no (desculpe o trocadilho) desenrolar da história sem parar tudo para a ouvirmos. Particularmente achei graça perceber uma evidente (para adultos) analogia com sexo.

Mais precisamente a perda da virgindade. Quando desobedece a suposta mãe, que havia lhe botado muita caraminhola na cabeça sobre o mundo lá fora e os homens malvados, ela oscila entre maravilhada e muita culpa, vergonha e remorso por ir contra as palavras da velha.

Outro momento é quando ouve da mulher que assim que ela entregar a bolsa com a coroa para ele o perderá. Acabará o romance assim que o galã colocar as mãos no que lhe interessa.

Falando na vilã, entrou direto para a tradicional galeria das melhores! Com um ar de Cher com Gloria Swanson, suas aparições são empolgantes e nos remetem (principalmente seu fim) às produções da Hammer.

Desconfortável mesmo é a relevância de se jogar balões ao ar. Pode ser algo exótico nos Estados Unidos (buscaram referências em tradição asiática), mas no Brasil é uma praga que nos assola durante as festas juninas.

Outra coisa estranha é a Disney incluir uma animação computadorizada no seu rol de longas. Pela primeira vez assume se tratar do 50º, colocando no mesmo balaio Família do Futuro, aquele do cãozinho branco com Pinóquio e Cinderela.

Enrolados - Tangled

- EUA 2010 De Nathan Greno e Byron Howard Com as vozes de Mandy Moore, Zachary Levi, Donna Murphy 100’ Ação/Animação


Blu-Ray- Fantasticamente cristalino, mesmo com a ausência de poros visíveis na pele dos personagens, nos oferece riqueza espantosa de texturas nos cenários e figurinos. É provável que em outros formatos perca boa parte da graça.

Bônus não são muitos, mas interessantes como cenas inéditas ainda em storyboards, músicas estendidas e um documentário apresentado por Mandy Moore, Zachary Levi localizando o filme dentro da história das animações Disney.

Interessante a existência da montagem (que tinha se tornado um viral no You Tube) com a contagem de todas as 50 animações deles, de Branca de Neve a Enrolados.


Cotação:

8 de fevereiro de 2011

Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas

Adaptação mais famosa da história real de Bonnie e Clyde, o jovem casalzinho que horrorizou os EUA numa onda de crimes na década de 30. A paixão da América por criminosos é antiga, vide a lenda Billy The Kid e outros caras maus do velho oeste.

Essa dupla aí teve o diferencial da maciça exploração de seus feitos pela mídia. E eles adoravam, se sentiam estrelas de Hollywood, toda hora com fotos publicadas nos jornais, muitas delas facilmente encontradas hoje na web.

Ela (Faye Dunaway )uma garçonete entediada, ele (Warren Beatty , também produtor) um ex detento que escapou da prisão ao decepar de propósito dois dedos do pé. Entraram para a história como um casal apaixonadíssimo, unido até no crime, embora Clyde fosse impotente.

O filme narrava suas desventuras em ritmo de comédia maluca 30’s, muito leve, com vários momentos cômicos, embora tenha bastante violência. É considerado o primeiro a mostrar os estragos de uma bala na pele humana.

Para que se torça por eles (mesmo com o final conhecido por todos), justificam os atos deles. Tornam-se quase Robin Woods da época da lei seca ao se depararem com um fazendeiro cheio de filhos que perdeu a casa para os banqueiros.

Os jornalistas, embora não apareçam nunca, são tão cúmplices dos atos quanto a dupla e seu bando. Publicavam tudo o que eles queriam, até poesias juvenis da Bonnie, que eram consumidas por ávidos leitores em busca de sangue em seus matutinos.

Chega-se a um ponto que eles parecem estar agindo apenas para que haja o que ser noticiado. E melhor, não fazem questão nenhuma de se esconder, tanto que um dos membros reclama que o nome dele nunca é citado nas matérias.

No final, parece que qualquer ligação com os personagens reais não se justifica. É muito mais sobre pessoas que vão ao encontro do destino que querem, não o que a vida lhes reservou, do que sobre a trajetória de dois marginais que se amavam.

Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas - Bonnie and Clyde

- EUA 1967 De Arthur Penn Com Warren Beatty, Faye Dunaway, Gene Hackman, Michael J. Pollard, Estelle Parsons 112’ Ação/Romance


DVD- Deve haver outra edição, dona Warner. Pelo amor de Deus!
Menu estático, com botões gigantes horríveis é o de menos perto da tela cheia e áudio em apenas 1 canal. UM!


Cotação:

6 de fevereiro de 2011

Cisne Negro

Nina é tudo o que se espera das mitológicas bailarinas. Casta, tem um quarto cheio de bichinhos de pelúcia, tratada a pão de ló pela mamãe.

Quando é escolhida para substituir a primeira bailarina da companhia de dança numa montagem de O Lago dos Cisnes seu mundo soft desmorona. Na luta para encontrar o cisne negro em sua arte, afunda-se em seus terrores internos.

E o que seria do cinema de Hollywood sem o maniqueísmo? Sem a fé na unilateralidade do ser humano?

O filme é prazeroso principalmente em sua fechada construção em torno da protagonista. Pouquíssimos personagens, cenários, pirotecnias, sobra bastante espaço para se apreciar as interpretações.

Não é de se estranhar Natalie Portman já ter conquistado alguns dos principais prêmios de sua categoria e ser favorita ao Oscar de 2011. Sobra muito pouco se olharmos com distanciamento da emoção que sua personagem transmite.

Como se as asas negras de Darren Aronofsky tivessem sido podadas de um vôo maior em nome de pretensiosa qualidade artística. Aquele pavoroso e artificial verniz de “film d’art” que o cinema americano imprime em obras com possibilidades de competir ao grande prêmio da Academia.

Assim, todas as chances da história se tornar livre em sua fantasia vão por terra sempre. Tanto que o que seria surpreendente torna-se risível, absolutamente sem sentido no meio daquele mundo cão realista de câmera trêmula.

Um pouco mais de deboche, sem medo do peso kitsch, faria bem. Soaria menos pegadinha para platéias simplórias acreditarem estar diante de uma obra-prima transcorrida no elitista universo do balé.

Cisne Negro – Black Swan

- EUA 2010 De Darren Aronofsky Com Natalie Portman, Vincent Cassel, Mila Kunis, Barbara Hershey, Winona Ryder 108’ Drama/ Terror psicológico


*** Em Cartaz ***

Cotação:

14 de fevereiro de 2010

Olhos na Floresta

Ingenuidade esperar muito deste terror dos estúdios Disney. Aliás, um dos raros filmes de terror onde ninguém morre, portanto, nem pense ver o mínimo possível de gore.

Mas o suspense é ok! Na medida do possível, ou seja, prenda a atenção até a resolução estúpida do mistério principal.

Bette Davis voltava ao estúdio do Mickey após ter sido a vilã ao lado de Christopher Lee em A Volta da Montanha Encantada (Return from Witch Mountain, 1980), lançado em DVD no Brasil. Repete aqui o papel que fez muito nos últimos anos de sua carreira: A velha louca com mistérios no passado.

No caso, ela é a eremita que espanta todos os futuros inquilinos da mansão que possui no meio de uma floresta. Aceita um casal com duas filhas, porque vê na mais velha semelhança Karen, sua filha que desapareceu de forma misteriosa há décadas.

Daí a garota mais velha começa a ter visões com uma loira, igual a ela, pedindo ajuda e a menor a ouvir vozes. Acabam tendo que desvendar em que circunstância Karen sumiu.

O resultado é tão bobinho, que se não fosse Davis este filme nunca mais seria lembrado depois de sua estréia. Mas nem da grande atriz dá para esperar muito já que tem pouco tempo em cena.

Outra muito mal aproveitada é Carroll Baker, fazendo a mãe da dupla de protagonista. Por um triz entra muda e sai calada.


Olhos na Floresta - The Watcher in the Woods

- EUA 1980 De John Hough Com Bette Davis, Lynn-Holly Johnson, Kyle Richards, Carroll Baker, David McCallum, Benedict Taylor 84’ Horror


Cotação:

Avatar

Difícil avaliar. Dá pra dizer que quem gosta de cinema deve ir assistir, porque além de irrepreensível produção, tecnologicamente aponta para caminhos futuros bastante interessantes.

Por outro lado, é um daqueles filmes medíocres e previsíveis como qualquer outro que almeje lucro fácil. Daqueles repletos de clichês para que a platéia média se sinta segura em navegar por mares conhecidos.

O velho bole bole de pessoas fora do tido como normal pela sociedade (no caso um deficiente físico) revolucionando instituições tradicionais. Tipo Para Woong Foo, Obrigado Por Tudo Julie Newmar (e centenas de outros), que ao final nada mais sobrava do que “são drags mas são limpinhas”.

Não abrindo mão destes pontos caros ao cinemão (maniqueísmo, inverosimilhança, etc.) é possível não prever cada segundo de metragem. O texto ruim, com frases de efeito (“Vou mas meu coração ficará!” ou coisa que o valha) chega a dar certo humor involuntário.

Cada personagem que aparece é descrito narrativamente por outro, assim como qualquer detalhe da história! “Poxa, tio! Não sou burro! Deixa eu refletir um pouquinho?”.

Em contrapartida, a inovadora técnica 3D utilizada é FABULOSA! Não sei se em todas as salas o resultado é como foi numa IMAX, mas assisti-lo é mesmo experiência realista e única e já se sai do cinema querendo ver outros filmes semelhantes.

Se Hollywood procurava uma forma de derrubar a pirataria, achou! Quem fez download ou comprou um DVD pirata, não assistiu Avatar. Ou, simplesmente ficou com a pior parte dele, descrito no início deste texto.

Tão bacana que eu daria nota máxima se não fosse a duração absurda, que dilue o impacto do 3D. Depois de quase três horas sentado poderia ser até em 6D que eu pouco estaria me lixando.


Avatar - Avatar

- EUA 2009 De James Cameron Com Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Giovanni Ribisi, Stephen Lang, Joel Moore, Michelle Rodriguez, 162’ Ficção Científica


*** Em Cartaz ***

Cotação:

23 de outubro de 2009

O Inquilino

Roman Polanski atua e filma sobre algo que conhece bem: o desconforto de ser estrangeiro num ambiente hostil. É desfecho da chamada trilogia do apartamento, precedido por Repulsa ao Sexo (65) e O Bebê de Rosemary (68).

Jovem polonês que mora na França só alugará o apartamento se a antiga inquilina não sobreviver. A garota, que só é vista toda enfaixada no hospital, inexplicavelmente pulou da janela.

Os outros moradores, claro, são uns velhos estranhíssimos, que impõe inúmeras regras e têm hábitos suspeitos pelas trevas da madrugada. Residindo lá, o pacato e submisso protagonista passará do deslocamento à loucura total.

Tentando se manter alheio às intrigas e grosserias, se afastará da realidade enquanto cria um pouco seguro universo particular. Aos poucos passará a crer que ele e a suicida são a mesma pessoa, ou que isso é imposto pelos vizinhos.

A derrapada (de leve) está em tentar explicar demais, dá certeza de que tudo acontece dentro da cabeça e não que ele foi morar num coven. Ao mesmo tempo, há incontáveis coisinhas que tinham peso mas são deixadas pelo meio do caminho.

Com estrutura de noir (o trabalho anterior de Polanski foi Chinatown, 74), é muito bem sucedido em interpretações, clima claustrofóbico apoiado por direção de arte irrepreensível, mas o maior trunfo é a exploração do medo pessoal. Muito pouco visto no cinema, até porque não é fácil expor o distúrbio psicótico onde o portador é a vítima, não o criminoso.


O Inquilino - Le locataire

- França 1976 De Roman Polanski Com Roman Polanski, Isabelle Adjani, Melvyn Douglas, Jo Van Fleet, Jacques Monod, Lila Kedrova, Shelley Winters , Josiane Balasko 126’ Horror



Cotação:

22 de outubro de 2009

A Menina e o Porquinho (1973)

Ousadia da Hanna-Barbera, tradicional estúdio de curtas, ciscar no terreno Disney. Por décadas a casa do Mickey era sinônimo de longas em animação.

Tecnicamente este desenho tem todos os defeitos dos produtos H-B que bem conhecemos da TV, econômicos, muitas vezes os personagens só movem a boca. Isso se torna mero detalhe diante da história encantadora, com imortal lição de coleguismo.

Talvez o nome em português possa frustrar, já que a menina em questão participa só no começo, quando não permite que o porquinho Wilbur seja sacrificado. Ele não foi vendido como os demais por ter nascido menor que os demais.

Adulto e gordinho, o amigo rosa vai morar em outra fazenda, e lá, para não virar toicinho contará com a auxílio de Charlotte. A aranha solidária usará sua teia para falar aos humanos que belo suíno eles têm.

Essa atitude altruísta envolverá todos os outros animais direta ou indiretamente numa teia da bondade. Portanto, com esse trocadilho com a rede (web) da ajuda, o título original, idêntico ao do livro que o inspirou, dá mais sentido à trama.

Com algumas canções menos enfadonhas do que minha memória guardava, ainda dá pra assisti-lo tranquilamente. Graças ao ritmo lento, deve agradar apenas as crianças bem novinhas, embora se eu tivesse um filho, pela valiosa lição, forçaria um pouco a barra.

Nunca tinha assistido inteiro, mesmo tendo sido exibido incontáveis vezes nas tardes da Globo dos anos 80. Estudava de manhã, então, ainda mais com aquelas músicas, acabava dormindo na metade, esparramado no sofá.

Em certo ponto, A Menina e o Porquinho sempre causava choradeira entre a galerinha lá de casa. Depois de adulto não me pareceu tão sentimentalóide.

Curiosamente ele usa atores famosos, prática que só se tornaria comum dos estúdios Disney nos trabalhos recentes. As vozes de Debbie Reynolds (como a aranha Charlotte) e Agnes Moorehead (a gansa atrapalhada) são identificáveis, e um motivo a mais para curtir.

As duas eram amicíssimas a ponto de alimentar as línguas ferinas da época sobre um suposto affaire entre as duas. Moorehead, atriz shakesperiana conhecida como a Endora do seriado A Feiticeira, faleceria no ano seguinte, sendo este seu último trabalho para o cinema.


A Menina e o Porquinho - Charlotte's Web

- EUA 1973 De Charles A. Nichols Iwao Takamoto Com as vozes de Debbie Reynolds, Agnes Moorehead, Paul Lynde, Danny Bonaduce, William B. White, Henry Gibson 94’ Animação/Drama


DVD- Quando saiu o filme em live action protagonizado pela Dakota Fanning voltei a vê-lo nas boas lojas do ramo. Atenção porque há outro “A Menina e o Porquinho” bem baratinho, produzido por aqueles picaretas que vão na cola de sucessos e lançam títulos semelhantes. O clássico é da Paramount. Widescreen anamórfico, ótimo para quem não tem uma TV no formato já que as faixas negras costumam afugentar a petizada. Possui a dublagem em português que nos acostumamos na TV, além de dar a oportunidade de pela primeira vez ouvir a original, com as célebres atrizes com legendas em português. O único extra é o trailer original.

Cotação:

21 de outubro de 2009

Carrie, A Estranha (1976)

Brian de Palma brilhante demonstrando domínio na arte de filmar e manipulação da platéia. É o que ele mais tem de seu amado Hitchcock, muito mais do que referências visíveis.

Primeira adaptação de livro do Stephen King, abandona sua estrutura original, narrado em flashbacks com os depoimentos da sobrevivente Sue Snell e recortes de jornal. Linearmente a protagonista é envolvida na teia até a tragédia que todos estamos carecas de saber qual é.

Em mãos menos habilidosas escorregaria para a obviedade principalmente porque explora temas bem em moda no cinema 70’s: catástrofe e adolescentes problemáticos com “problemas” inexplicáveis ao senso comum. Carrie é uma garota que não consegue se enquadrar socialmente, como todo jovem se sente um pouco em qualquer época.

Criada por uma mãe fanática religiosa (Piper Laurie doentiamente espetacular!), paga o mico de ficar apavorada ao menstruar pela primeira vez no vestiário escolar. Impossível não ter vergonha por ela, e muita raiva da estupidez que lhe rodeia.

Hoje Carrie White seria facilmente identificada como sofredora de bullying. Pode claramente fazer referência a fatos recentes da vida americana, como o adolescente de Colombine que, desprezado pelos colegas, abriu fogo contra todos.

O que só a gente e ela sabemos, é que possui poderes telecinéticos, habilidade que lhe faz mover objetos com a mente. E está aí a graça de mesmo conhecendo o que vai acontecer (o próprio trailer mostra), seja a primeira ou a 20ª vez que se assiste, acompanhar o desprezo sádico daquelas meninas boçalmente nojentas de cabelo a lá Farrah Fawcett.

A subversão está em que em momento algum Carrie pareça uma coitada psicótica. Vai atrás pra tentar entender seus dotes mentais, peita a loucura materna e desconfia das boas intenções do mocinho com cabelo igual ao do Ovelha quando este lhe convida a ir ao baile da Bates High School.

O filme discute intensamente o que nos pertence, fruto do que adquirimos conscientemente durante a vida, herdamos geneticamente e o que os outros tentam nos impingir rotulando. Por duas vezes Carrie é emporcalhada fisicamente ao tentar ser ela mesma.

O diabo são os outros!


Carrie, A Estranha - Carrie

- EUA 1976 De Brian De Palma Com Sissy Spacek, Piper Laurie, Amy Irving, William Katt, Betty Buckley, Nancy Allen, John Travolta, P.J. Soles 98’ Suspense


DVD- Comercializado em três versões no Brasil. Há uma edição que só vem o trailer de bônus, uma edição “presente de grego” onde Stigmata o acompanhado e esta edição especial.

Para quem o viu como eu, a primeira e inesquecível vez na TV (TV Bandeirantes), depois o adquiri em VHS, parece estarmos assistindo a um novo filme! A imagem cristalina (com TODAS as sardas da Sissy Spacek aparentes) em widescreen, áudio 5.1 deixando a trilha sonora de Pino Donaggio ainda mais arrepiante...

Pena que o DVD saiu em 2000, primórdios da era digital, e nenhum extra venha com legendas. Há um longo documentário com todo o elenco (exceto Travolta) relembrando as filmagens, outro com making of, galeria de imagens, o espalhafatoso trailer original e muito texto em português sobre Stephen King.


Cotação:

A Sombra do Vampiro

O principal mérito é ser curto. Gigante desperdício de idéia genial, não chega a aborrecer, embora fique muito longe do que poderia ter sido.

O argumento versa sobre os bastidores do clássico expressionista Nosferatu, e a possibilidade de Murnau ter contratado um vampiro de verdade para encarnar o Conde Orlock. Daí que o vampiro quebra o acordo e sai atacando membros de equipe.

Talvez pela inexperiência do diretor, isso tudo não dá em nada, não se definindo como comédia, drama, suspense ou uma mescla de tudo isso. É insosso, embora a princípio fascine a recriação do ambiente cinematográfico nos primórdios.

Mas logo depois não dá para levar a sério nem isso, tendo como comparação as péssimas recriações do filme alemão de 1920. Completamente forçadas para justificarem ao argumento.

Há pelo menos uma sequência, quando o produtor interpretado por Udo Kier descobre a verdade sobre o vampiro, que se percebe a total falta de direção de atores. O texto diz uma coisa, eles interpretam outra.

Como tudo não anda nem desanda, Willem Dafoe como o tal príncipe da noite acaba destoando ridiculamente de todo o resto. As outras interpretações são caricatas, quase ofensivas na tentativa de reproduzir a forma como os atores atuavam na Alemanha dos anos 20.


A Sombra do Vampiro - Shadow of the Vampire

- EUA 2000 De E. Elias Merhige Com John Malkovich, Willem Dafoe, Udo Kier, Cary Elwes, Catherine McCormack, Milos Hlavac 92’ Drama


DVD- E pra azar total, filme independente (produzido com alarde por Nicolas Cage) saiu aqui por distribuidora pequena. E a Europa lança qualquer filme com o básico que tem á mão, poucos e importando do que se trate.

Tacou uns menus animados chatíssimos que não podem ser pulados. Pra piorar, o longa está em tela cheia (4x3), com qualidade de imagem sofrível, mas pelo menos preservaram o áudio 5.1.

De bônus incluiu trailer, making of curto e entrevistas idem. E absolutamente nada sobre o filme Nosferatu, o diretor Murnau, ou o verdadeiro Max Schreck, o que poderia ter valido a pena no DVD.


Cotação:

13 de setembro de 2009

Eu Quero Viver

Barbara Graham foi a garota saidinha que se meteu com os caras errados. De alegria dos randevouz saltou ás páginas policiais em manchetes escandalosas no início da década de 50 acusada de assassinar uma velhinha às pauladas.

Presa, jurou inocência até o fim, quando foi condenada à câmara de gás. Mesmo com todas as matérias sensacionalistas que assolaram os EUA, inclusive nos primórdios da TV, sua história comoveu todo o país transformando-a num símbolo anti a pena capital.

O drama real transformado em roteiro de Hollywood virou veículo perfeito para Susan Hayworth brilhar. Nem a um passo de morrer ela deixa de ser arrogante e amoral, embora consiga sensibilidade nos momentos onde clama pela vida e reencontra seu filho bebê na cadeia.

Não teve pra ninguém na cerimônia do Oscar daquele ano. Hayward (após outras quatro indicações) desbancou a eterna queridinha Elizabeth Taylor que concorria como Meg de Gata Em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof).

Robert Wise, especialista em filmes fantásticos como A Maldição do Sangue de Pantera (The Curse of Cat People, 1944), dirigiu esquivando-se do dramalhão rasgado que o material poderia proporcionar. Principalmente pela trilha sonora espetacular de jazz e o roteiro que apresenta apenas o que já havia sido propagado na mídia.

O possível assassinato surge em meio à chuva de acusações no tribunal. Somos surpreendidos assim como o réu.

Apresentado e encerrado por frases do jornalista Edward S. 'Ed' Montgomery (ganhador do Politzer), que acompanhou o caso (e segundo o roteiro se envolveu emocionalmente), o roteiro se assemelha a uma vislumbrada em recortes de notícias. É sucinto nas fases, e não perde muito tempo em longas cenas de tribunal.

Quase um King Kong. Sabe-se o que foi reservado à heroína no final, e mesmo assim são minutos de extrema tensão e suspense claustrofóbico.


Eu Quero Viver - I Want to Live!

- EUA 1958 De Robert Wise Com Susan Hayward, Simon Oakland, Virginia Vincent, Theodore Bikel, Wesley Lau, Philip Coolidge, Lou Krugman, Alice Backes 120’ Drama


DVD- Uma tristeza estes DVDs de obras da RKO, MGM ou United Artists distribuídos no Brasil. Temos o filme apenas e já vamos com sorte, que pelo menos foi comercializado, em meio a centenas ainda inéditos. Não entendi até agora que diabos é Classicline, porque alguns discos com esta marca não parecem pertencer à grande estúdio algum, mas nesse caso a capinha é cheia do leão da Metro. E são caros pra chuchu!

Cotação:

16 de agosto de 2009

Arraste-me para o Inferno

Havia uma verdade e uma mentira no trailer desta nova incursão ao Horror do gênio por detrás da trilogia Evil Dead. A mentira é que o filme faz menos uso dos efeitos digitais do que aparentava, o que é uma sorte, por já se saber que computadores e o gênero não combinam em nada. A verdade é que acima de qualquer outra avaliação um retorno ao cinema calafrio clássico, com gatos, maldições, bruxas, demônios, casarões e aqueles exageros típicos que exigem a cumplicidade do espectador.

Entretenimento com sabor de passeio em trem fantasma de parque itinerante. Se for pra ficar apontando falhas e incoerências, seria melhor não ter entrado naquele carrinho enferrujado.

Não tão longe do terror como muitos acreditam, já que produziu boa parte das adaptações americanas de filmes japoneses que assolaram o mundo nos últimos tempos, o velho Raimi se faz presente muito mais nas incontáveis referências aos Evil Dead do que na cinematografia em si. Não há rebuscamentos de ângulos surpreendentes ou sacadas visuais de tirar o fôlego.

A propósito, quem viu as famigeradas desventuras de Ash inúmeras vezes deve aproveitar muito mais Arraste-me Para O Inferno. Está lá o humor pastelão, fruto da paixão confessa de Sam Raimi pelos Três Patetas, o olho do demônio que salta direto á goela da mocinha, o possuído vestindo algo semelhante aos casacos chineses para que os cabos possam o fazer flutuar sem serem vistos, xícaras e objetos inanimados que gargalham e a trilha sonora dialogando com o trabalho de Joseph LoDuca e Danny Elfman, os dois compositores com quem mais fez parceria.

Com argumento moralista e sem arroubos de originalidade, é curiosa a aposta em temores religiosos nestes tempos high-tec ao invés da carnificina desenfreada. Tão longe de ser obra-prima quanto de decepcionar, como nas velhas fitas de horror toma proveito dos temores do momento em terras yankees: malditos estrangeiros que podem nos levar ao inferno!


Arraste-me para o Inferno - Drag Me To Hell

- EUA 2009 De Sam Raimi Com Alison Lohman, Justin Long, Lorna Raver, Dileep Rao, David Paymer, Bojana Novakovic, Reggie Lee 99’Horror


*** Em Cartaz ***

Cotação:

8 de maio de 2009

O Monstro do Circo

Tão espetacular que a limitação técnica da falta de som torna-se mero detalhe. Lon Chaney é um perigoso bandido, que para fugir da polícia, refugia-se num circo. Como possui seis dedos em cada mão (o que o identificaria facilmente), disfarça-se de atirador de facas sem braços. Na tenra idade, Joan Crawford é a belíssima filha do dono do circo e partner de picadeiro do malfeitor. Por coincidência, a garota tem aversão a que homens lhe toquem, portanto, vira alvo fácil do falso deficiente enquanto escapa dos galanteios do Homem Forte. E espere um verdadeiro desfile de personagens e ações bizarras, como automutilação e muitas reviravoltas na trama. Até um vigoroso final, ainda de prender o fôlego 82 anos depois! Chaney faz jus à alcunha de homem das mil faces num desempenho emocional e físico difícil de ser superado. Consegue, por exemplo, acender e fumar cigarro só com os pés com espantosa desenvoltura, assim como tocar violão. Parece que fez isso a vida toda. O diretor Tod Browning é muito famoso por ter feito Drácula, aquele de 31 com Bela Lugosi, e o maldito Monstros (Freaks, 1932), mas não há dúvidas de que neste O Monstro do Circo chegava ao auge de seu talento. Alegórico e divertido, traça um vigoroso estudo sobre a natureza humana, numa época em que a psicologia não estava tão avançado.

O Monstro do Circo – The Unknown

- EUA 1927 De Tod Browning Com Lon Chaney, Joan Crawford, Nick De Ruiz, John George, Frank Lanning 63’ Horror


Cotação:

6 de maio de 2009

Feliz Natal

Um filme brasileiro recente que não se passa em morro carioca, sertão ou nos brinde com as agruras amorosas da classe média já é louvável por si só! E confesso que comecei a assistir com as quatro patas no chão. A fotografia granulada e câmera trêmula me cheiravam a pretensão artística de atorzinho da Globo tentando ser gente no cinema. Preconceito! Ambos acordam completamente com o ambiente doméstico ao qual a história transcorre. Há que se lembrar que junto à tecnologia, a arte (essa coisa tão humana...) de interpretar sofre transformações, e a estréia de Selton Mello como diretor aponta caminhos novos tão drásticos a atores quanto a chegada do áudio ou o zoom. Interpretações tão cristalinas só possíveis no teatro, mas sem os exageros do palco. Ou melhor, a câmera digital nos transporta dolorosamente para dentro da ação quase como bisbilhoteiros, vasculhando cada emoção por mais sutil que seja em “tempo real”. E o cineasta se cercou de um elenco tarimbado, embora não óbvio, para que a experiência seja a mais correta possível. Darlene Glória, por exemplo, está estupenda como a mãe alcoólatra que já desistiu a muito tempo de segurar as pontas da família em frangalhos. Mello acertou na primeira tacada não só pelo que se assiste, mas pelo filme continuar a existir em nossa mente quando ele acaba. Tijolo por tijolo os personagens vão se revelando, tão ricos e tão miseráveis em sua existência que mesmo sem sobrar o que ser amarrado no final é nítido que pertencem a este mundo.

Feliz Natal – Feliz Natal

- Brasil 2008 De Selton Mello Com Darlene Glória, Paulo Guarnieri, Lúcio Mauro, Leonardo Medeiros, Graziela Moretto, Fabricio Reis, 100’ Drama


Cotação: