21 de abril de 2007

Phenomena

Cineasta adorado por aficionados pelo gênero fantástico, Dário Argento, continua praticamente desconhecido no Brasil. Tome em vista este Phenomena, inédito até então no mercado de home vídeo. Lançado nos cinemas apenas a edição americana com meia hora (!!!) a menos e com o título mudado para Creepers. Agora digitalmente nos chega (graças á London Films de Jundiaí que sei lá se ainda existe) nem a versão original européia da época, nem a tal americana, e sim a remontagem recente do próprio diretor. E digo logo de cara, este roteiro (de Argento também) nas mãos de qualquer outro teria se tornado um filme classe Z, sem pé nem cabeça, involuntariamente risível. Nas mãos de um mestre com total domínio da técnica temos quase uma obra prima. Belissimamente montado, com vários elementos comuns a sua filmografia, talvez só deslize nos últimos minutos forçados e principalmente na escolha patética de alguns hits de rock mofado dos anos 80. Iron Maiden e Motorhead parecem estar ali apenas pra gente se lembrar da época em que o filme foi feito, e que mesmo assim todo o resto parece não ter envelhecido. Aliás, se nos recordarmos o que havia em filmes de terror em 1985, entende-se um pouco mais Phenomena: Adolescente assassinadas em sonhos, menina paranormal e até a identidade do assassino nos remete a um famoso filme do período. Oh, sim! Ainda podemos contemplar Jennifer Connelly(de Dark Water) adolescente, novinha de tudo, como protagonista.

Phenomena

- Itália 1985 De Dario Argento Com Jennifer Connelly, Donald Pleasence, Daria Nicolodi 110’ Terror

DVD - Mais um com nadica de nada de extra. Nem em texto, nem trailer nem nada. Tem um menuzinho animado bem brega, mas que pelo menos faz uso da cena mais legal do filme. Ah, e a capinha, pelo menos a minha possui o pôster original, mas está mal e porcamente impressa. Parece aquelas figurinhas que a gente comprava nos bares quando era criança pra ganhar prêmios.

Cotação:

13 de dezembro de 2006

A Máscara de Satã

Ainda dá pra dar boas gargalhadas com uma comédia doida produzida na década de 20 ou 30, segurar a respiração em um suspense datado de 1950 ou derramar lágrimas num dramalhão estrelado por Lana Turner. Mas há dois gêneros que naturalmente criam ferrugem com o passar do tempo: Terror e Pornográfico. Não que películas assim deixem de prestar com os anos, mas mudam seu foco narrativo para as novas platéias. E são justamente os gêneros que mais exigem a identificação do espectador com os personagens. Um dos mais aclamados filmes de terror da década de 60, A Máscara de Satã causou muitos gritos e arrepios naquele período, mas hoje se torna “apenas” um espetáculo saboroso, com sua trama inspirada em Nicolai Gogol em impecável fotografia P&B fazendo a alegria de amantes do verdadeiro cinema. E isso pouco! A estréia (oficial) na direção do italiano Mario Bava foi no Brasil por muitos anos quase uma lenda, inédito em VHS e nunca exibido na TV, pelo menos nos últimos 20 anos. Uma bruxa ao ser assassinada pela inquisição com a jura se vingar da família do líder por toda a eternidade. Assim que consegue se livrar de seu óbito (exatos 200 anos depois) não se faz de rogada. Atente para o brilhante desempenho de Barbara Steele em papel duplo (a bruxa e a princesa Kátia) que a transformaria (junto com a sueca Ingrid Pitt) na principal diva do terror, adorada por fãs da cultura S&M, e góticos em geral. Muito além em qualidade técnica dos trabalhos produzidos na inglesa Hammer, A Máscara de Satã ainda por cima mantém seus efeitos visuais impressionantes.

A Máscara de Satã (Black Sunday/The Mask of Satan/Revenge of the Vampire)
- Itália 1960 De Mario Bava Com Barbara Steele, John Richardson, Ivo Garrani 87’ Terror


DVD - Esta gema rara em terras tapuias está com áudio e imagem tinindo de novos. Nos extras, galeria de fotos com algumas imagens não pertencentes ao filme e biografias de Mario Bava e Barbara Steele. Normalmente texto como extra é um miserê, mas não neste caso devido a pouca informação que temos sobre tais mitos cinematográficos. Ah sim, e o trailer original, uma raridade, arrastado e sensacionalista como eram na época.

Cotação:

17 de novembro de 2006

King Kong (1933)

Pra começo de conversa há certa emoção ver este bisavô de todos os blockbusters, ainda mais em versão digital, com imagem e áudio cristalino como provavelmente nem as eufóricas platéias de 1933 tiverem oportunidade de assistir. E perceber que muito de seu frescor continua intacto como filme e não apenas com uma peça de museu. Tente se imaginar com os olhos de alguém da época e divirta-se em dobro! Incomoda claro, a cara de idiota que o protagonista, o gorila gigante, tem nessa versão, mas rapidinho se esquece disso (e de que ele é só uma animação em stop motion) tamanha competência técnica em que foi produzido. E de se pensar que oficialmente fazia apenas 4 anos que o cinema era sonoro... Não só digno de todos os louros pelos efeitos especiais, mas o roteiro (com estrutura diferente dos que se assiste hoje em dia) muito bem amarrado. Há sutilezas aqui e acolá, mas se não se quiser dar pelota pra elas ainda é uma película saborosamente fantástica. O que talvez o torne não só o clássico que é, mas o eleve a uma categoria especial, a daqueles filmes que nos dão uma fagulha criativa, que nos fazem querer saber mais, produzir algo parecido, que nos transformam em crianças imaginativas novamente... Wow! E não foi exatamente isso que Peter Jackson justificou para fazer a recente refilmagem?

King Kong
- EUA 1933 De Merian C. Cooper Com Fay Wray, Robert Armstrong, Bruce Cabot 104’ Aventura


DVD - Há três edições distribuídas no Brasil em DVD. Duas delas paupérrimas de extras e esta produzida por Peter Jackson e lançada pela Warner. Duplo, vale cada centavo gasto. A começar pela capa com arte que nos faz crer piamente se tratar de um produto da década de 30 se naquela época, claro, houvesse os queridos disquinhos digitais. Linda, linda, linda! Os menus estáticos, o que poderia irritar, nesse caso até que combinam com o produto. No disco um o filme em si contendo até o áudio em português antiguíssimo e galeria de trailers de vários trabalhos de Merian C. Cooper. E é nesse disquinho que se está o único porém : Faixa de áudio com comentários, inclusive com a mocinha Fay Wray, sem legendas!!! O supra-sumo do contentamento de um cinéfilo está no disco 2! Um documentário gigante e de uma riqueza absurda sobre Cooper, personagem cinematográfica essencial que eu por ignorância desconhecia. O outro documentário presente é assustadoramente revelador, feito para o DVD com os bastidores da produção. Podendo ser assistido todo ou aos pedaços por tema, cada parte deve ter quase meia hora! Possui não só imagens raríssimas da produção, mas de toda uma época, além de depoimentos de sobreviventes, celebridades e historiadores atuais. Destaque para a seqüência perdida e refeita pelos técnicos de Weta (a mesma equipe de O Senhor dos Anéis) e comandada por Peter Jackson. E mais! Todos os Storyboards (Com narração do roteiro) de O Mundo Perdido, produção anterior a King Kong e que a RKO jamais concluiu. Ufa! E ainda testes de stop motion comentados pelo genial Ray Harryhausen, unanimidade na técnica, e responsável pelos efeitos de A Fúria de Tias entre muitos outros. Tudinho legendado em português como cabe á oitava maravilha!

Cotação:

27 de outubro de 2006

Um Pijama para Dois

É por essas e outras que quando me perguntam meu gênero cinematográfico preferido nunca sei o que responder. Gosto de filmes, muito mais do que gêneros. Há musicais que amo, e realmente dão vontade de sair dançando ao seu término... Não é o caso deste “The Pajama Game”! Chaaaaaato e envelhecido em lá maior. O estranho é que praticamente os bambambans da época estavam envolvidos no projeto, a começar pelo co-diretor Stanley Donen, o mesmo do inigualável Cantando na Chuva e o coreógrafo Bob Fosse. O que vemos é um monte de musiquetas água com açúcar entremeadas por uma trama pelo menos inusitada para musicais: A luta operária. Doris Day é a cabeça de um movimento para que os salários de uma fábrica de pijamas subam sete centavos. Claro que entra em cena um executivo bonitão que deixará a mocinha relativamente divida. E dá-lhe muuuuuuita cantoria. Uma maria-mole roxa pra quem adivinhar o final? Só por curiosidade, o título idiota brasileiro é porque no último número musical há um desfile com as peças da fábrica, e a mocinha usa a parte de cima de um pijama masculino e o mocinho a parte de baixo... Se você conseguir ficar acordado até lá notará isso.

Um Pijama para Dois (The Pajama Game)
- EUA 1957 De George Abbout e Stanley Donen Com Doris Day, John Haney, Eddie Foy JR. 100’ Musical


DVD - Se a memória não me falha também há duas edições lançadas no Brasil deste filme. A que tenho é a da London Films, de uma pobreza franciscana. Menu podre, e o que é pior, imagem e áudio idem. Colocaram um fullscreen que distorce absurdamente o filme além de deixá-la granulada em excesso.

Cotação:

7 de outubro de 2006

Cronicamente Inviável

Um cartão de visita nada lisonjeador sobre o rebotalho brasileiro. Procurando justificativas ao nojento comportamento nacional, acompanhamos trechos da vida de vários personagens não muito longe da selvageria social. Uma terra onde se recicla o lixo, mas se fode (literalmente!) as pessoas economicamente desfavorecidas. O país onde o que menos falta são sanguessugas do suor alheio, sendo que os que suam não vêem a hora de também virem a ser sanguessugas... A gente acaba ao final aplaudindo de pé, concordando com quase tudo! Mas e daí? Não seria só eu quem tinha que ter essa conclusão. E nesse ponto, Cronicamente Inviável erra lamentavelmente. Nunca pensei que clamaria por isso em se tratando de cinema, mas falta-lhe claramente apelo comercial. Com narrativa excessivamente discursiva duvido que muitos que possam (e deviam!) vir ter acesso a ele consigam assistir a mais do que 15 minutos. Dessa forma não passa de punhetagem grupal de intelectuais. Não que tenha deixado de ser um grande sucesso (mesmo só com as alardeadas 4 cópias!!!) quando exibido na tela grande, o que menos faltam são adolescentes aspirantes a comunistas nos grandes centros (que ainda possuem salas de cinema!), mas e o zé povão? O tema merecia o mesmo êxito de um filme do padre Marcelo. Mas aí a própria obra não se justificaria...

Cronicamente Inviável
- Brasil 2000 De Sérgio Bianchi Com Umberto Magnani, Cecil Thiré, Daniel Dantas, Betty Gofman, Dan Filip Stulbach, Dira Paes, Leonardo Vieira 102’ Drama


DVD - O melhor está no menu aproveitando do filme uma bossa nova beeeeem fuleira. A mesma que poderia estar em qualquer elevador que não se preze. De extra (como a maioria dos filmes feitos no Brasil) muito texto sobre elenco, diretor e a produção em si. Há ainda 7 spots exibidos na TV.

Cotação:

5 de outubro de 2006

O Bravo

Em sua estréia na direção, o ator Johnny Depp resolveu dar voz aos excluídos. Índio miserável aceita participar de um snuff movie a fim de se redimir e dar um futuro menos medíocre à sua família. Wow! Snuff movies são aqueles filmes barra pesada onde acontecem assassinatos de verdade, coisa e tal... O que poderia ser uma premissa interessante torna-se um mero pretexto para esfregar nas nossas caras todas as mazelas que ainda sobrevivem logo abaixo do glamurizado "american way". E claro, o talento incontestável de Depp, no fim dos anos 90 nem tão incontestável assim. Por horas vemos apenas o índio desfrutando da primeira parte dos 50 mil adiantados e como este dinheiro revoluciona o mundo que o cerca e só! Não é um mau filme, apenas é um filme banal, correto, que provavelmente não acrescenta nada de novo nem ao cinema, nem ao tema dos filmes hardcore. Aliás, praticamente nem violência há e os tais 25 mil dólares rendem mais do que deveriam. Atenção a inúmeras pontas e figurações de famosos. A principal delas é Marlon Brando como o velho doidão que produz tais películas macabras e no estilo piscou-perdeu o roqueiro Iggy Pop. Em tempo, snuff movies (que para alguns não passam de lenda urbana) também é tema de outros dois filmes famosos: 8 mm de Joel Schumacher e, o melhor deles, Videodrome - a Síndrome do Vídeo de David Cronenberg.

O Bravo (The Brave)
- EUA 1997 De Johnny Depp Com Johnny Depp, Marshall Bell, Elpidia Carrillo 118' Drama


DVD - Mais um daqueles filmes independentes vendidos a preço de banana e sem nenhum extra. Este pelo menos contém faixa com dublagem em português para o caso de você ser analfabeto.

Cotação:

9 de setembro de 2006

Teatro da Morte

Se Bárbara Heliodora, a famosa crítica teatral, gostasse de filmes de terror, não tenha dúvida de que este seria seu preferido! Ator decadente vinga-se de absolutamente todos os críticos que menosprezaram seu trabalho seguindo à risca as mortes relatadas nas peças de Shakespeare conforme seu recente repertório. Como filme de terror, há um pouco mais de violência que nas produções da época, mas ainda muito pouco perto do que temos nos dias de hoje. Mas quem se importa com isso se nele aparece ninguém menos que Vincent Price cometendo sadismos enquanto recita trechos das obras referenciais? Um clássico trash inglês a não se perder! Cada fotograma com Price é diabolicamente engraçado, cheio de suas costumeiras canastrices que aqui parecem estar elevadas ao extremo. Tão saboroso e divertido que lá pela metade do filme achamos que aquele bando de críticos são mesmo uns abutres esnobes e merecem tudo aquilo e um pouco mais. Prepare-se para crimes absurdos como tortas de poodle, secadores de cabelo incineradores, cabeças decepadas e mais, muito mais! Ah, sim! E um final apoteótico com uma reviravolta ridiculamente óbvia.

Teatro da Morte (Theater of Blood)
- Inglaterra 1973 De Douglas Hickox Com Vincent Price, Diana Rigg, Ian Hendry 104’ Terror/Suspense


DVD - Um caso estranho de película lançada por duas distribuidoras praticamente ao mesmo tempo. Detalhe, a outra edição utilizou o título em português da época de sua estréia nos cinemas: As Sete Máscaras da Morte. Esta edição da jundiaiense Dark Side manteve o aspecto widscreen, tem menuzinho animado, áudio original mais dublagem em espanhol e francês e claro legendas em português e espanhol. De extra, o trailer original muito bem feito aos outros do mesmo período e a biografia de Vincent Price e Diana Rigg. A de Price é praticamente o mesmo texto dos outros títulos da distribuidora com o ator, tendo como diferencial a inclusão de cada filme em questão como sendo um dos pontos alto de sua carreira. Tesc, tesc, tesc...

Cotação:

3 de agosto de 2006

Metrópolis de Osamu Tezuka

Pouquíssimos filmes perdem tanto ao serem assistidos no chamado “conforto de nossos lares”, que esta adaptação do clássico mangá do mestre Osamu Tezuka. É tanta informação visual ao mesmo tempo em uma tela tão pequena que se tem a sensação de espiar uma glamurosa festa pelas frestas de um muro. Mas há outros desconfortos. O traço infantilizado dos personagens, claramente fiéis ao trabalho original de Tezuka, contrastam com o roteiro adulto ao extremo de Katsuhiro Otomo (Akira, Steam Boy). Aliás, este parece ser o calcanhar de Aquiles de Otomo: sempre apoiar suas obras em intricadas tramas militares, com golpes militares prontos a explodir, exércitos massacrando multidões de trabalhadores, etc. Ao contrário de nove entre dez desenhos vindos do Japão, há algumas seqüências bastante violentas, embora não se veja sangue, o que já denota olho vivo no mercado ocidental. Outro sinal disto é a trilha sonora incrivelmente em jazz clássico, e algumas alterações no argumento original. A andróide de 1949 se chamava Mitchi e não Tima, e ainda podia se transformar tanto em homem quanto mulher. Uma espécie de pré A Princesa e O Cavaleiro, também de Tezuka. Para quem gosta de bom cinema, e não só de cultura pop asiática, é um trabalho a não ser perdido, até porque não é todo dia que aparece uma película que ficou longos 5 anos sendo produzida e mesmo assim optou por saídas nem sempre óbvias. O final apocalíptico e nada feliz é uma das coisas mais ousadas e belas que vi em um filme. Só mesmo um rapaz muito durão pra não chegar às lágrimas ao som de “I Can’t Stop Loving You”...

Metrópolis de Osamu Tezuka (Osamu Tezuka’s Metropolis)
- Japão 2001 De Rintaro 109’ Animação/Ficção Científica


DVD - Duplo, praticamente o mesmo lançado nos EUA. Mas (e sempre tem um “mas” em DVDs lançados há alguns anos pela Columbia) nenhum dos extras contidos no segundo disco está legendado em português. Nestes extras vale destacar a comparação de story board que faz proveito do recurso multiângulo dos aparelhos de DVD, pouco usado pelas distribuidoras. Os menus em português estão estáticos de dar dó! Também no seu aparelho altere as configurações para “inglês” se quiser ver algum movimento por ali...


Cotação:

25 de abril de 2006

Encontros e Desencontros

Sofia Coppola após tentar a sorte como atriz (e se dando mal) achou seu caminho na direção! Perdoe-me pela frase clichê, mas li tanto isso em qualquer crítica sobre este Encontros e Desencontres que simplesmente não resisti. Espere só estrear Volver, o novo Almodóvar pra você ler que é o trabalho mais maduro do espanhol... Voltando ao trabalho da picorrucha do Francis, era tanta ansiedade que a primeira vez nem consegui assistir direito. Com calma, e se há um filme que exige calma é este, não teve como não me juntar ao coro dos que acham um dos melhores filmes do gênero comédia romântica. Diria mais, tratasse de um dos raros filmes adultos vindos de Hollywood nos últimos tempos. Normalmente se dá a alcunha de adulto a qualquer coisa de sacanagem, deveria ser diferente. Quando se cresce não se descobre dolorosamente que paixão avassaladora, amor eterno, par perfeito, outra metade são balelas? Que amor é muito mais companhia, tolerância, aprendizado e não necessariamente envolve tórridas cenas de sexo, beijos lascivos etc e tal? Então, é com este mundo adulto e concreto que Encontros e Desencontros flerta sem perder a ternura. E Bill Murray continua ótimo fazendo questão de ser Bill Murray, não há quem negue!

Encontros e Desencontros (Lost in Translation)
- EUA 2004 De Sofia Coppola com Bill Murray, Scarlett Johansson, Fumihiro Hayashi 96’ Comédia


DVD - Assim, é meigo, com os marcadores dos botões sendo florzinhas, mas poderia ser melhor. Só o menu principal é animado com uma visão noturna de Tókio, mais bela do que nunca. Tem um documentário (longo) interessantíssimo sobre as filmagens, onde se descobre o esquema quase clandestino das filmagens que só valoriza a experiência que acabamos de passar com o filme, entrevistas com Murray e Sofia, algumas cenas deletadas, clipe e na íntegra a participação de Bob (ou Bill) no Matthew’s BestHitTV.

IMDB:
http://us.imdb.com/title/tt0335266/


Site: http://www.lit-movie.com/

Cotação:

17 de abril de 2006

O Invasor

Vejo Beto Brant como uma espécie de Dom Quixote do cinema brasileiro. O cara de vez enquanto nos mostra trabalhos incrivelmente elaborados sem pertencer a qualquer panelinha cultural, e o que é melhor, nota-se o esforço em firmar um estilo próprio, construindo uma filmografia consistente. Em sua maioria, filmes para macho nenhum botar defeito, atrizes da Globo dando(literalmente)o melhor de si, mocinhos empunhando armas e se confundindo com bandidos e violência embalada em fotografia moderninha pra fã de Tarantino nenhum botar defeito. O Invasor é exatamente assim, tal qual Ação entre Amigos e Matadores, a fantástica estréia de Brant. Na trama, três amigos e sócios se desentendem e dois deles (Marcos Ricca e Alexandre Borges) resolvem eliminar o terceiro. O assassino contratado (Paulo Miklos), aquele refugo humano que a classe média finge não existir nos subúrbios quando não lhe convém, resolve após cumprir sua missão também entrar nos negócios. Não há o que falar mal na trama, mesmo lembrando em alguns pontos (e até na fotografia) o americano O Clube da Luta de David Fincher porque o sabor acabou incrivelmente novo. O elenco em sua maioria surpreende. Pessoas que estamos acostumados a ver tendo interpretações podres nas telenovelas como Malu Mader e Borges explicitam aqui que isso é só por má vontade de ficar oito meses trabalhando em um texto sofrível. Quem sabe o cinema daqui decola e eles não precisem mais da TV pra pagar as contas? Mas nem tudo são aplausos... Mariana Ximenes, tadinha, ainda não mostrou qual é sua profissão. A garota faz eternamente a mesma personagem e de forma muito artificial. Seja encarnando um clone de Cárrie, A Estranha no seriadinho Sandy e Junior, seja como filha problemática na novela das 8 ou candanga em minissérie histórica, é sempre a mesma com sua voz meiguinha em falsete. Sempre a mesma entonação solene e sonolenta... O interesse pela trama cai vertiginosamente com sua presença. Parecem eternas as cenas de Miklos passeando com ela na Zona Leste paulistana. Por outro lado a edição engoliu outros atores que do nada desaparecem, como a Chris Couto que faz a esposa de Ricca. Uai, aceitou a amante do marido, mataram, sumiu, tomou Doril? Aonde foi parar? Na cena final(fica frio que não vou estragar nada) há a resolução de toda a trama, corte, e não entendi patavina porque vê-se a tal da Ximenes dormindo por segundos antes dos letreiros finais. Sabe a sensação de que ia indo e acabou fondo? Bateu na trave?


O Invasor - Brasil 2001 De Beto Brant com Alexandre Borges, Marco Ricca, Paulo Miklos, Mariana Ximenes, Malu Mader 96’ Policial

DVD - Delicia! A impressão de que o disquinho não é só para distribuir o filme em si, mas um outro produto que vem junto até... um filme! Bem cuidado com os trailers dos outros dois filmes do diretor, documentário chiquérrimo, bastidores, dois clipes, dezenas de fotos, menu esquizofrênico cool. Talvez em países economicamente avançados até seja comum o diretor independente preparar o DVD complementando a película, mas aqui qualquer extra em um produto que não seja blockbuster americano é de se louvar á Nossa Senhora do Bônus Legendado.

IMDB:
http://us.imdb.com/title/tt0303408/


Site: http://www2.uol.com.br/oinvasor/

Cotação:

27 de março de 2006

Janela Indiscreta (1998)

Dá pra se deparar com esta verdadeira heresia cinematográfica sem se perguntar o porquê de sua existência? O que havia de errado com o ultraclássico de Hitchcock que o fez merecer uma refilmagem 44 anos depois? A presença do ator Christopher Reeve encabeçando o elenco no papel antes de James Stewart talvez indique alguma coisa já que deve ser raro um roteiro onde o protagonista fique paralisado o tempo todo. Assinando também a produção executiva, o eterno Superman teve neste telefilme (do canal especializado Hallmark) seu último trabalho em longa metragem, o que também explica, provavelmente, o fato da situação física do personagem ganhar muito mais destaque agora. Seu visível esforço em viver e a esperança de um dia tudo voltar ao normal chega a emocionar. Confesso que após ter visto o DVD á venda, ter dado umas risadinhas internas pela ousadia do projeto, à noite não consegui dormir imaginando o que teriam feito com plot tão genial. No dia seguinte fui correndo compra-lo sem esperar absolutamente nada além de um desaforo em forma de celulóide. Darryl Hannah no papel antes de Grace Kelly não é de forma alguma promessa de qualidade já que na época de Kill Bill assumiu que já topou participar de telefilmes horrorosos em troca de estadias em hotéis. Sua filmografia é gigantesca de coisas absurdas. A garota topa tudo mesmo! Infelizmente é impossível assisti-lo sem fazer comparações com a obra original, o que acaba tirando boa parte dos méritos dessa correta adaptação. Lamenta-se a atenção dada apenas à janela do criminoso, e não ao microcosmo geral que é o prédio. Vê-se uns dois ou três outros vizinhos, levando água a baixo a referência original ao cinema como um todo. Diga-se de passagem, a politicamente correta década de 90 deu-nos vizinhos gays, e claro, o voyeur tem alguma tecnologia a seu favor, chegando a ameaçar o assassino via e-mail. Digna de nota a trilha sonora de David Share que espertamente flerta com a original de Franz Waxman ao invés de simplesmente imita-la. Acima da média em produções originais para a TV, esta Janela não chega a ofender nossa inteligência nem magoar nosso amor á obra de Hitchcock, o que já não é pouco.

Janela Indiscreta (Rear Window)
- EUA 1998 De Jeff Bleckner com Christopher Reeve, Daryl Hannah, Robert Foster 102’ Suspense


DVD - Nada versus nada! Menuzinho mal e porcamente animado, seleção de cenas e áudio com a versão dublada no caso de você ser analfabeto. Ux, e dezenas de trailers de produções classe Z que aposto (e prometo!) nunca assistir.

Cotação:

25 de março de 2006

A Praia

A Praia começa mal logo pelo trailer visivelmente voltado ás menininhas que ainda se sentiam molhadinhas com as peripécias de DiCaprio pós Titanic. O segundo filme de Danny Boyle com capital norte americano afugentou não só as doces púberes que não devem ter entendido lhufas daquele emaranhado de violência, drogas e disputa por poder, como os nerds cinéfilos (de verdade) que nem se deram ao luxo de ir assistir a uma película estrelada pelo ex-senhor Bünchen. Bem distante da qualidade vista em seus primeiros filmes (Cova Rasa, Trainspotting – Sem limites), mas nem tão lixo como pode parecer. Ainda estão lá os enquadramentos arrojados, o humor cinicamente cool, a violência extremista se auto justificando e como em todos seus filmes, personagens em busca de seu Shangrilá existencial. Pecado maior é a edição que perde tempo fazendo vez de cartão postal da praia em si, diga-se de passagem, a mesma que se tornou notória com a chegada do tsunami no fim de 2004. E se perdemos tempo de um lado, por outro se corre. De uma hora a outra o protagonista endoidece e ninguém entende direito o porquê, até o mundinho maravilhoso dos maconheiros desanda de forma copiosamente ingênua. Dá pra se divertir, claro, mas ao final há uma frase que não sai da cabeça: “E daí?”.

A Praia (The Beach)
- EUA 1999 De Danny Boyle com Leonardo DiCaprio, Tilda Swinton, Virgine Ledoyen 119’ Aventura


DVD - Menus animados chiquérrimos, todos inteligados! De extra, o principal é o tal trailer ao som de Moby pra você ver que não estava mentindo na resenha e algumas cenas excluídas. Nessas cenas há um final alternativo menos esperançoso que poderia ter salvado a pátria literalmente. A Faixa de áudio com comentários do diretor porcamente não está legendada em português. E tava me esquecendo da “cerejinha do bolo”, um pavoroso clip das All Saints. Quem?


Cotação:

Pi

Darren Aronofsky (a exemplo de Robert Rodriguez e seu El Mariachi) ganhou notoriedade logo em seu primeiro filme não só por suas qualidades artísticas, mas por seus esforços financeiros para levar um argumento absurdamente anormal ás telas do cinema. Nesses casos nunca se tem muita certeza do que é marketing ou realidade, mas reza a lenda que o cineasta com 28 anos simplesmente saiu pedindo 100 dólares a todos os amigos e familiares á sua volta até juntar a quantia de US$ 60 mil que o projeto pedia. Caso houvesse êxito, receberiam US$ 150 em troca. Grande vencedor no Sundance Film Festival daquele ano Pi (lançado no Brasil apenas em DVD pela Europa Filmes) é um refresco em toda cinegrafia mundial. Não assistia a nada de visual tão arrebatador e roteiro tão genialmente tecido a muito tempo. Diga-se de passagem, como filme lembra as ousadias de um Glauber Rocha (só pra nacionalizar a referência á genialidade), pouco se lixando para convenções hollywoodianas. A história, em preto e branco bem granulado, de Max (Sean Gullette) que busca qualquer ordem no caos matemático da letra grega e acaba entrando em um perigoso jogo envolvendo bolsa de valores, existencialismo e até o torá, mesmo tratando de assuntos que não nos são gratos, consegue pela sua execução brilhante nos prender por uma hora e pouquinho e ainda correr para a internet catar qualquer outra informação sobre o assunto. Dá pra esperar o episódio final da segunda temporada de Lost, dirigido também pelo diretor?

Pi
- EUA 1998 De Darren Aronofsky com Sean Gullette, Mark Margolis, Bem Shenkman, Samia Shoair 84’ Ficção Científica


DVD - Raridade em terras tapuias, além de algum texto, tem como extra uma espécie de documentário amador feito em VHS das filmagens até a consagração no Sundance. E não precisa deixar para ver só depois do filme, porque ele não entrega nada e ainda nos faz ter mais prazer ainda na vitória de algo vertiginosamente original.


Cotação: