31 de outubro de 2007

Pink Flamingos

Todo mundo tem uma amiga que gosta de fazer estripulias em frente a câmeras... Quase todo mundo já fez filminhos caseiros com a galera só pra dar risada... Se esta sua amiga fosse a Divine, e você vivesse nos anos 70 em Baltimore, teria boas chances de ter produzido algo como Pink Flamingos. Grosso, amador, vulgar, mas saborosamente hilário! Em muitas cenas, quase sempre as externas, não há som direto, apenas o que de pior a música americana dos anos 50 produziu. A câmera trêmula de John Waters mesmo mostrando coisas escabrosas como um ânus cantante não parece querer chocar por chocar, mas divertir-se. Um happening do mau gosto que inclui até uma cena de sexo oral explicita de incesto entre Divine e seu filho. Mink Stole (atriz de praticamente todos os filmes do diretor) é a vilã de cabelos vermelhos Connie Marble, que junto de seu marido seqüestram moças, mantêm-nas em cativeiro para serem estupradas e seus bebês vendidos a casais lésbicos. Invejosa pra caramba ainda empenha-se em acabar com a “carreira” de Divine, e pegar para si o título de pessoa mais pervertida do planeta. E nesta guerra vale absolutamente tudo, até chegar ao plano seqüência do famoso clímax com a degustação de fezes caninas! Quando você lê que certo filme não é para qualquer paladar, bem, esta máxima nunca foi tão verdadeira quanto aqui...

Pink Flamingos – Pink Flamingos (An Exercise in Poor Taste)

- EUA 1972 De John Waters Com Divine, Mink Stole, Davida Lochary, Edith Massey, Danny Mills 112’ Comédia


DVD - Raríssimo filme no Brasil, jamais lançado comercialmente, exceto uma exibição na Band na década passada. Lamentavelmente lançado pela Continental Home Video. Primeiro vamos chorar a impressão da capa, que mais parece Xerox colorido. Nela lê-se que os extras são biografias e galeria o que não é verdade! Em compensação não fala nada sobre Waters exibindo cenas deletadas e o trailer original de lançamento nos cinemas. Pra piorar, dezenas de pessoas no Orkut reclamam que suas cópias estão com defeito, inclusive a minha simplesmente pára de funcionar em alguns pontos. O mais incrível é que mesmo com matéria prima de terceira, a distribuidora Continental tem a cara de pau de cobrar preços abusivos!!! Com qualidade digna de qualquer pirata da esquina eles acham que devem cobrar até três vezes o valor de qualquer DVD atualmente. É inesquecível quanto lançaram os filmes do Zé do Caixão em VHS e se recusaram a pagar copyrights! Uma lenda como José Mojica Marins teve que ir ao Programa do Ratinho reclamar o que lhe era de direito. Vergonha!

Cotação:

O Aviador

Era uma daquelas películas que ao ler as primeiras notícias eu já gostava. Mas com aquela enxurrada de Oscar (5), e uma escolha equivocada para protagonista fiquei com os pezinhos a traz. Assistindo a esta biografia do magnata Howard Hughes comandada por ninguém Scorsese, após infinitas quase 3 (!!!) horas é impossível não se imaginar que filme fantástico teria sido! Primeiro porque DiCaprio no papel principal jamais deixa de ser Di Caprio em um papel principal: Um adolescente estridente, canastrão cheio de caras e bocas. Não convence nem aqui nem na china, principalmente seduzindo as mais belas estrelas da época. Cate Blanchett (agraciada com o prêmio da academia por este papel) empresta certo cinismo caricatural ao interpretar Katharine Hepburn difícil de digerir. Pelo menos no meu imaginário Hepburn é a idealização do que uma estrela deveria ser, linda, politizada, afável e muito competente. Outro senão, muito mais sério são os rumos optados pelo roteiro. 10% do filme vêem-se os anos dourados de Hollywood, para 90% sobre a aviação... Ok, com um filme que tem esse título esperar-se o quê? Mas são muitos termos técnicos da área passando na tela, impossível manter o interesse!!! Chato, chato, chato! A primeira hora do filme (em impressionante duo tone), que mostra com realismo todo o processo de feitura de Anjos do Inferno (Hell’s Angells) até sua glamorosa estréia é esplendida. A Guria do No Doubt em sua rápida presença como Jean Harlow é outro ponto forte. A entrada dela com Hughes na estréia do filme que a revelaria como primeira Venus Platinada do cinema, com centenas de fotógrafos se acotovelando, e eles pisando em montanhas de lâmpadas de flashes caídas no tapete vermelho é uma das coisas mais fantásticas que vi recentemente! Grandioso como Howard Hughes...

O Aviador – The Aviator

- EUA 2004 De Martin Scorsese Com Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, Alec Baldwin, 170’ Drama


DVD - Duplo, com extras legendados até a faixa de comentários do diretor no primeiro disco, pro caso de você ser corajoso o suficiente de rever aquelas suadas 3 horas de novo. Incomoda as animações dos menus não poderem ser puladas, o que dá certa preguiça, principalmente no disco de extras. Horas a fio de documentários, alguns bem longos por sinal, mas absolutamente nenhum sobre Hollywood da época, ou o que significava ser um produtor independente na década de 30. Mas em compensação há uns três sobre aviação, inclusive um do History Channel. Dois deles contêm importantes informações sobre TOC, transtorno mental que acometeu o biografado no fim de seus dias, e um sobre cabelos e maquiagens do filme, explicando sobre a transformação de Gwen Stefani em Jean Harlow.

Cotação:

24 de outubro de 2007

Os Aventureiros do Bairro Proibido

Este filme está para quem usava calças curtas nos anos 80 o mesmo que O Mágico de Oz para quem era criança na década de 30. Puro entretenimento escapista pra fazer a imaginação ir longe. Tão escapista que inúmeros furos no roteiro passavam desapercebidos naquela época. Um super fiasco de bilheteria, mamando criativamente onde já haviam mamado Indiana Jones e Star Wars: os seriadinhos de aventura do inicio do século passado, como Flash Gordon. Tornou-se Cult de tantas reprises na Sessão da Tarde. Chegava-se da escola a tempo de almoçar assistindo He-man, tirava-se um cochilinho até acabar Vale A Pena Ver de Novo (provavelmente com Fera Radical, daí era o resto da tarde nos deliciando com o paspalho Jack Burton (Kurt Russel) ás voltas com feiticeiros chineses soltando raios em cenários de neon dignos da Mocidade Independente de Padre Miguel. Uma delicia ao som de sintetizadores estridentes e efeitos especiais mecânicos. Um querido samba do criolo doido que exatos 21 anos depois ainda é diversão pura e garantida!

Os Aventureiros do Bairro Proibido
– Big Trouble in Little China


- EUA 1986 De John Carpenter Com Kurt Russel, Kin Cattrall, Dennis Dun, Victor Wong, James Hong 100’ Aventura


DVD - Wow! Se viesse sem um extra que seja, já seria imperdível na DVDteca de qualquer mortal, mas não é o caso! Edição dupla, com menus animados tridimensionais, repleto de extras como muitas cenas deletadas e remontadas, final alternativo, entrevistas da época, dezenas de fotos raras, trailers, etc, etc.. Lamentável a faixa de comentários de Carpenter e Russel sem legendas no primeiro disco. Mas no segundo tem legendas em praticamente tudo, exceto no conteúdo em texto.

Cotação:

29 de junho de 2007

A Condessa Drácula

Esta deliciosa adaptação da histórica Condessa Erzsébet Bathory firmou-se como um dos últimos grandes filmes da Hammer. Assim como todos da produtora inglesa, muito comentado e pouco visto ou muito confundido. Culpa das incansáveis reprises na TV durante os anos 80. Uma vez por todas, não é quase pornô nem tão trash com morceguinhos de plástico presos a um fio! A propósito, nem vampira a condessa é, o nome é só pra faturar um pouquinho mais nas bilheterias. Com competente suspense do começo ao fim, a grande sacada do roteiro é contar tudo sob a ótica do povão em torno do castelo. Os diabólicos feitos da grã fina têm inicio com um xingamento popular, e o desfecho idem: Devil woman! Muitos historiadores dizem que a lendária sanguinária não matava jovens virgens para se manter sempre bela, mas por sofrer de uma rara doença sanguínea. Antes disso o mito já tinha se criado através dos séculos de boca a boca. A polonesa Ingrid Pitt, uma das principais divas do estúdio, está maravilhosamente sexy e talentosa no papel título com seu make-up 70’s. De velha arrogante de passado devasso a ingenuamente cega pela vaidade, o que não faltam ao seu redor são jogos de interesses, com personagens de relativa profundidade pouco comum no gênero. Quase dá pena! Suigeneris assim como o uso cenográfico. Sempre o mesmo corredor, mas fotografado de ângulos diferentes torna-se um dos melhores castelos góticos já vistos. Envolvente e divertido, uma preciosidade camp da sétima arte!

A Condessa Drácula – Countess Dracula

- Inglaterra 1971 De Peter Sasdy Com Ingrid Pitt, Nigel Green, Sandor Elés 93’ Terror


DVD - Nos EUA foi lançado em edição dupla juntamente com Carmilla – A Vampira de Karnestein(Vampire Lovers)e de bônus uma faixa de comentários (!!!) de ninguém menos que Ingrid Pitt entre outros envolvidos na obra. No Brasil ele é comercializado apenas em versão íntegra e restaurado, com imagem e áudio cristalinos. Ao contrário de Vampire Lovers que parece ter sido copiado de um VHS. De extra nada mais nada menos que o hilário trailer original para o mercado norte americano.

Cotação:

16 de junho de 2007

Ladrão de Casaca

Em um dos documentários contidos nesta edição, a filha ou a neta do diretor, se apressa a dizer que este é um filme maravilhoso porque é um Hitchcock típico. Muito pelo contrário! Talvez seja o mais ousado, onde ele tentou subverter algumas das “regras” de sua obra. O próprio argumento não é de suspense, mas sim mistério. Praticamente um “Quem é o criminoso?” a lá Agatha Christie. Quer risco maior para o auto-intitulado mestre do suspense? Claro que temos o bom (!!!) e velho Cary Grant tentando provar sua inocência e a gélida como nunca Grace Kelly como casal central e mais aquele apuro técnico tão saboroso, mas os cenários (a riviera francesa fotografada belíssimamente) com mais externas que o costumeiro e um criminoso desconhecido nos levam a algo fora do comum. Oh sim, e a trilha sonora romântica destoa das outras assinadas por Bernard Herrmann! De qualquer forma, não é um grande filme, está anos luz de obras-primas como Um Corpo que Cai (Vertigo) ou Psicose (Psyco), mas mesmo assim, empolgante e memorável. A prova que mesmo quando Alfred Hitchcok não é lá essas coisas ainda é bom pra caramba! Repare como os figurinos da veterana Edit Head ajudam a contar a história e na soberba interpretação de Kelly, de garota materialista a sagaz detetive apaixonada.

Ladrão de Casaca – To Catch a Thief

- EUA 1955 De Alfred Hitchcock Com Cary Grant, Grace Kelly, Jessie Royce Landis 106’ Romance/Policial


DVD - Chiquérrimo como este filme merece. O menu animado toma ao máximo proveito de algumas seqüências de forma tão inteligente que parecem ter sido feitas apenas para isso. Mais alguns documentários interessantes, em se tratando de um dos mais mitológicos trabalhos do cineasta. Ainda há o trailer, único conteúdo sem legendas em português. Afinal, porque as grandes distribuidoras raramente legendam trailers? Outro ponto contra: O documentário (muito bom por sinal) sobre a figurinista Edit Head é exatamente o mesmo que a Paramount incluiu na edição digital de Crepúsculo dos Deuses. Mas se você não tiver este...

Cotação:

25 de maio de 2007

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

O ponto mais interessante deste filme, querido por 9 entre 10 pessoas que o assistiram, é ser ambientado em um universo particular e absolutamente comum. Seus matizes vermelhos e verdes não nos deixam dúvidas logo de cara de que vemos algo particular, como são os sonhos ou qualquer outra coisa que só ocorra nas nossas cabeças. Cúmplices aceita-se o mundo de Amélie cercado de pequenos prazeres. Compartilha-se o cotidiano da jovem que não sabe (ou não quer) conviver com outras pessoas. Demonstra ótima habilidade em criar subterfúgios quando precisa (ou quer) se relacionar afetivamente com humanos. Uma das causas para que se você for ansioso só achar um mimo lá pela terceira vez que o assistir... O principal mérito não está na fotografia, cenografia ou qualquer outro rebuscamento já observado na filmografia de Jeneut, mas em emocionar sem pieguismo ou dramalhões. Nos joga na cara o real/artificial isolamento que todos vivemos. Amélie é complicada porque quer, por opção? Desde pequena inventou uma doença cardíaca e assim foi se isolando ou se ajustando ao seu redor. Como qualquer outro personagem. Delicadamente adulto, este primeiro filme do diretor após a tentativa Hollywoodiana frustrada com Alien – A Ressurreição, fala diretamente sobre a fidelidade com a criança que já fomos um dia. Uma vez encontrei o raro jogo para Playstation One de O Ladrão de Sonhos, outro de seus trabalhos. Um subproduto do gênero para Amélie seria fabuloso!

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain – Le Fabuleux Destin D’Amélie Poulain

- França 2001 De Jean-Pierre Jeneut Com Audrey Tautou, Matheu Kassovitz, Serge Merlin 122’ Romance/Comédia


DVD - Oh! Temos extras! Todos crus, embrulhados num menu que nada mais que um slide show da personagem principal. Uma extensa entrevista de Jean-Pierre Jeneut feita para o lançamento do disco e o teste que colocou Audrey Tautou no mapa cinematográfico são os principais destaques.

Cotação:

18 de maio de 2007

OldBoy

Mais um filme que se não tivesse caído nas graças de Quentin Tarantino, jamais aportaria no Brasil: OldBoy, a segunda parte da trilogia do coreano Chanwook Park sobre (basicamente) a vingança. Isto é, o rótulo comercial, aderido por boa parte da imprensa para definir a obra é a vingança, o que não deixa de ser simplificar de mais. Importa pouco ver o pobre Oh Dae-su resolver seus problemas com quem quer que seja que o tenha aprisionado em um quarto de hotel vagabundo e após 15 anos o ter libertado perto de inúmeras questões que vão sendo apresentadas. Claro, banhadas por uma violência gráfica espetacular, herança do roteiro originalmente explorado em um mangá de mesmo nome. Dia destes li uma entrevista onde Tarantino dizia o quão engessado é o cinema “made in Hollywood”, cheio de regras que nunca serão quebradas a fim de não decepcionar a cada vez mais sonâmbula platéia média. Taí o trunfo dos filmes que vêm da Ásia. Absorvem os trabalhos americanos (a própria fotografia de OldBoy é bem parecida com a de Clube da Luta) em muitos pontos, mas quebram a tal linha citada pelo diretor de Kill Bill. Até quando seus roteiros optam por soluções mais óbvias, a forma em que as imagens são mostradas sempre nos deixa boquiabertos. Não é o caso deste filme absolutamente surpreendente do inicio ao fim. E de tão bem feito, mesmo cheio de surpresas e reviravoltas rocambolescas há substância suficiente para ser visto e revisto inúmeras vezes. Se for pra citar um deslize, dá pra apontar o final ambíguo. Não a solução da trama em si, mas a seqüência final. O que perto das duas horas fantásticas que passamos não é nada!

OldBoy
- Coréia 2003 De Chanwook Park Com CHOI Min-sik, YOO Ji Tae, KANG Hye-jung 120’ Suspense/Policial


DVD - A Europa Filmes lançou duas versões de Old Boy. Uma dupla, e a simples, que foi a que adquiri. Simples é apelido! Menu nojento estático e mais nada de extra. Mas se a ausência de extras fosse o problema maior nesta edição nem me importaria tanto. Dói ver a qualidade péssima da imagem e áudio. Parece DVD pirata! Sem falar nas legendas em francês que aparecem na tela em alguns momentos sem que possamos retirá-las... Vale sonhar com a edição tripla (!!!) lançada pela Tartasian nos EUA. Vem até com alguns fotogramas de 35 mm.

Cotação:

21 de abril de 2007

Phenomena

Cineasta adorado por aficionados pelo gênero fantástico, Dário Argento, continua praticamente desconhecido no Brasil. Tome em vista este Phenomena, inédito até então no mercado de home vídeo. Lançado nos cinemas apenas a edição americana com meia hora (!!!) a menos e com o título mudado para Creepers. Agora digitalmente nos chega (graças á London Films de Jundiaí que sei lá se ainda existe) nem a versão original européia da época, nem a tal americana, e sim a remontagem recente do próprio diretor. E digo logo de cara, este roteiro (de Argento também) nas mãos de qualquer outro teria se tornado um filme classe Z, sem pé nem cabeça, involuntariamente risível. Nas mãos de um mestre com total domínio da técnica temos quase uma obra prima. Belissimamente montado, com vários elementos comuns a sua filmografia, talvez só deslize nos últimos minutos forçados e principalmente na escolha patética de alguns hits de rock mofado dos anos 80. Iron Maiden e Motorhead parecem estar ali apenas pra gente se lembrar da época em que o filme foi feito, e que mesmo assim todo o resto parece não ter envelhecido. Aliás, se nos recordarmos o que havia em filmes de terror em 1985, entende-se um pouco mais Phenomena: Adolescente assassinadas em sonhos, menina paranormal e até a identidade do assassino nos remete a um famoso filme do período. Oh, sim! Ainda podemos contemplar Jennifer Connelly(de Dark Water) adolescente, novinha de tudo, como protagonista.

Phenomena

- Itália 1985 De Dario Argento Com Jennifer Connelly, Donald Pleasence, Daria Nicolodi 110’ Terror

DVD - Mais um com nadica de nada de extra. Nem em texto, nem trailer nem nada. Tem um menuzinho animado bem brega, mas que pelo menos faz uso da cena mais legal do filme. Ah, e a capinha, pelo menos a minha possui o pôster original, mas está mal e porcamente impressa. Parece aquelas figurinhas que a gente comprava nos bares quando era criança pra ganhar prêmios.

Cotação:

13 de dezembro de 2006

A Máscara de Satã

Ainda dá pra dar boas gargalhadas com uma comédia doida produzida na década de 20 ou 30, segurar a respiração em um suspense datado de 1950 ou derramar lágrimas num dramalhão estrelado por Lana Turner. Mas há dois gêneros que naturalmente criam ferrugem com o passar do tempo: Terror e Pornográfico. Não que películas assim deixem de prestar com os anos, mas mudam seu foco narrativo para as novas platéias. E são justamente os gêneros que mais exigem a identificação do espectador com os personagens. Um dos mais aclamados filmes de terror da década de 60, A Máscara de Satã causou muitos gritos e arrepios naquele período, mas hoje se torna “apenas” um espetáculo saboroso, com sua trama inspirada em Nicolai Gogol em impecável fotografia P&B fazendo a alegria de amantes do verdadeiro cinema. E isso pouco! A estréia (oficial) na direção do italiano Mario Bava foi no Brasil por muitos anos quase uma lenda, inédito em VHS e nunca exibido na TV, pelo menos nos últimos 20 anos. Uma bruxa ao ser assassinada pela inquisição com a jura se vingar da família do líder por toda a eternidade. Assim que consegue se livrar de seu óbito (exatos 200 anos depois) não se faz de rogada. Atente para o brilhante desempenho de Barbara Steele em papel duplo (a bruxa e a princesa Kátia) que a transformaria (junto com a sueca Ingrid Pitt) na principal diva do terror, adorada por fãs da cultura S&M, e góticos em geral. Muito além em qualidade técnica dos trabalhos produzidos na inglesa Hammer, A Máscara de Satã ainda por cima mantém seus efeitos visuais impressionantes.

A Máscara de Satã (Black Sunday/The Mask of Satan/Revenge of the Vampire)
- Itália 1960 De Mario Bava Com Barbara Steele, John Richardson, Ivo Garrani 87’ Terror


DVD - Esta gema rara em terras tapuias está com áudio e imagem tinindo de novos. Nos extras, galeria de fotos com algumas imagens não pertencentes ao filme e biografias de Mario Bava e Barbara Steele. Normalmente texto como extra é um miserê, mas não neste caso devido a pouca informação que temos sobre tais mitos cinematográficos. Ah sim, e o trailer original, uma raridade, arrastado e sensacionalista como eram na época.

Cotação:

17 de novembro de 2006

King Kong (1933)

Pra começo de conversa há certa emoção ver este bisavô de todos os blockbusters, ainda mais em versão digital, com imagem e áudio cristalino como provavelmente nem as eufóricas platéias de 1933 tiverem oportunidade de assistir. E perceber que muito de seu frescor continua intacto como filme e não apenas com uma peça de museu. Tente se imaginar com os olhos de alguém da época e divirta-se em dobro! Incomoda claro, a cara de idiota que o protagonista, o gorila gigante, tem nessa versão, mas rapidinho se esquece disso (e de que ele é só uma animação em stop motion) tamanha competência técnica em que foi produzido. E de se pensar que oficialmente fazia apenas 4 anos que o cinema era sonoro... Não só digno de todos os louros pelos efeitos especiais, mas o roteiro (com estrutura diferente dos que se assiste hoje em dia) muito bem amarrado. Há sutilezas aqui e acolá, mas se não se quiser dar pelota pra elas ainda é uma película saborosamente fantástica. O que talvez o torne não só o clássico que é, mas o eleve a uma categoria especial, a daqueles filmes que nos dão uma fagulha criativa, que nos fazem querer saber mais, produzir algo parecido, que nos transformam em crianças imaginativas novamente... Wow! E não foi exatamente isso que Peter Jackson justificou para fazer a recente refilmagem?

King Kong
- EUA 1933 De Merian C. Cooper Com Fay Wray, Robert Armstrong, Bruce Cabot 104’ Aventura


DVD - Há três edições distribuídas no Brasil em DVD. Duas delas paupérrimas de extras e esta produzida por Peter Jackson e lançada pela Warner. Duplo, vale cada centavo gasto. A começar pela capa com arte que nos faz crer piamente se tratar de um produto da década de 30 se naquela época, claro, houvesse os queridos disquinhos digitais. Linda, linda, linda! Os menus estáticos, o que poderia irritar, nesse caso até que combinam com o produto. No disco um o filme em si contendo até o áudio em português antiguíssimo e galeria de trailers de vários trabalhos de Merian C. Cooper. E é nesse disquinho que se está o único porém : Faixa de áudio com comentários, inclusive com a mocinha Fay Wray, sem legendas!!! O supra-sumo do contentamento de um cinéfilo está no disco 2! Um documentário gigante e de uma riqueza absurda sobre Cooper, personagem cinematográfica essencial que eu por ignorância desconhecia. O outro documentário presente é assustadoramente revelador, feito para o DVD com os bastidores da produção. Podendo ser assistido todo ou aos pedaços por tema, cada parte deve ter quase meia hora! Possui não só imagens raríssimas da produção, mas de toda uma época, além de depoimentos de sobreviventes, celebridades e historiadores atuais. Destaque para a seqüência perdida e refeita pelos técnicos de Weta (a mesma equipe de O Senhor dos Anéis) e comandada por Peter Jackson. E mais! Todos os Storyboards (Com narração do roteiro) de O Mundo Perdido, produção anterior a King Kong e que a RKO jamais concluiu. Ufa! E ainda testes de stop motion comentados pelo genial Ray Harryhausen, unanimidade na técnica, e responsável pelos efeitos de A Fúria de Tias entre muitos outros. Tudinho legendado em português como cabe á oitava maravilha!

Cotação:

27 de outubro de 2006

Um Pijama para Dois

É por essas e outras que quando me perguntam meu gênero cinematográfico preferido nunca sei o que responder. Gosto de filmes, muito mais do que gêneros. Há musicais que amo, e realmente dão vontade de sair dançando ao seu término... Não é o caso deste “The Pajama Game”! Chaaaaaato e envelhecido em lá maior. O estranho é que praticamente os bambambans da época estavam envolvidos no projeto, a começar pelo co-diretor Stanley Donen, o mesmo do inigualável Cantando na Chuva e o coreógrafo Bob Fosse. O que vemos é um monte de musiquetas água com açúcar entremeadas por uma trama pelo menos inusitada para musicais: A luta operária. Doris Day é a cabeça de um movimento para que os salários de uma fábrica de pijamas subam sete centavos. Claro que entra em cena um executivo bonitão que deixará a mocinha relativamente divida. E dá-lhe muuuuuuita cantoria. Uma maria-mole roxa pra quem adivinhar o final? Só por curiosidade, o título idiota brasileiro é porque no último número musical há um desfile com as peças da fábrica, e a mocinha usa a parte de cima de um pijama masculino e o mocinho a parte de baixo... Se você conseguir ficar acordado até lá notará isso.

Um Pijama para Dois (The Pajama Game)
- EUA 1957 De George Abbout e Stanley Donen Com Doris Day, John Haney, Eddie Foy JR. 100’ Musical


DVD - Se a memória não me falha também há duas edições lançadas no Brasil deste filme. A que tenho é a da London Films, de uma pobreza franciscana. Menu podre, e o que é pior, imagem e áudio idem. Colocaram um fullscreen que distorce absurdamente o filme além de deixá-la granulada em excesso.

Cotação:

7 de outubro de 2006

Cronicamente Inviável

Um cartão de visita nada lisonjeador sobre o rebotalho brasileiro. Procurando justificativas ao nojento comportamento nacional, acompanhamos trechos da vida de vários personagens não muito longe da selvageria social. Uma terra onde se recicla o lixo, mas se fode (literalmente!) as pessoas economicamente desfavorecidas. O país onde o que menos falta são sanguessugas do suor alheio, sendo que os que suam não vêem a hora de também virem a ser sanguessugas... A gente acaba ao final aplaudindo de pé, concordando com quase tudo! Mas e daí? Não seria só eu quem tinha que ter essa conclusão. E nesse ponto, Cronicamente Inviável erra lamentavelmente. Nunca pensei que clamaria por isso em se tratando de cinema, mas falta-lhe claramente apelo comercial. Com narrativa excessivamente discursiva duvido que muitos que possam (e deviam!) vir ter acesso a ele consigam assistir a mais do que 15 minutos. Dessa forma não passa de punhetagem grupal de intelectuais. Não que tenha deixado de ser um grande sucesso (mesmo só com as alardeadas 4 cópias!!!) quando exibido na tela grande, o que menos faltam são adolescentes aspirantes a comunistas nos grandes centros (que ainda possuem salas de cinema!), mas e o zé povão? O tema merecia o mesmo êxito de um filme do padre Marcelo. Mas aí a própria obra não se justificaria...

Cronicamente Inviável
- Brasil 2000 De Sérgio Bianchi Com Umberto Magnani, Cecil Thiré, Daniel Dantas, Betty Gofman, Dan Filip Stulbach, Dira Paes, Leonardo Vieira 102’ Drama


DVD - O melhor está no menu aproveitando do filme uma bossa nova beeeeem fuleira. A mesma que poderia estar em qualquer elevador que não se preze. De extra (como a maioria dos filmes feitos no Brasil) muito texto sobre elenco, diretor e a produção em si. Há ainda 7 spots exibidos na TV.

Cotação:

5 de outubro de 2006

O Bravo

Em sua estréia na direção, o ator Johnny Depp resolveu dar voz aos excluídos. Índio miserável aceita participar de um snuff movie a fim de se redimir e dar um futuro menos medíocre à sua família. Wow! Snuff movies são aqueles filmes barra pesada onde acontecem assassinatos de verdade, coisa e tal... O que poderia ser uma premissa interessante torna-se um mero pretexto para esfregar nas nossas caras todas as mazelas que ainda sobrevivem logo abaixo do glamurizado "american way". E claro, o talento incontestável de Depp, no fim dos anos 90 nem tão incontestável assim. Por horas vemos apenas o índio desfrutando da primeira parte dos 50 mil adiantados e como este dinheiro revoluciona o mundo que o cerca e só! Não é um mau filme, apenas é um filme banal, correto, que provavelmente não acrescenta nada de novo nem ao cinema, nem ao tema dos filmes hardcore. Aliás, praticamente nem violência há e os tais 25 mil dólares rendem mais do que deveriam. Atenção a inúmeras pontas e figurações de famosos. A principal delas é Marlon Brando como o velho doidão que produz tais películas macabras e no estilo piscou-perdeu o roqueiro Iggy Pop. Em tempo, snuff movies (que para alguns não passam de lenda urbana) também é tema de outros dois filmes famosos: 8 mm de Joel Schumacher e, o melhor deles, Videodrome - a Síndrome do Vídeo de David Cronenberg.

O Bravo (The Brave)
- EUA 1997 De Johnny Depp Com Johnny Depp, Marshall Bell, Elpidia Carrillo 118' Drama


DVD - Mais um daqueles filmes independentes vendidos a preço de banana e sem nenhum extra. Este pelo menos contém faixa com dublagem em português para o caso de você ser analfabeto.

Cotação: