22 de outubro de 2005

A Vida Marinha com Steve Zissou

É pertinente ao ser humano caçar ídolos, pessoas hiper especiais em quem todos nós queremos nos espelhar. Ou, no caso do cinema, que nos façam sonhar por duas horas de projeção e acompanhar sua carreira, filme a filme, quase como uma telenovela sem uma trama uníssona. Quando eles não estão prontos, o que fazer? Cria-se! E, nesta batalha, lá está a imprensa na linha de frente e, logo atrás, aqueles desavisados que gostam ou deixam de gostar de qualquer coisa de acordo com o vizinho. Vi desde a década de 80 (ou seja a partir do momento em que me achei gente...) muitos e muitos. Alguém aí se lembrou de Wim Wenders? Wim Wenders e aprendenders! Nos 90 encheu o saco o empurra goela abaixo de um certo Tarantino. E este humilde escriba pedia calma à turba ensandecida. Como dar o título de gênio a alguém com dois filmes a tiracolo? Do que chamaremos Billy Wilder com centenas de obras pra lá de brilhantes? E Almodóvar (nos 90 ele ainda não havia ganhado a alcunha de maduro) fazendo pérolas atrás de pérolas sem perder o rebolado? Ok, dez anos depois vieram os Kill Bills, Jackie Brow e algumas outras coisinhas saborosas. Ponto. Agora a bola da vez é um certo Wes Anderson. O rapaz está com dois filmes estupendos (Três é Demais, Os Excêntricos Tenenbaums) no currículo, e um relativamente bom, este que está sendo comentado no momento. E já há um certo zum zum de que o rapaz não é de nada, o gênio negou fogo, sei lá. Aliás, a imprensa brasileira diz isso, a portuguesa teria aceitado a comédia aqua-psicodélica numa boa. Bem, o que está dando a entender é que um cineasta de língua inglesa que cria um universo próprio convincente em trabalhos totalmente originais não surge desde Tim Burton com seu Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice), em 1988! E rapaz, isto não é pouca coisa. Aliás, películas boas, mas que não se fica olhando no contador pra ver quanto falta pra acabar, estão cada vez mais raras... Claro que há alguns deslizes. O principal deles pode ser o brasileiro Seu Jorge (Cidade de Deus) aparecendo do nada, tocando em seu violão versões brasileiras de famosas músicas de David Bowie. Na primeira vez soa legal, depois é impossível não vir à mente um "Meu Deus! De novo?" E são muitas vezes. Ou parecem ser... Mas como deixar de perceber que Bill Murray já está mais do que consagrado como astro do cinema. Aquele simpático caça-fantasma... Aqui ele vive o tal Steve Zissou, uma espécie de Jacques Cousteau decadente que leva sua trupe em busca de um tubarão (ou não) raro (ou não) que possivelmente comeu seu melhor amigo, ou não. Se você achou Virgem de 40 Anos o máximo do engraçado, fuja deste filme. Inclusive fuja deste blog também, de mim, do meu cachorro, ou de qualquer coisa com bom senso!!! Mas A Vida Marinha com Steve Zissou ainda é bem engraçado, imaginativo. Há cenas hilárias como o ataque pirata, o pedido de adoção do filho que provavelmente nem é dele, entre muitas outras que você se esborracha de rir... Por dentro. O elenco (muitos oriundos de suas outras obras) afinadíssimo no espírito da coisa. Até o cão de três (!!!) patas. Felliniano? Este rótulo não partiu de Anderson. É gênio? Imortal? Pelo menos está começando bem....

A Vida Marinha com Steve Zissou - The Life Aquatic with Steve Zissou
- EUA, 2005 De Wes Anderson com Bill Murray, Owen Wilson, Cate Blanchet, Anjelica Huston, Willem Dafoe, Seu Jorge 119' Comédia


DVD - Mixos extras. Mas o menu caprichadinho já vale muito, e um easter egg logo no menu inicial e anunciado na capinha valem. Nos comentários do diretor e roteirista perceba o nome de Jacques Cousteau devidamente censurado com "pis".

Cotação:

Um comentário:

  1. Bem, isso não é um costume meu, mas tenho de dar o braço a torcer, concordo com você que á imprensa vem deturpando com critérios em re3lação ao cinema.(sempre deturpou, acho que não há mais critério para nada). Vamos combinar:"evite" falar de Tim Burton. Sabemos com Tuga d'alem mar gosta dele. Beetlejuice é legal mas não é a sua melhor obra. Por sinal, qual a sua opinião sobre planeta dos macacos, que nunca soube? Abraços

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