3 de abril de 2008

Psicose

Silvio de Abreu, diretor do mais hitchcockiano filme brasileiro, o subestimado Mulher Objeto, já declarou inúmeras vezes que para seu trabalho de novelista é imprescindível ser contratado da TV Globo. Suas criações necessariamente carecem de todo aquele aparato técnico e financeiro. Hitchcock, ao contrário, tentou com Psicose provar que precisava de muito pouco para fazer um grande trabalho. Baseado no livro de Robert Bloch, sobre um escabroso caso real, usou a mesma equipe de seu programa de televisão Alfred Hitchcock Apresenta, meia dúzia de cenários e apenas uma estrela, com o resto do elenco desconhecido, ou vindo da TV. Inclusive Vera Miles que fez carreira no veículo, depois de recusar o papel feminino principal em Um Corpo Que Cai (Vertigo) porque engravidou. E isto o gorducho diretor a jogou na cara pro resto de seus dias! Também como contenção de gastos o rodou em preto e branco, evitando o dispendioso sistema Technicolor. Como marketing era tão seu forte quanto suspense, divulgou-se que tal recurso foi para não chocar a platéia com o vermelho do sangue, e é esta versão repetida à exaustão até os dias atuais. Dessa pequinesa toda saiu nada menos que a película que revolucionaria o cinema do medo. Tão espetacularmente orquestrado que influenciou não só os novos rumos do gênero, mas carreiras, e a forma de Hollywood (em pleno declino) encarar suas produções. Tão famoso desde sua estréia, que mesmo com spoliers divulgados aos quatro cantos, ainda é um espetáculo notável. De comercial de pastilhas pra garganta a programas humorísticos, não há quem nunca viu um homem louco vestido de mulher empunhando uma faca ao som de “Qüin, qüin, qüin!”. Mas há uma na riqueza de detalhes, a ser observada, dando suporte às reviravoltas propostas pelo roteiro. Até nos cenários, sempre com objetos que refletem os personagens, ou no lingerie da mocinha Marion Crane. No inicio, quando é apenas uma garota indecisa com seu futuro aparece com peças íntimas brancas, ao fazer a mala e resolver ficar com o dinheiro de seu patrão usa de cor preta. Quando já no hotel Bates decide retornar e devolver a grana, escolhe branco antes de entrar no chuveiro. Água, claro, bíblico símbolo de purificação. Depois de tanto tempo, tornou-se sim bem batido, mas o que a simples genialidade tem a ver com isso?

Psicose – Psycho

- EUA 1960 De Alfred Hitchcock Com Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, John McIntire, Martin Balsam, Patricia Hitchcock, Mort Mills 109’ Suspense


DVD - Sacanagem da grossa, deve ser o terceiro lançamento do mesmo filme, com pouquíssima diferença entre as edições. Primeiro apareceu sem extra algum, depois com uma porrada em menu tosco e sem nenhuma legenda. Este relançaram o mesmo sem legendas acrescido de mais um disco, chamado “O Legado de Alfred Hitchcock”. Ele contém apenas 2 especiais. O primeiro é a entrega de um prêmio do American Film Institute ao diretor com discurso de muitos dos atores fetiches. Chega a emocionar James Stwart, Ingrid Bergman, Cary Grant, todos com idade avançada relembrando o que era trabalhar em seus filmes. Ele na platéia muuuuuuito velhinho, acompanhado da esposa Alma, ainda com aquela centelha de humor que o faz ser reconhecido como gênio. O outro especial é uma entrevista de Hitchcock a dois apresentadores de TV, sendo que a mulher parece estar absurdamente deslocada. Tanto o prêmio, quando as entrevistas não possuem mais do que 15 minutos cada, o que nos faz estranhar a lógica do segundo disco.

Cotação:

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