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3 de janeiro de 2009

O Cheiro do Ralo

Desde Macunaíma não tínhamos um personagem tão brasileiro nas telas. O canalha com justificativas passa a perna até na Dora de Central do Brasil. Lourenço é o dono de uma casa de penhores que pra ganhar mais precisa se desfazer do que lhe oferecem. No começo tinha dó, depois acabou se acostumando porque “precisa sobreviver”. Daí a tratar pessoas como as quinquilharias que o cercam será um pulo. Solitário, apaixona-se pela bunda da balconista do boteco. Leia bem, não a balconista, só a bunda! O título bizarro combina tal e qual com a galeria de seres que aparecem a todo instante. Todos sem nomes, fora a empregada doméstica que depois de sete anos avisa Lourenço do equivoco que ele comete a chamando de forma errada. É um filme leve e inteligente, feliz em seu disfarce de comédia ligeira. Só que com sua busca desesperada em conseguir uma estética Cult demora a nos envolver naquele universo. Nos extras descobre-se que a inspiração principal talvez seja as pornochanchadas, porque o Selton Mello (excelente como protagonista embora aparente ter muito menos idade do que o personagem) assume a inspiração em Paulo César Pereio. Já a produção assume lado algum. Tentando parecer internacional, atemporal, todo o resultado foi pra lugar nenhum, uma espécie de limbo artístico. Aquele mesmo lugar onde o Coyote busca incansavelmente capturar o Papa-Léguas. Bacana mas distante.

O Cheiro do Ralo

- Brasil 2006 De Heitor Dhalia Com Selton Mello, Paula Braun, Paulo Alves, Susana Alves, Roberto Audio, Jorge Cerruti, Fabiana Guglielmetti, Sílvia Lourenço, Lourenço Mutarelli 112’ Comédia


DVD- Dá pra imaginar pelas cenas deletadas o trabalho que a edição deve ter dado. Nenhuma delas aparenta estar inferior ao que vimos na tela. Tem um making of profissional, tipo filme mesmo, diferente dos tapa buraco que as distribuidoras de DVD por hábito costumam nos impingir. Outra demonstração de capricho da Universal é o diário longo do Selton Mello, onde se sente o sacrifício que deve ter ser fazer cinema com tão pouca grana.

Cotação:

27 de setembro de 2008

Estrela Nua

Raro filme brasileiro que não busca o naturalismo. Os diretores José Antônio Garcia e Ícaro Martins, em última parceria, vinham da comédia Onda Nova e apontavam agora para um caminho mais maduro. O argumento brilhantemente original tem respingos de inúmeros outros filmes. São visíveis referências que vão de Buñuel, Billy Wilder a Otto Preminger, passando sobre tudo pela trilogia do apartamento de Polanski. Atriz famosa (Cristina Aché) sufocada pela superexposição de sua imagem morre (talvez suicídio?) antes de completar a dublagem de último trabalho Nelson Rodriguiniano, deixando aberta a vaga para uma novata. Essa outra é Carla Camurati, mãe solteira que ao entrar no universo cinematográfico acabará misturando sua personalidade à da morta. Se a idéia é ótima, sua execução beira o amadorismo técnico. É provável que seja proposital que uma história sobre bastidores de cinema/dublagem tenha a dublagem muito tosca, mas não deve haver outra desculpa à edição de qualquer jeito, fotografia acidental, cenários miseráveis... Numa cena, o restaurante tem paredes brancas, sem janela nem nada. Há ainda inúmeros personagens rasos, sem maiores funções à trama, ocupados por, quem sabe, amigos pessoais dos diretores. Como trilha sonora, além de faixas originais compostas por Arrigo Barnabé, ouve-se praticamente um disco inteiro dos Mutantes. O roteiro que jamais se assume comédia, drama, suspense ganhou inacreditável desfecho bobo, como se precisasse justificar seu surrealismo. Mesmo assim, estes tantos percalços não diminuem o valor artístico da obra, chegando até a dar certo sabor de happening, de imediatismo. Como diz o personagem da Vera Zimmerman: “Cinema nacional é foda!”.

Estrela Nua

- Brasil 1984 De José Antônio Garcia e Ícaro Martins Com Cristina Aché, Carla Camurati, Selma Egrei, Jardel Mello, Cida Moreira, Ricardo Petráglia, Vera Zimmerman 90’ Drama


DVD- Palmas para a Cinemagia, que corajosamente lançou Onda Nova e Estrela Nua com imagem em fullscreen, mas boa. Resta saber se O Olho Mágico do Amor, dos mesmos diretores também saiu por eles. Como material bônus galeria de fotos promocionais e biografias em texto. Na contracapa tem uma lista dos inúmeros prêmios que o filme recebeu. Embora Camurati seja a protagonista levou em Gramado o Kikito de coadjuvante!

Cotação:

12 de agosto de 2008

Encarnação do Demônio

O dia em que veríamos um novo José Mojica Marins nos cinemas parecia não chegar nunca! Mas chegou, com baixo orçamento como se esperava e uma inacreditável distribuição da Fox. Se tudo correr bem, ou seja, tiver bilheteria satisfatória, talvez a filmografia nacional escape da atual arapuca favela - elenco da Globo - drama. Há tela pra todo tipo de platéia. Embora a entrada custando quase duas notas de 10 Reais, sabe-se que esta platéia só pode vir da classe média. Diante do caos crônico, assistir uma nova desventura do coveiro mais famoso do mundo ganha status de momento histórico em nossas vidas! Mojica continua sendo único, criador de uma mitologia 100% nacional, diretor à base de boas idéias executadas a duras penas, sob o olhar de viés de um publico cada vez mais acostumado ao óbvio e ululante. Infelizmente o roteiro escrito por Dennison Ramalho, tendo como base argumento do cineasta, faz concessões a essa vertente de entretenimento fácil. Se no filme anterior (Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, 1967) havia uma trama bem certinha onde personagens bem delineados giravam em torno do protagonista que buscava a mulher superior, agora temos o Zé do Caixão exibindo sua crueldade a torto e a direito, e só! São tantas garotas em tão pouco tempo que a motivação principal da esposa que gerará seu filho vira pó. Encarnação do Demônio parece confirmar os roteiros mal estruturados como o defeito mor do cinema daqui, não se sabe se por pressa ou falta de recursos, parecem receber pouco tratamento. A edição (só na base do picadinho!) também não nos dá tempo suficiente para que haja empatia com qualquer das vítimas a ponto dos crimes nos importarem. Entre muitas boas sacadas, os fantasmas dos filmes anteriores reaparecem em preto e branco conforme foram fotografados no passado. O grande Jece Valadão faz um policial caolho fabuloso e de tabela nos faz indagar porque filmes brasileiros desprezam tantos atores típicos da mídia. Sua morte, com o trabalho incompleto, forçou a várias (ótimas) trucagens para não eliminar o ator. Mesmo inserindo um substituto, em momento algum o resultado lembra o absurdo de Bela Lugosi em Plan 9 from other Space. Ainda no elenco (de uma forma geral bem coeso e esforçado), há dois ícones das nossas telas que merecem atenção: Cristina Aché e Helena Ignez. José Celso Martinez Corrêa, diretor de teatro, tem presença over desnecessária, em um inferno de resultado idem. Lá, convence pouco que pessoas têm seus olhos e boca costurados (de verdade!) por um capeta que usa luvas cirúrgicas, assim como a presença da morte representada de maneira bem óbvia por garota muito magra de capuz negro. Como fim de trilogia, não é a chave de ouro que merecia, como cinema, embora com seus defeitos, ainda é bem superior à maioria das tranqueiras que os norte-americanos desovam em nossas telas todas as semanas.

Encarnação do Demônio - Encarnação do Demônio

- Brasil 2008 De José Mojica Marins Com José Mojica Marins, Giulio Lopes, Milhem Cortaz, José Celso Martinez Corrêa, Jece Valadão, Helena Ignez, Rui Resende, Eduardo Chagas, Cristina Aché, Thais Simi, Cléo De Páris 98’ Horror


*** Em cartaz ***

Cotação:

9 de abril de 2008

A Noite do Desejo

De cara parece uma versão pornochanchada de Noite Vazia, ou mais com jovens boa praça em busca de prazeres fugazes na noite, como o cinema brasileiro produziu às toneladas. Lentamente as cartas vão sendo mostradas com uma sensibilidade acima do que normalmente vinha da boca-do-lixo. Dois pés rapados juntam dinheirinho para cair na gandaia do centrão de São Paulo onde se envolverão com prostitutas e pederastia de uma forma bastante intensa e reflexiva. Para resolver o desfalque de algumas seqüências, retiradas por problemas com a censura, criou-se uma trama paralela, com um pacato cidadão indo resgatar sua amada da capital aonde vive de trottoir. Sua intenção é clara, quer fazê-la recordar dos bons valores familiares do interior. Em apenas uma pequena seqüência os personagens se cruzam, uma ousadia, não de sexo, mas de narrativa. Ousada também a edição, assinada pelo diretor e (pasme!) Inácio Araújo, um dos melhores críticos de cinema em nossa língua. Todo o filme é entrecortado por momentos nem sempre claros de espaço, tempo e personagens. Desde os créditos iniciais, por exemplo, vê-se a polícia em diligência, mas não se sabe para qual das sub tramas se dirigirá em crescente tensão até o sanguinolento final, de fazer Tarantino babar, com a mesma cena mostrada de inúmeros ângulos. Mais? Pelo ano em que foi feito, mesmo com tantas qualidades cinematográficas, ainda tem de bônus todo o aspecto visual 70’s, com as mocinhas de peruca e cílios postiços chamando os machos de “benzinho”, trilha sonora com alguns tangos, música progressiva e efeitos sonoros bizarros... Vencedor de alguns prêmios quando finalmente pode ser lançado de forma satisfatória em 81, permanece com espantoso vigor.

A Noite do Desejo – A Noite do Desejo

- Brasil 1973 De Fauzi Mansur Com Ney Latorraca, Marlene França, Ewerton
de Castro, Francisco Curcio, Roberto Bolant, Selma Egrei, Betina Viany, Carlos Bucka 113’ Drama


DVD - Sei lá o que falar deste disco, porque filmes brasileiros desta época são tão raros que a sua existência já é um bônus... Não há nada de extras além de uma galeria com screenshots no menu único que tem mais dois botões. O primeiro escrito “filme” e outro com “capítulos”. A imagem em tela cheia está relativamente boa, á vezes com alguns arranhões.

Cotação:

5 de abril de 2008

Chega de Saudade

E que calafrio se deparar com o logo da Globo Filmes logo no inicio... Dá a sensação de ter caído em um conto do vigário, ou fazer parte da grande massa Dãããã que fez bobagens como “Se Eu Fosse Você” ser um estrondo de bilheteria. Mas é bacaninha, bacaninha... Também é aliviante ver às vezes um filme brasileiro que não trate de gente levando pipoco em favela carioca, né? Eu hein! E que atores estupidamente fantásticos há no Brasil! Deus amado! O elenco (fora o sempre apático Paulo Vilhena, começando a ficar calvo no cocuruto. Sorry, mas eu vi!) é formado por alguns dos melhores, já consagrados em outras épocas, mas que agora estranhamente o cinema nunca aproveita. Eu lá imaginava que a jurada de calouros e ex-vedete Marly Marley soubesse interpretar tão bem? Isso porque na filmografia da senhora só tem filme do Mazaroppi. Dá dózinho de saber que alguém como Betty Faria paga as contas em porcarias como aquela telenovela da Globo... Se americana fosse, estaria linda e diva colhendo os louros de uma grande carreira cinematográfica! E Cássia Kiss é o Paulo César Pereio de saias! Sempre boa, vivendo o mesmo personagem... A diretora Bodanzky deu alguns passinhos além de Bicho de Sete Cabeças, embora, talvez pra conquistar o povão acostumado a ver TV, faz um trabalho bem careta, cheio de closes pra cá e pra lá. Chega a cansar. Mesmo na hora das danças, quase só se vê pés, mãos, e cabeça... Filmado em locações tradicionais e legais de São Paulo não explora devidamente os cenários. Também perdeu a chance de ser menos contemplativa aos personagens, o que daria um retrato menos plastificado dos bailes da terceira idade e ainda agilidade ao todo. Pode não ser uma obra prima, aliás, tá longe de ser, mas é um bom filme, sensível, cuidadosamente interpretado e produzido. Vale o ingresso e os aplausos ao elenco.

Chega de Saudade – Chega de Saudade

- Brasil 2007 De Laís Bodanzky Com Leonardo Villar, Tônia Carrero, Cássia Kiss, Betty Faria, Stepan Nercessian, Elza Soares, Clarisse Abujamra, Marly Marley 95’ Drama


*** Em cartaz ***

Cotação:

6 de outubro de 2005

Jogo Subterrâneo


Todo filme brasileiro merece louvor por si só. Seja ele uma chanchada estreleda por Xuxa Meneghel, ou qualquer astro de ponta saído da novela das 8. O segundo longa de Robert Gervitz (Feliz Ano Velho) não está (felizmente!) em nenhuma destas categorias, o que o faz ganhar alguns pontos. Baseado em obra de Júlio Cortazar, argentino tão húngaro quanto sou português, e que originou outros tantos filmes de essência romântico-noir, recebeu como principal cenário o futurista metrô de São Paulo. É lá que o protagonista Martin (Felipe Camargo) busca através de seu jogo, a mulher ideal de sua vida. Antes ele traça uma possível rota entre as estações, se a fulana qualquer a seguir, bingo! De cara me assustou ver uma metrópole mais sufocante, suja do que sempre me aparentou... e um metrô imaginário escuro, com pseudo punk (!!!) tocando um irritante violino. Me diz em qual estação ela fica pra eu passar longe! Outra coisa que merece nota são os figurantes andando em slow motion, absolutamente todos com ar blasé, e alguns gritantes erros de continuidade. Principalmente no cabelo do protagonista que a cada take está de um jeito. Também já deveria ser esquecida fotografia em tom esverdeado. Matrix é de 1999, faz tempo pra chuchu, né? Fora isso, uma produção classe A como a muito tempo não se via por estas playas. Talvez porque o filme anterior de Gervitz tenha sido a 18 anos (!!!), cada tomada é apuradíssima, cada detalhe cenográfico ou de figurino está afinado em um todo. Causou estranheza quando a certa altura entre o casal principal há uma briga sobre e ele ataca: “De novo você vem com isso?”, sendo que em nenhum momento se soube que ela era ciumenta. Só quando se assiste aos extras do DVD é que se descobre entre as cenas deletadas o que daria sentido ao diálogo. O roteiro às vezes peca por fazer mistério para depois o desfazer de modo simplista. E não são poucas vezes que isto acontece. No caso da personagem Ana (Maria Luiza Mendonça, esplêndida!), é tanto suspense sobre sua vida, e por último descobre-se que é algo até que banal para os dias de hoje. Chegou um ponto que desconfiei seriamente tratar-se de mais um hermafrodita na carreira da atriz. “Ah tá! Então é só isso...”. Só uma atriz completa poderia emprestar veracidade e força a esta Holy dos tempos modernos. Frágil e ao mesmo tempo disposta aos extremos, com seus grandes olhos claros apontando, quem sabe, um futuro melhor. Se Felipe Camargo muitas vezes tem dificuldade em deixar de ser Felipe Camargo, ela nos leva de volta á trama.

Brasil, 2005 De Roberto Gervitz com Felipe Camargo, Maria Luiza Mendonça, Daniela Escobar, Julia Lemmertz108’ Drama/Romance
DVD – Bons extras, destacando macking of, comparação de storyboards e menus animados

Site Oficial: http://www.filmes.net/jogosubterraneo/
IMDB: http://us.imdb.com/title/tt0431169/

Cotação: