13 de dezembro de 2007

Era Uma Vez No Oeste

Duas personagens femininas vão parir um novo mundo: A estrada de ferro e a prostituta Jill (Claudia Cardinale). Enquanto que a primeira põe à própria sorte os mais variados tipos tão desajustados quanto corajosos, a segunda os trata como uma madrinha, quem sabe uma fada madrinha de um reino muito distante... Embalado pela espetacular trilha de Ennio Morricone (servindo a maioria das vezes como único diálogo), acompanha-se uma contenda (que só se revelará no final) enquanto os novos rumos são traçados pela água e terra. Os dois elementos são constantes, sendo a terra o caminho desbravado pela locomotiva até alcançar o mar. A água, também mostrado em muitos momentos relacionado ao papel da Claudia Cardinale, não poderia ser arquétipo melhor à esperança. Belíssimo (e reverente) último suspiro dos clássicos faroestes, regido pelo mestre Sergio Leone por (feliz) imposição da Paramount. Em cada frame nada é gratuito neste trabalho artesanal que desnuda o a imaginação sabe sobre os bravos que peitaram o desafio de colonizar a América. Do argumento engenhoso assinado por Dario Argento (!!!), Bernardo Bertolucci e o próprio Leone à competente edição com um ritmo lento e árido como o deserto, um dos melhores espetáculos que já tive a honra de poder assistir. Absurdamente arrebatador, mesmo com quase três horas de duração, ao final é inevitável a vontade de aplaudir e logo depois rever tudinho!!! A raiva que dá, quando se depara com uma obra prima deste porte, é porque não assisti antes? Por estúpido preconceito com bang-bangs... Fabuloso!

Era Uma Vez No Oeste – Once Upon A Time in The West
- EUA/Itália 1968 De Sergio Leone Com Henry Fonda, Charles Bronson, Claudia Cardinale, Jason Robards 165’ Faroeste


DVD - Há duas versões, a dupla (tido como um dos melhores lançamentos em DVD) e esta pobrinha, em apenas um disco. O único extra é uma faixa de comentários de pesquisadores, técnicos e gente como John Carpenters e Claudia Cardinale, que lamentavelmente foram gravados separadamente. Cada hora ouve-se um deles. Mesmo assim, o filme está com uma imagem pra lá de cristalina em Widescreen Anamórfico. Vêem-se cada poro da pele dos atores, quase os grãos da areia... O áudio em 5.1 deixa os silêncios (amplificados por ruídos naturais) da abertura muito mais angustiantes.

Update: Só depois descobri um easter egg logo no menu principal.


Cotação:

História de Uma Cidadezinha

Se este filme não conta-se com Marilyn Monroe em seu elenco ganharia o destino de tantos outros desprezíveis: Teria virado matéria prima na fabricação de vassouras! Originalmente conhecido no Brasil como Em Cada Lar Um Romance (o que não faz o mínimo sentido!), é uma pequena bobagem (quase um média metragem), subversiva e deslavada propaganda dos princípios anticomunistas. O trabalhador deve servir da melhor maneira possível o patrão magnata, que não passa de um ser altruísta e muito bonzinho a favor de uma América próspera. Nosso herói, que retorna a sua cidade natal após a derrota nas eleições, quase vira vilão ao usar seu jornal contra uma indústria que achava gananciosa. Não espere nada além de alguns discursos cheios de boas intenções, tal e qual você sabe o quê. Sua ingenuidade chega a ser graciosa como a classe média americano dos 50 sempre nos parece. De qualquer forma, indispensável na coleção dos admiradores de Monroe. Ainda longe de se tornar o maior mito que o cinema já produziu, emociona sua visível insegurança nas duas ou três frases de texto (além de literalmente enfeitar o cenário ao fundo) como a secretária do tal noticioso interiorano. Foi o nono filme de sua carreira, e o (terceiro e) último na MGM, que a dispensou alegando já ter Lana Turner em seu cast, não precisando de outra loira. A curiosidade fica no fato de que esta película, por ser artisticamente insignificante, tornou-se rara inclusive em sua época. Instantaneamente desprezado e esquecido segundo o biógrafo Donald Spoto. Uma cópia teria ressurgido na Austrália após a morte de Marilyn Monroe em 1962.

História de Uma Cidadezinha – Home Tow Story
- EUA 1951 De Arthur Pierson Com Donald Crisp, Jeffrey Lyn, Marjore Reynolds, Marilyn Monroe 61’ Drama


DVD - Uma das glórias da era digital em que vivemos é a possibilidade do acesso a obscuras produções como esta. Muitos títulos com copyrights teoricamente perdidos estão surgindo para download na internet, ou sendo lançado em DVD por pequenas distribuidoras. Este aqui (De uma tal Líder) tem um menuzinho simpátiquinho com uma casinha onde na janelinha se vê cenas do filminho enquanto caiem folhinhas. Um show de inhos e inhas ideal para a obra em questão. Ao fundo se ouve a mesma música que toca na abertura do filme, mas visivelmente percebe-se que não é original da época, aliás, o leão da Metro está mudo!!! Não tem seleção de capítulos e há a opção de áudio em 2 ou 5 canais... Em um filme da década de 50? Como assim?

Cotação:

O Grande Truque

Logo no inicio do século passado o planeta estava em alvoroço com a possibilidade de se contatar o mundo dos mortos, o obscuro, o não nominável... Coincidentemente, ou não, também foi a era onde a ciência mais se fez notável de uma forma popular. As trevas assustavam bem menos, já que Edson tinha inventado a lâmpada. Terreno fértil para o chamado teatro de vaudeville ser tomado por mágicos, ilusionistas e canastrões em geral. É neste ambiente que Chris Nolan desenrola seu novelo de falsas imagens e aparências, usando praticamente a mesma equipe (inclusive elenco) de Batman Begins, em um caleidoscópio rococó. Contada de forma não linear, somos convidados a remontar passo a passo o que teria feito os ex-colegas de palco a odiarem-se a ponto de assassinatos, entre outras baixarias, irem se impondo até a surpresa final. Nolan tenta assim, o grande truque para si! Saboroso, com reconstituição de época impecável, e elenco perto do memorável. David Bowie interpretando o real e bizarro cientista Tesla não poderia ser melhor escolha... O único porém é que o mistério principal, se você prestar atenção ao filme desde inicio, desvenda-se quase meia hora antes de acabar a história. O mesmo gosto de se descobrir onde o coelho estava escondido antes de surgir na cartola de um mágico... Daí resta-se dizer “Dããããã! Tanta coisa pra isso?”.

O Grande Truque – The Prestige
- EUA 2006 De Christopher Nolan Com Christian Bale, Hugh Jackman, Michael Kane, Scarlett Johansson, David Bowie 130’ Suspense


DVD - Um menu brincando com o mais primitivo do ilusionismo. Tão bacaninha que nos faz acreditar que entre um desenho de cartola ou pombinha deve ter um easter egg escondido em algum lugar, mas parece que é só truque! Há um documentário dividido em alguns segmentos, bem superficial, trailer e galeria segmentada.

Cotação:

Batman Begins

Esta sexta versão do personagem mais célebre criado por Bob Kane segurou a bomba da expectativa após toda a avacalhação sofrida nos últimos dois exemplares. A própria Warner estampou (cinicamente) com destaque na capinha do DVD “O Melhor de Todos”... Mentira! Realmente está anos luz dos filmes de Joel Schumacher, mas isso é quase como bater em bêbado: Se a gente apanha é vergonhoso, mas se bate acaba dando no mesmo. Mas há os dois primeiros dirigidos por Tim Burton, sendo o mais autêntico Batman Returns o único a merecer o título de concorrente a este novo. A versão 2007, quase um estudo sobre o medo que nos repele e atrai à vida, é um dos melhores filmes de super-herói jamais feito, até porque, não foi dirigido por um fã de quadrinhos, mas um cineasta inventivo. Por tanto, temos aí um filme de verdade, personagens de verdade, situações de verdade, etc. Mas aí também está o que o faz perder alguns pontos se comparado ao de 1992. Enquanto o outro se desenvolve no mundo dos sonhos e fantasia, onde qualquer absurdo se justifica, este de tão realista fica muitos momentos sem nexo. Volta e meia, quando estamos entretidos no universo sombrio do Homem-Morcego, lá vem um escorregão nos dizer que é tudo mentirinha. A própria capa do herói raramente corresponde aos movimentos previstos, por exemplo. E o Bat-sinal nos céus? Não seria mais prático e eficaz que se usasse um Bat-celular? Qual o sentido em usar um Batmóvel (com designe horroroso que mais parece o Caveirão do Bope) se ele não se parece com nenhum carro nas ruas? Pra chamar a atenção? E me diz quem teve a infeliz idéia de escalar Katie Holmes como mocinha? Nula! Cillian Murphy, como vilão que se transforma em O Espantalho, não parece nada além de um adolescente brincando de ser mau cheio de caras e bocas. Daqui a 30 anos, tanto realismo transformará este filme obsoleto como o Paladino da Justiça de Adam West, enquanto que o de Tim Burton, atemporal, um clássico! Fantasias, como as da mente do Doutor Caligari, são eternas...

Batman Begins - Batman Begins
- EUA 2005 De Christopher Nolan Com Christian Bale, Michael Kane, Lian Neeson, Katie Holmes, Gary Oldman 140’ Ação


DVD - Edição dupla fantástica! Horas e horas de extras. O menu do segundo disco pode ser acessado da forma convencional, através de uma lista, ou navegando por uma história em quadrinhos, abarrotada de easter eggs! De qualquer forma, há coisas em um que estão ausentes no outro. Tem recurso DVD-Rom, mas como a maioria dos da Warner, é perder tempo. A gente coloca no Drive do PC e eles só querem que a gente instale um software suspeito. E isso lá é extra?

Cotação:

6 de dezembro de 2007

Scanners – Sua Mente Pode Destruir

Gêneros cinematográfico vivem de ciclos, e isto parece ser mais claro nos fantásticos ou horror. De monstros a ameaças nucleares, descambando na década de 60 à presença do diabo entre nós (só ele poderia ser o causador de tamanhas transformações) e depois ainda vieram os perigos dos poderes mentais... Sempre acompanhando as preocupações e/ou anseios sociais, como tudo que se preze comercial. Este David Cronenberg, o seu primeiro sucesso internacional, então seria um filhotinho da Carrie, A Estranha. O “capeta” de antes se tornou justificado psicologicamente. Aliás, esta fonte de mal bíblica (O Bebê de Rosemary, A Profecia, O Exorcista) teria sido fruto não só dos excessos da contracultura da época, mas um desdobramento dos assassinos perturbados mentalmente como Norma Bates em Psicose? Assim, antropofagicamente, os títulos vão se alimentando uns dos outros em busca do que é comum ao medo de cada período tendo como principal termômetro o sucesso de bilheteria. De qualquer forma, Scanners continua fresco e divertido. Mesmo batidíssimo em inúmeras exibições na TV e VHS!!! Começa como um filme de detetive futurista num shopping Center dando lugar a uma história de falsas aparências com suspense e horror. Seus efeitos especiais mecânicos ainda são impressionantes e nojentos. Absolutamente 80’s e atemporal, encontrei desta vez muitas semelhanças ao famoso animé de 1995 Ghost In The Shell (ou O Fantasma do Futuro). Oh! Que por acaso é citado como uma das principais referências na criação de Matrix. 15 anos antes os parapsicólogos canadenses já entravam num sistema de computador usando uma cabine telefônica e, acho a principal delas, o uso dos caracteres verdes tipicamente digitais para se mostrar os créditos. Que seja só mais um motivo para você rever esta preciosidade, além das melhores cabeças explosivas do cinema!

Scanners – Sua Mente Pode Destruir - Scanners
- Canadá 1981 De David Cronenberg Com Stephen Lack, Jennifer O’Neill, Michael Ironside 102’ Terror


DVD - Menuzinho animado com cenas do filme e algum texto. Não sabia que a atriz Jennifer O’Neill era carioca... A imagem (Letter Box) está relativamente boa ao contrário do áudio, que a capa diz ser 2.0, mas parece mono. Ainda há uma certa falta de sincronia do som, mas pesquisando na net há reclamações no mundo todo, portanto não deve ser culpa da distribuidora brasileira.

Cotação:

Suspiria

Poucos cineastas vivos são tão merecedores do título de mestres quanto Dario Argento. Um malandro que usa seu conhecimento apurado dos confins da psique humana para exibi-la com seu apurado conhecimento cinematográfico. Este Suspiria, por exemplo, a cada vez que se vê têm-se a certeza de estar diante de uma obra de arte, tão preciosa quanto um Michelangelo. Pela primeira abandonava o bem sucedido gênero Giallo, aqueles filmes italianos de suspense com misteriosos assassinos de luvas pretas, e se aventurava pelo horror sobrenatural. Sobrenatural disfarçado de psicológico ou psicológico disfarçado de sobrenatural? O que pode estar na mente da frágil adolescente americana (Jessica Harper) ao tentar a sorte numa bem conceituada (e distante) escola de balé alemã? Com seus olhos compartilhamos o temor que o isolamento cultural/social pode causar. Como no também grande O Inquilino de Roman Polanski, nada pode ser mais terrível quando não se tem com quem contar, quando se está longe do que nos dá segurança. Este conto de fadas macabro, com imagens tão assombrosas quanto belas não se cansa de pregar peças. A garota ao se deparar com duas figuras um tanto quanto bizarras, lhe encarando desprezívelmente, parece escutar em sussurro “wait!” (“espere!”), mas também poderia ser “witch!”(“bruxa!”)... Será que ouvi certo? É só o começo de uma intrincada trama em cenários absurdos e psicodélicos, fotografia em cores berrantes e trilha sonora (da banda Goblin) perfeita a caminho do mais próximo registro do que é um pesadelo! O final simplista chega a incomodar, mas depois de tudo que presenciamos é só um detalhe.

Suspiria - Itália 1977 De Dario Argento Com Jessica Harper, Stefania Casini, Miguel Bosé 98’ Horror

DVD - Êeeeee!!! De babar este lançamento do selo Dark Side!!! Duplo, widescreen, áudio em 5 canais, extras a dar com um pau!!! Trailer americano e europeu, spots de radio e TV, gigante galeria de imagens, biografias, etc! No segundo disco, a cerejinha do bolo: Um documentário longo sobre toda obra de Argento, inclusive com a presença dele, colaboradores (como George Romero) e parentes (as filhas Asia e Fiona e a primeira mulher, a atriz Daria)!

Cotação:

5 de dezembro de 2007

Dália Negra

Brian De Palma tem um nome forte o suficiente para que quaisquer de seus trabalhos sempre mereçam atenção. Mesmo com os tropeços dos últimos anos, há sempre Carrie, Dublê de Corpo, Vestida Para Matar, Os Intocáveis, e alguns outros que depõem a seu favor... Pena que ainda não foi desta vez que o mais famoso seguidor de Hitchcock usou seus maneirismos de câmera, planos panorâmicos de tirar o fôlego em prol de uma boa história. Aqui tudo isso só serve pra disfarçar um roteiro mal e porcamente escrito. O tal crime da aspirante a atriz Elizabeth Short torna-se apenas o pano de fundo para a história de dois amigos policiais que têm em comum o gosto pelo boxe e o afeto da mesma garota. Com um elenco mais experiente até daria um caldo razoável. Mas o que temos são três jovens tentando interpretar no vazio, discutindo a rebinboca da parafuseta! Se nem para eles aquilo parece ter interesse maior, imagina pra quem está os assistindo? Lá pela metade da coisa entra o núcleo magnata da família de Hilary Swank (ótima!), soturna e perigosa. Mas aí já é tarde! Começa-se a desenrolar um monte de subtramas que, se prestei bem atenção, não estavam enroladas dês do começo! Aliás, a solução do caso (real) que dá nome ao título ganha uma solução tão ridícula quanto improvável. Baseado no livro do autor de L.A. Confidential, taí a prova de que brincar de noir não é pra qualquer um...

Dália Negra – Black Dalia - EUA 2006 De Brian De Palma Com Scarlett Johansson, Josh Hartnett, Hilary Swank, Aaron Eckhart 120’ Suspense

DVD - Os extras são o trailer dele, algumas curtíssimas entrevistas com os principais envolvidos e slide show sonororizado. Cabe dizer que a capa tem frente e verso, a principal com o belo pôster original e a outra apenas com destaque no elenco. Mas conteúdo é o mesmo, caso você o ache á venda de forma diferente. Uma coisa negativa foi a idéia de colocar inúmeros trailers de trashes logo no inicio do disco, sem a opção de pulá-los... É preciso correr (como se fosse a era do VHS) toda vez que se quer ver o filme. Chato!

Cotação:

Bonequinha de Luxo

Este verdadeiro mimo em forma de película parece querer nos dizer o tempo todo que por mais que se fuja do mundo, absolutamente somos incapazes de escapar de nós mesmos. Nunca a mais antiga das profissões foi retratada de forma tão doce e agradável. Pauline Kael disse que quem leu o romance de Truman Capote, ao qual o roteiro se baseia, fica consternado ao ver tudo tão amaciado. Eu não li, mas provavelmente a graça esteja exatamente neste tom cor pastel típico de Black Edwards. A vida da graciosa Holly Golightly (interpretada pela graciosa Audrey Hepburn), que recebe de cavalheiros 50 dólares a cada ida ao banheiro, é só um reflexo de sua alma á deriva dos acontecimentos mundanos. Inédito em VHS, esta edição em DVD no Brasil (país citado em vários momentos) tem o mérito de regatar seu formato original widescreen, e podermos finalmente ouvir as vozes originais dos atores. Toda uma geração só o conhecia pelas reprises nas madrugadas da Globo. Cult imortal faz com que seus extras (leia abaixo) se tornem preciosidades. Por exemplo, diretor e produtor confirmam a história que por muitos anos era só lenda: Marilyn Monroe teria ganhado o personagem de presente do amigo Capote. O que nos faz ficar imaginando que outro (absolutamente outro!) filmes fantástico teria sido. Também curioso o depoimento de Edwards, por mais que o filme pareça cria total dele (inclusive na hilária caricatura racial de Mickey Rooney), destaca com certo orgulho apenas a cena da festa como sua. Some a tudo a trilha camp esplêndida de Henry Mancini (ganhadora do Oscar), figurinos absurdos de Givanchi e um gato fofo que não deve ter nome. Pronto! Um filme para ser visto e revisto para o resto de nossas vidas, genial em sua simplicidade. Surpreendente e feliz como abrir uma caixa de biscoitos e ganhar um anelzinho...

Bonequinha de Luxo – Breakfast At Tiffany’s - EUA 1962 De Blake Edwards Com Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal, Mickey Rooney 114’ Romance

DVD - Olha que bizarro! A mesma distribuidora o lançou duas vezes com diferença de pouco tempo. Este é a chamada “Edição de Aniversário” e pelo que percebi, de diferente é só a capinha rosa. Os extras (todos legendados!) possuem entrevista com produtor e diretor, e sobreviventes da festa (!!!) além de Patrícia Neal, a única do cast principal viva. Um documentário curto sobre a joalheria Tiffany’s e outro sobre o que Hepburn representa ao mundo da moda. Ah sim, tem a dublagem original 60’s, pro caso de você, que estava acostumado a ver pela TV, sentir falta, se bem que com imagem tão cristalina, este áudio com chiados tipo vinil não combina em nada.

Cotação:

4 de dezembro de 2007

O Homem Duplo

O filme decepção do ano não é necessariamente um filme ruim. É banal, corriqueiro... O fato de ser baseado na obra de Philip K. Dick nos fazia esperar algo ousado, ainda mais sabendo que os astros tiveram que ser redesenhados com a técnica de rotoscópia, já usada por Disney na década de 30 em Branca de Neve. Talvez esta façanha, refazer tudo quadro a quadro, tenha sido a pázinha de cal em qualquer positividade. Primeiro porque acaba chamando muito mais atenção do que a história (confusa) em si, e depois porque o emprego dela não acrescente em nada. Não serve, como por exemplo os maneirismos estéticos de Sin City, para direcionar o espectador a climas, subentendimentos ou estilos. É só perfumaria! O projeto que demoraria a principio 9 meses, acabou em 18. Mesmo artesanal o resultado foi frio, como se as imagens tivessem sido automaticamente rastreadas por um software gráfico. Em um argumento essencialmente humano e verborrágico soou desnecessário. Bem, pelo menos adicionou alguma expressão na interpretação de Keanu Reeves, e isto já é um mérito louvável. Mas no geral é bonito, ousado e com elenco interessante. Talvez mereça ser revisto com menos expectativas...

O Homem Duplo – A Scaner Darkly - EUA 2006 De Richard Linklater Com Keanu Reeves, Winona Ryder, Robert Downey Jr., Rory Cochrane, Woody Harrelson 100’ Ficção Científica/Policial

DVD - Um caso raro de DVD simples e completo! Ao invés de ser lançado duplo divido em minúsculos documentários se optou por apenas dói com mais de meia hora cada. O primeiro sobre o livro original e seu autor e o segundo o making off em si do filme, ressaltando a rotoscópia. A parte nojenta está na faixa de comentários com diretor, astro principal, historiador etc. A cara de pau da Warner faz este extra ser mencionado na capa, mas legendas em português que é bom, necas de pitibiriba! E isto está se tornando um hábito das distribuidoras...

Cotação:

29 de novembro de 2007

Os Olhos de Laura Mars

Batata! O que é extremamente moderno hoje será extremamente cafona amanhã! Aqui todos os cuidados foram tomados para estar no último grito 70’s, até por causa da profissão da protagonista, uma excêntrica fotógrafa de moda. Quase 20 anos depois, da trilha sonora à interpretação over de Faye Dunaway, a retratista em questão, tornou-se muito engraçado no sentido kitsch da palavra. Apreciar ambiente tão démodé, só pra usar uma palavrinha fora de moda, é só mais um elemento bônus neste curioso filme. Misterioso serial killer dá cabo a várias pessoas do círculo social da Laura Mars. Estranhamente, a fotógrafa que gosta de abusar de temas violentos em seu trabalho, tem visões dos crimes e só descobrirá a identidade do autor nos últimos minutos da película, quando sua vida também estará em perigo. Roteiro repleto de metáforas assinado por John Carpenters com incrível reviravolta final, tão bem engendrada que nós também só descobrimos a autoria da barbárie junto á personagem de Dunaway. Tente depois não ficar cantarolando a música tema, Prisioner, um hit de Barbra Streisand. Ugh!

Os Olhos de Laura Mars – Eyes of Laura Mars
- EUA 1978 De Irvin Kersher Com Faye Dunaway, Tommy Lee Jones, Brad Dourif, Raul Julia 103’ Suspense


DVD - Lançado pela Columbia há algum tempo, mais de 8 anos, o que justifica certo arcaísmo digital. Nem o menu principal está traduzido. A total falta de legendas se estende aos extras: faixa de áudio com os comentários do diretor, slide show com narração do produtor do disco, galeria de talentos, making off da época e dois trailers de outros filmes.

Cotação:

28 de novembro de 2007

Dália Negra

O equívoco começa logo pelo título, tomando proveito do caso verídico explorado pelo filme de mesmo título dirigido por Brian DePalma. Malandragem da grossa! Mas se fosse só isso, um filme trash com nome igual ao de um grande estúdio, sobre um dos mais famosos crimes dos EUA estaria tudo pra lá de ok!!! Mas faz algum tempo que não assistia a tamanha porcaria! E quando eu digo porcaria, me refiro a porcaria mesmo! Sem humor, ação, nexo narrativo, noções básicas de cinema, nada se salva! Uma idiotice feita por quem provavelmente nunca assistiu a um filme de verdade na vida. Dando uma navegadinha, descobri que o diretor Ulli Lommel era da turminha de Andy Warhol, com uma filmografia um tanto extensa, mas como? Seria tão idiota ao ponto de não ter aprendido nada em 30 anos? E agente gosta sim de tranqueira cinematográfica, mas não de algo parecendo ter sido feita por adolescentes pretensiosos e burros no fundo de quintal sem o mínimo charme não dá nem pra rir. Na trama (?) um trio de sádicos abre testes para o papel de Black Dhalia, todas as mocinhas que aparecem serão sumariamente extirpadas tal e qual o crime da década de 40. Todas menos a negra, que não é da “etnia procurada” segundo o tosco roteiro (?) do diretor. Paralelamente uma equipe policial tenta desvendar os crimes. Equipe policial que não tem nem carro de policia ou uniforme, ou postura, ou qualquer coisa que nos faça acreditar que são policiais!!! Muito ruim!!! O elenco, amador ao extremo, jamais troca de roupa. Falando em roupa, espera-se ao deparar com tamanha merda, que pelo menos as moçoilas (todas com cara de filme pornô) exibissem alguma carne: Esqueça! Há só duas muxibinhas e olhe lá! Filmado com câmera digital caseira, não se tem o mínimo cuidado com fotografia ou iluminação, tudo parece se passar dentro de uma padaria. Parece ter sido editado em um software caseiro, do gênero Windows Movie Maker, por alguém que descobriu este assessório há pouco tempo tamanho o abuso de enfeitinhos na imagem. Ed Wood coraria de vergonha... Plan 9 From Outer Space, considerado o pior filme de todos os tempos, parece Cidadão Kane perto disto aqui! Mas a dúvida principal é como uma porcaria deste porte chega a ser lançada comercialmente? Pior ainda: lançada comercialmente no Brasil? E o DVD ainda por cima tem versão dublada em português, com os clássicos “bitch” virando “cadela” e “fuck you” como sempre “dane-se”!!!

Dália Negra – Black Dhalia
- EUA 2006 De Ulli Lommel Com Elissa Dowling, Robert Beetley, Christian Behm 80’ Horror


DVD - O melhor está na arte da capinha, bem caprichada, de resto só um monte de trailers dele e outros filmes lançados pela digníssima Califórnia Filmes. Ainda bem! Pensou além de suportar os 80 minutos (que parecem 230) ainda assistir a um making of desta droga? Tô fora!

Cotação:

King Kong (2005)

Lamentavelmente esta corajosa segunda versão do clássico de 33 não teve a mesma repercussão que os 3 trabalhos anteriores de Peter Jackson. Eu mesmo torci o nariz por algum tempo principalmente porque é uma história manjadíssima. A versão de 76, com Jéssica Lange, foi reprisada á exaustão na TV por toda a nossa infância. Lembro da campanha da Globo em 1985 quando ele foi estrear Tela Quente, a “nova” sessão de filmes do canal, junto com outros sucessos do tipo Alcatraz. Um cara fazia mímicas e vozes em off tentavam descobrir qual era o filme. Essa onda pega! Outro repelente foi a duração de mais de 3 (!!!) horas. Ah sim! A massificação de O Senhor dos Anéis me deixou com os pés atrás também! Preconceitos de lado, passei 187 minutos (que pareceram 60 graças ao roteiro brilhantemente elaborado) envolvido com o que há de melhor no cinema de fantasia dos grandes estúdios. Tipo, se velhas raposas como George Lucas ou Steven Spielberg ainda tivesse algum interesse além de engordar seus cofrinhos, como faziam no inicio das suas carreiras, estariam assinando coisas assim! Ok, a história já estamos carecas de saber, inclusive o final, mas há tantos elementos novos, complementares, que deixam a experiência única! Naomi Watts com o papel que antes foi de Fay Wray não está mais do que sensacional! Até Jack Black,que todos acusaram a principio como falha na escalação de elenco, se justifica, usando em detrimento da história sua indisfarçável petulância natural. Somam-se a isto efeitos especiais (a cargo da Weta) do mais alto padrão, que nos fazem crer que realmente estamos diante de Nova York dos anos 30, com toda miséria causada pelo Crash em meio á sua esplendorosa arquitetura art decó. Raramente há furos dos efeitos, ou sinais de gratuidade. Exceto a manada de dinossauros correndo atrás da equipe, que além de exagerada torna-se cansativa. E uma das principais falhas, justo na imagem emblemática da cultura pop envolvendo o macacão: Quanto ele carrega a mocinha nas mãos fica evidente que uma animação substitui a atriz, assim como ficava claro no original que era uma bonequinha. Mas quanto ao protagonista, o macaco digital em si, é tanto realismo que quando levado à cidade e apresentado como a 8ª maravilha do mundo, sua expressão é tão desesperadora, que o filme quase se torna dolorosamente insuportável de ser assistido. E o fim, no topo do Empire State, quando tudo parece bem e se ouve pela primeira vez o som dos aviões tente não sentir um nó na garganta...

King Kong – King Kong
- EUA 2005 De Peter Jackson Com Naomi Watts, Jack Black, Adrien Brody, Thomas Kretschmann 187’ Aventura


DVD - Uma luva de papelão envolve esta edição dupla. O que dá um ar chique ao produto e claro o encarece. Não que o filme não mereça cada centavo investido nele, mas seu conteúdo é um tanto quanto decepcionante para o que se poderia esperar. Não há faixa de comentário do diretor nem tão pouco trailer original. Peter Jackson aparece no segundo disco apresentando o material, basicamente os diários da produção, antes exibidos no site Kong Is The King e dois documentários. Um sobre a criação da Ilha da Caveira e o mais bacana sobre Nova York na década de 30. Talvez a explicação seja que nos EUA há cerca de 5 edições incluindo a Blue Ray. O que é uma grandíssima sacanagem com o dinheiro alheio essas infinitas edições definitivas.

Cotação:

17 de novembro de 2007

Guerra dos Mundos (2005)

Muita bobagem já foi dita desta releitura de Steven Spielberg para o romance homônimo de H. G. Wells. Não se engane! Você terá exatamente o que imagina, quase duas horas de ininterrupta adrenalina! Óbvio que as comparações com o clássico de 1952 existem, mas aqueles eram outros tempos... Os paralelos com os que vêm do espaço sideral são muito mais fortes em qualquer ameaça á instituição “Família” do que comunistas á espreita da tão querida América. Seus olhos verão coisas assustadoras e absurdamente reais e tais apuros técnicos valem sim o tempo gasto assistindo ao sempre canastrão Tom Cruise tentando proteger não o mundo, como se deveria esperar de um herói altruísta de outrora, mas sua prole. Mesmo que sua filha, a prodígio Dakota Fanning, seja insuportável o suficiente para se torcer que seu fim chegue o quanto antes nas garras de um tripod! Estamos diante de um filme do senhor Spielberg, exibindo ainda fôlego para nos mostrar que qualquer coisa com sua assinatura é garantia de diversão espetacular, familiar e os melhores efeitos especiais. O calcanhar de Aquiles é exatamente essa sua assinatura, que compromete vergonhosamente o final da história. Durante toda a metragem os efeitos são tão sensacionais, os alienígenas são tão maléficos e colossais que quase nos leva às gargalhadas o simples e ridículo desfecho. É impossível ao final o saborzinho de ter sua inteligência subjugada por um velhinho que há muitos anos só repete sua fórmula de extremista em pirotecnia cinematográfica e o pior do caretismo classe média estadunidense.

Guerra dos Mundos – War of Worlds
- EUA 2005 De Steven Spielberg Com Tom Cruise, Dakota Fanning, Miranda Otto, Tim Robbins 116’ Ficção Científica/Aventura


DVD - O que estes filmes, feitos pelas majors americanas, têm de óbvios suas edições duplas em DVD seguem os mesmos passos. Os menus animados (e cansativos) nada mais são que cenas do próprio longa, e os extras não trazem nada além do making of gigantesco, dividido em 4 documentários como diários da produção. O que não é de todo ruim. Estranho que temas tão saborosos tenham sido ignorados. O autor H.G. Wells tem um rapidíssimo especial, e sobre a versão clássica (da própria Paramount diga-se de passagem) ouve-se só de raspão. Assim como a película, só mais um produto aprovado por um engravatado atrás de uma grande mesa em Hollywood á espera do fio metal.

Cotação: