26 de março de 2008

Crepúsculo dos Deuses

... Ou a confirmação de um cineasta no olimpo sagrado de Hollywood! Ao contar a história trágica de três personagens que convivem no limite do amor e piedade, guiados pelo interesse não raro misantropo, Billy Wilder tocou em muitas feridas não só do já marmorizado cinema industrial americano, mas das mazelas comuns a qualquer ser humano. Talvez aja apenas um personagem de índole admirável, a secretária Betty Schaefer, vivido pela novata Nancy Olson, e é justamente este um dos poucos pontos mornos do filme. Narrado por um cadáver em flashback, num absurdo (e corajoso) exercício de metalinguagem, Holden é o roteirista endividado que para escapar de agiotas se escondendo em uma velha mansão da Hollywood Boulevard. A princípio acreditando estar abandonada, se deparará com dois bizarros moradores: Norma Desmond, uma antiga mega estrela do cinema mudo e Max, seu fiel mordomo. Está armada a teia de paralelos macabros entre a vida e a tela prateada! A principal ironia, entre algumas dezenas de outras, é que Gloria Swanson era também uma grande diva da fase silenciosa, abandonada assim que o cinema proferiu as primeiras palavras. Sua popularidade era tanta que se fala na existência de uma espécie de trem que a levava de casa ao estúdio, ou ainda de que entre muitos de seus amantes estava o senador Kennedy, pai de você sabe quem! Como mordomo o ex cineasta Erich von Stroheim, que como seu personagem, também dirigiu Swanson no passado em títulos como Rainha Christina. Que por sinal tem algumas cenas mostradas no cineminha particular de Desmond. O roteiro do próprio Wilder com colaboradores tem muitas frases engraçadas, espirituosas, quase bordões entre cinéfilos, como quando Holden reconhece a atriz “Ei, Você é Norma Desmond! Costumava ser grande...”, ouvindo como resposta “Eu sou grande! Os filmes é que ficaram pequenos!!!”. Genial!!! O material promocional da época foi bem sensacionalista, tendo pôster vermelho com Desmond gigante amedrontando o jovem casal fazendo parecer se tratar de um filme de monstro. E talvez seja! Uma obra sobre antropofagia sem precedentes. Muito feliz ainda em sua mistura de emoções e gêneros. Vai do sorriso à lágrima com desenvoltura ímpar. Pode ser dado como exemplo quando ela vai até as filmagens de Sansão e Dalila, de Cecil B. Demille (no papel dele mesmo) jurando estar voltando à ribalta, ou no final tétrico, conversando diretamente com a gente, as pessoas maravilhosas no escuro! Muito celebrado já em seu lançamento, conseguiu 11 indicações ao Oscar. Gloria Swanson infelizmente encarou páreo duro, disputando com Bette Davis, por A Malvada e Judy Holliday em Nascida Ontem. A estatueta foi para a última, na rara vez em que a Academia premiou alguém por uma comédia. Hollywood e suas injustiças...

Crepúsculo dos Deuses – Sunset Boulevard

- EUA 1950 De Billy Wilder Com Gloria Swanson, William Holden, Erich von Stroheim, Nancy Olson, Jack Webb, Buster Keaton, Cecil B. DeMille, H.B. Warner, Anna Q. Nilsson, Hedda Hopper 110’ Drama


DVD - O “Edição de Colecionador” na capa não está ali à toa! Dos menus fora de moda como a casa da protagonista a todo o material extra, nota-se que a Paramount não mediu esforços para honrar Norma Desmond, aliás, “sem ela não haveria Paramount!”. Entre os extras, faixa de comentário com historiador, mapa interativo de Hollywood da época, documentários sobre a figurinista Edith Head (igual ao do DVD de Ladrão de Casaca), sobre a trilha sonora, e Making Off. Quer mais? Extensa galeria de fotos de bastidores e de divulgação, trailer original e o principal, roteiro e algumas cenas do prólogo original que seria no necrotério, com os cadáveres conversando. Idéia abandonada porque teria causado risos nas primeiras platéias. No roteiro há uma curiosa escalação do elenco com Montgomery liff (erro mantido, ao invés de Cliff) no papel do roteirista decadente, para a secretária consta “Um novo rosto”, e por último “E outros papéis secundários: Gente de cinema, policiais e cadáveres”. Fora o trailer, tudo tem legendas em português. Talvez, sem querer ser injusto, faça falta a versão dublada. Aquela dublagem usada na única cópia que existia no Brasil e reprisada várias vezes na TV. Por muitos anos Norma Desmond tinha a mesma voz da Diabolim, vilã do desenho Cavalo de Fogo. Tal ausência faz com que não nos desvencilhemos da surrada fita VHS. Saudosismo puro!

Cotação:

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