12 de outubro de 2005

Steamboy

E confesso logo de cara que a premissa de Steamboy nunca me alegrou muito. Depois do choque de Akira em 1991 (pra variar, demorou quase meia década para estrear aqui) não me empolgava a Inglaterra vitoriana, o século 19, revolução industrial, etc . Mas poxa, é do Katsuhiro Otomo, o cara fodão que nos deu Akira e nunca mais fez nada só seu. Não custa ver... Só pra te localizar, caso você não tenha nascido a tempo de viver a febre Akira na década de 80. Gosto por mangá a gente sempre teve, mesmo antes que isso fosse moda. Antes, muito antes de Cavaleiros do Zodíaco, só tínhamos Jaspion na TV e nas bancas nada. Aí a editora Globo lançou uma obra prima chamada AKIRA. Papel cuchê, colorido (era uma tradução do lançado nos EUA) custando os olhos da cara quinzenalmente. E quantas vezes passei fome no intervalo pra garantir a edição da quinzena. Infelizmente nunca completei a coleção. Aliás, reza a lenda que nem a editora a completou. Mas daí veio a notícia de um filme daquele universo fantástico de motos possantes rasgando ruas de uma Tóquio tão futurista quanto decadente, gangues se drogando com pílulas incríveis, telecinese. Era demais para um adolescente! Eu quero até hoje uma jaqueta igualzinha à do Kaneda com os dizeres Bom para a saúde, péssimo para a educação! E se passaram 14 anos e nada... Até Steamboy, claro! Lançado diretamente em VHS e DVD no Brasil, o novo longa de Otomo poderia ser apenas mais um filme de gênio, que mesmo não sendo bom, ainda está bem acima da média. Ledo engano, meu caro! Ao final de seus 126 minutos de duração estava aplaudindo sozinho no sofá de minha casa. Incrivelmente o mestre conseguiu superar seu trabalho anterior não só em técnica de animação, mas principalmente em um roteiro empolgante muito bem amarrado. Em comum com o filme de 88 notei algo que me levou ao que li nos mangás. As duas últimas páginas sempre eram com longos textos de Otomo dissertando sobre sua arte e, certa vez, contou que o grande motivo que o fez tornar-se desenhista foi que, quando pegava o trem até sua escola, ficava observando os veios e ferrugens no vagão e tentava reproduzir depois com lápis e papel. Ninguém faz texturas como ele. Mesmo se a história tivesse afundado em um assunto tão distante de nós, ainda assim o espetáculo visual arrebatador já teria valido cada centavo gasto no disquinho. Mas como já disse antes, a história é forte, e política no ponto certo. Apoiada em uma base familiar, vemos o começo da era científica, em um mundo onde poucos são confiáveis e muitos, gananciosos. A mensagem antibélica encontra contraponto exato na socialista. Espantosa, em meio a tudo aquilo, a transformação que a tempestuosa Scarlett (filha, veja só, do dono das empresas H'Ohara!!!) sofre. É óbvio desde sua primeira cena que acabará legal e ao lado do inventivo Ray, mas a sutileza do caminho a ser percorrido raramente foi vista no cinema antes. Enfim, uma ousadia em forma de película que deu mais do que certo, uma evolução cinematográfica narrativa e técnica. "Do risco é que vem o progresso" é um dos primeiros diálogos . Alguma dúvida?

Steamboy - Steamboy

- Japão, 2005 De Katsuhiro Otomo 126' Drama/Aventura

DVD - Poucos mas bons extras, destacando entrevista (curtíssima) com o diretor, conversa em três telas com animadores e seqüências com os vários estágios de produção de algumas cenas.



Cotação:

Um comentário:

  1. Esse é 1 filme que anseio e desespero por ver, mas em Portugal nem em DVD. Existe apenas uma versão prá PlayStation Portable... humpf!

    Abraços

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