8 de maio de 2008

Mistérios e Paixões

O próprio Cronenberg assume que muito do romance beat Naked Lunch é infilmável. Ainda assim conseguiu resultado para pouquíssimos espectadores já que ficar horas dentro da cabeça de um viciado em veneno para baratas não é das sensações mais agradáveis. Acrescentou algumas passagens da história do próprio autor William S. Burroughs, então vivo àquela altura, como forma de compensar as partes omitidas do livro. Quem leu sabe que como filme sua feitura é um pequeno milagre de relativa fidelidade narrativa, tendo como base textos desconexos. Mesmo a trama se desenvolvendo em 1952, é contada como uma velha película noir, trocando a fotografia preto e branco por tons verdes e vermelhos. Tal escolha, em conjunto com a direção de arte e figurinos, foi muito feliz porque não nos permite identificar a época em que foi produzido. Basicamente o argumento é simples, o diabo é seu desenrolar. Escritor tenta sobreviver trabalhando como exterminador de insetos. Seguindo idéia da esposa torna-se viciado ao injetar o veneno em si. Isso o põe a serviço de organização misteriosa que lhe manda até um lugar chamado Interzone. Lá será espécie de detetive, tendo a “homossexualidade como seu melhor disfarce”, conforme recomenda um dos agentes, sua máquina de escrever. Essa criatura é outro acerto, bem realizado, convence sendo meio inseto, meio máquina e que ainda fala bastante, não pelos cotovelos, mas através de seus anus gigante. Nunca se entende realmente qual é a missão dele, e não espere que a confusão melhore até seu desfecho. Muitas vezes obsoleto quanto escrever à máquina ou escritores drogados. Tão desconcertante quanto os caminhos da mente criativa.

Mistérios e Paixões – Naked Lunch

- Canadá/EUA 1991 De David Cronenberg com Peter Weller, Judy Davis, Ian Holm, Julian Sands, Roy Scheider, Monique Mercure, Joseph Scoren 115’ Drama/Mistério


DVD - Um dos mais subestimados de Croenberg tem edição boazinha. Utilizaram a imagem do pôster original, ao invés do que havia feito a distribuidora do VHS, que tentou enganar o público fazendo supor ser uma história de amor. Até esse título em português ridículo tentaram consertar escrevendo em baixo “Uma Adaptação de Almoço Nu, de Burroughs”, afinal, quem quer que tenha interesse por ele já deve conhecer o livro. Ainda menus retrôs com baratinhas passeando cá e lá, e alguns extras como texto, spot de TV e trailer (narrados por Burroughs!!!) e um curto making off da com depoimentos de 1991.

Cotação:

7 comentários:

  1. Tenho esse filme em DVD, daquelas versões duplex, junto com A Casa dos Espíritos.
    Sou fã do Cronenberg, mas ainda não consegui terminar de assistir esse filme.
    Estava com muito sono e não é um estado indicado para assistir esse complexo filme.
    Até onde assisti, já pude dizer com certeza que era o filme mais bizarro do diretor e um dos mais bizarros que já assisti.
    Vou terminar de assistir qualquer dia.
    Abraço!

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  2. Achei ele muito melhor hoje em dia! Esses DVD está com uma imagem mil vezes superior à escuridão total que era o VHS portanto mais "assistível". Conheço essa edição dupla que vc falou. São dois discos em um estojo ou dois filmes em 1 disco? Tem os mesmos extras?

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  3. Miguel, onde conseguir esse filme???

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  4. Facinho facinho no Extra. Hoje em dia eu só acho essa versão que o Ibertson falou, dois em um.

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  5. O mais curioso da tua referência a este filme no teu blog, é a tradução do título no Brasil: Mistérios e Paixões.

    Em Portugal, tanto o livro como o filme estão catalogados como O Festim Nu.

    Não resisti em colocar aqui esta pequena curiosidade.

    Abraço primo.

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  6. Sam, esse título é muito ruim, porque junto com a capa do VHS jamais se cria se tratar da obra que é! Um descaso da distribuidora. Festim Nu é mais bacana! Mas o livro aqui foi Almoço Nu mesmo.

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  7. Pessoal. Assisti este filme no cinema da déca de 80 acho, e toda vez que contava ninguém acreditava em mim. Estou muito feliz que ele existe e...realmente é bizarro. Abraços

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