27 de setembro de 2008

Estrela Nua

Raro filme brasileiro que não busca o naturalismo. Os diretores José Antônio Garcia e Ícaro Martins, em última parceria, vinham da comédia Onda Nova e apontavam agora para um caminho mais maduro. O argumento brilhantemente original tem respingos de inúmeros outros filmes. São visíveis referências que vão de Buñuel, Billy Wilder a Otto Preminger, passando sobre tudo pela trilogia do apartamento de Polanski. Atriz famosa (Cristina Aché) sufocada pela superexposição de sua imagem morre (talvez suicídio?) antes de completar a dublagem de último trabalho Nelson Rodriguiniano, deixando aberta a vaga para uma novata. Essa outra é Carla Camurati, mãe solteira que ao entrar no universo cinematográfico acabará misturando sua personalidade à da morta. Se a idéia é ótima, sua execução beira o amadorismo técnico. É provável que seja proposital que uma história sobre bastidores de cinema/dublagem tenha a dublagem muito tosca, mas não deve haver outra desculpa à edição de qualquer jeito, fotografia acidental, cenários miseráveis... Numa cena, o restaurante tem paredes brancas, sem janela nem nada. Há ainda inúmeros personagens rasos, sem maiores funções à trama, ocupados por, quem sabe, amigos pessoais dos diretores. Como trilha sonora, além de faixas originais compostas por Arrigo Barnabé, ouve-se praticamente um disco inteiro dos Mutantes. O roteiro que jamais se assume comédia, drama, suspense ganhou inacreditável desfecho bobo, como se precisasse justificar seu surrealismo. Mesmo assim, estes tantos percalços não diminuem o valor artístico da obra, chegando até a dar certo sabor de happening, de imediatismo. Como diz o personagem da Vera Zimmerman: “Cinema nacional é foda!”.

Estrela Nua

- Brasil 1984 De José Antônio Garcia e Ícaro Martins Com Cristina Aché, Carla Camurati, Selma Egrei, Jardel Mello, Cida Moreira, Ricardo Petráglia, Vera Zimmerman 90’ Drama


DVD- Palmas para a Cinemagia, que corajosamente lançou Onda Nova e Estrela Nua com imagem em fullscreen, mas boa. Resta saber se O Olho Mágico do Amor, dos mesmos diretores também saiu por eles. Como material bônus galeria de fotos promocionais e biografias em texto. Na contracapa tem uma lista dos inúmeros prêmios que o filme recebeu. Embora Camurati seja a protagonista levou em Gramado o Kikito de coadjuvante!

Cotação:

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