13 de junho de 2008

Pérfida

Fabuloso com uma idéia infelizmente fora de moda: Os abutres (ou raposas como indica o título original) constroem um país. Perto do que se vê hoje, com o mundo divido entre “winners” e “losers”, aqueles três irmãos sulistas tentando conseguir fortuna a todo custo são fichinha. É basicamente um filme de vampiros, e um dos diálogos serve quase como ameaça nos lembrando de que gente daquela estirpe sempre existirá aos milhares. Adaptado da peça escrita por Lillian Hellman (também roteirista do filme com diálogos de Dorothy Parker) mantém na direção de William Wyler complacência com a interpretação do ator. Não importa a que preço, todas as expressões serão registradas. Bette Davis, alugada pela Warner à RKO, tem todos os méritos próprios imagináveis. Obrigada contra sua vontade por Wyler (ex-affaire e diretor de Jezebel, que lhe rendeu seu segundo Oscar) a ver a montagem da peça com Tallulah Bankhead no papel de Regina, decidiu a contragosto de todos fazer uma personagem absolutamente diferente. Se no teatro era sedutora, a ponto de chocar a platéia no ápice de sua desumanidade, insistiu na personalidade fria, calculista, e visivelmente pouco confiável desde o início. Se Davis tivesse perdido a batalha com o todo poderoso produtor Samuel Goldwyn e Willer, que chegaram a cogitar despedi-la e refilmar tudo, teríamos um filme bem menos interessante. Guerrilheira do cinema, como Katharine Hepburn a chamava, alterou por conta própria também o figurino nada sexy e a maquiagem, quase uma máscara de teatro No. De resultado extremamente sofisticado, sua interpretação é não mais que memorável. De sutilezas controladas, manias pessoais ela entrega a perfeita beldade caipira que cedeu espaço à cobiça por um lugar melhor ao sol. É o contraponto perfeito à amável e fraca cunhada Birdie, de passado semelhante, mas dominada pelo casamento conveniente, entregue ao alcoolismo para amortecer seu desespero. Nesse emaranhado de personagens adultos, de caminhos tortuosos já traçados, há a jovem Teresa Wright, a filha obediente e tolinha de Davis, que a princípio alega não entender o que se passa a seu redor. E paralelo à esbórnia antiética, ainda se acompanha seu amadurecimento social. Afinal, a velha dúvida: temos escolhas ou nosso caráter é fruto do meio em que se cresce?

Pérfida – The Little Foxes

- EUA 1941 De William Wyler Com Bette Davis, Teresa Wright, Herbert Marshall, Richard Carlson, Dan Duryea, Patricia Collinge, Charles Dingle, Carl Benton Reid, Virginia Brissac 115’ Drama


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