22 de dezembro de 2007

Almas Mortas

William Castle merece seu lugarzinho no Hall of Fame do cinema como o mais espertalhão de todos os diretores! Não importa a que custo, choque na platéia, esqueletos amarrados em fios na sala de exibição, valia tudo pra atrair as ingênuas platéias da década de 60. Aqui ele tomou “emprestado” elementos de dois grandes sucessos da época: O Que Terá Acontecido a Baby Jane? e Psicose. Claro que sem um terço do talento ou sutilezas de Hitchcok ou Robert Aldrich... De qualquer forma, o que importa é que este é o filme de Joan Crawford! Aquele em que ela ao chegar a casa e pegar o marido com outra na cama não se faz de rogada: Pega o machado e lhe arranca a cabeça. Na frente de sua pequena filha!!! Involuntariamente engraçada, Crawford hora é boazinha, hora é maquiavélica. O supra-sumo de sua persona imortalizada entre todas as estrelas de Hollywood. Sendo a diva que sempre soube que era, não mostra meios termos interpretativos. Parece estar absurdamente há vontade encabeçando tamanho lixo oportunista. Com roteiro do mesmo Robert Block de Psicose, dá pra matar a charada final bem antes... O que o deixa, com tamanha cara de pau, ainda mais divertido. Hilário elogio ao cafona, camp, kitsh, out fashion, chame como quiser! Um inquestionável Cult!

Almas Mortas – Strait-Jacket
- EUA 1964 De William Castel Com Joan Crawford, Diane Baker, Leif Erickson 93’ Suspense


DVD - Grande lançamento da Columbia. Poucos filmes antigos possuem extras tão bacanas, em uma edição tão caprichada como esta. Ainda mais em se tratando de uma produção B. Há trailer original, mais de outros trabalhos do diretor, testes de figurinos (Crawford e seu poodle!), testes da cena do machado (!!!) e um documentário longo. Mas não há nenhuma legenda em português em nada...

Cotação:

Bruxa – A Face do Demônio

Após o estrondoso sucesso, inclusive coroado com indicações ao Oscar, de O Que Terá Acontecido a Baby Jane? filmes de suspense estrelados por ex estrelas de Hollywood tornaram-se quase um subgênero. Foi a chance de carreiras estagnadas darem uma virada, mas raramente surgiu algo mais que um brinde ao camp! A hitchcokiniana Joan Fontaine estava a quatro anos longe das telas de cinema até comprar os direitos do livro e bater na porta da Hammer Films. Talvez por isso, ela produzindo, não temos cenas fortes, sua personagem, a professorinha atacada por feiticeiros africanos que tenta se reerguer dando aulas em um vilarejo inglês, jamais deixa de lado o glamour de grande diva do cinema. Não há em sua interpretação aquele cheiro de assustadora decadência visto com Tallulah Bankhead em Fanatismo Macabro (Die! Die! My Darling!) ou de sua irmã Olivia de Havilland fazendo o diabo de uma decrépita Bette Davis em Com A Maldade na Alma (Hush... Hush, Sweet Charllot). Isso não é ruim, apenas não se encaixa exatamente no que se espera, gerando certo descompasso com a história absurda que está sendo contada. Aliás, ver uma grande dama em seu oficio sempre é prazeroso. O roteiro também derrapa fazendo mistério quando deveria nos dar suspense o que evidencia furos gritantes. E claro, Kay Walsh, outra veterana, tem uma face incrivelmente engraçada para dar algum medo num sabat exageradamente cômico...

Bruxa – A Face do Demônio – The Witches / The Devil´s Own
- Inglaterra 1966 De Cyril Frankel Com Joan Fontaine, Kay Walsh, Alec McCoven, Duncan Lamont, Ingrid Brett 90’ Suspense


DVD - A imagem está (mesmo em widscreen) um pouco danificada, e seus extras se resumem a sinopse e biografias das duas estrelas Fontaine e Walsh. Mas ruim mesmo é a capinha da Dark Side, cometendo a mesma gafe da edição americana, entregando quem está por trás dos rituais de magia negra.

Cotação:

21 de dezembro de 2007

O Homem de Palha

Tido como o mais atípico dos filmes da produtora Hammer, o considero o mais atípico filme de suspense de uma forma geral. Corajosamente toda a tensão surge do confronte dos princípios cristãos perante leis muito mais antigas: As do desejo. Policial católico praticante (Daqueles que só acreditam em sexo após o casamento!!!) vai até uma ilha depois de receber carta anônima sobre o sumiço de uma garota. Todas as suas crenças serão postas a prova ao tomar conhecimento dos milenares ritos praticados ali. E há tesão que resista ao conhecimento de que a belíssima Britt Ekland cantarola (Willow’s Song de Paul Giovanni) nuinha em pelo no quarto ao lado no meio da madrugada? Literalmente será feito de bobo até pelas criancinhas locais, tal e qual as velhas convenções são tratadas perante a crueza das relações humanas e reais. Se não bastasse tanta ousadia, ainda temos fantástica trilha sonora e interpretações memoráveis, principalmente a de Christopher Lee, que considera este o trabalho mais importante a qual participou. Observe a sutil utilização de símbolos fálicos durante toda película, e a seriedade com que é tratada uma seita pagã, de forma rara na cinematografia.

O Homem de Palha – The Wicker Man
- Inglaterra 1973 De Robin Hardy Com Edward Woodward, Christopher Lee, Britt Ekland, Ingrid Pitt 80’ Suspense


DVD - Em DVD há duas versões, a americana com 80 minutos e uma de 100 chamada de versão do diretor. No Brasil a Dark Side comercializa a americana. Traz trailer, spots de TV e rádio, e um longo e interessantíssimo documentário. Nele temos a oportunidade de ver os astros Christopher Lee e Ingrid Pitt na atualidade, e descobrir as verdadeiras trapalhadas para lançar bem na época em que a sua produtora foi vendida. Os novos donos não entenderam lhufas e além de cortes absurdos, os negativos originais simplesmente desaparecerem, provavelmente usados na pavimentação asfáltica!!! Lee é um dos que garantem que se o filme tivesse sido lançado tal e qual foi concebido teríamos um Cidadão Kane inglês...

Cotação:

Planeta dos Macacos (2001)

Divertida, mas escandalosamente vazia versão de Tim Burton à célebre cine série da década de 60. Curioso é que mesmo tendo assinado inúmeras películas desde Batman, é justamente esta a referência a ele contida nos trailers. Acusado por fãs de ter sido econômico nas cenas de ação em seus filmes do Paladino da Justiça parece que aqui quis ir á forra! Como resultado temos uma correria sem fim pondo por água a baixo qualquer possibilidade de se conhecer (ou ter interesse) o mínimo possível por aqueles tantos personagens. Muitos aparecem e somem sem dizerem a que vieram... Cheira a trabalhinho de produtor que na ilha de edição tentou deixar a coisa mais atrativa comercialmente falando. Outro incômodo é que na tentativa de evidenciar o paralelo entre macacos e humanos descambou pra caricatura. Motoqueiros de jaqueta de couro, maconheiros hippies, mulher de político fútil, inclusive a macaca esquerdista de Helena Bonham Carter. Não se vê macacos (com maquiagem quase sempre fabulosa de Rick Baker) humanizados, mas macacos fingindo que são humanos. De Tim Burton mesmo temos uma rebuscada direção de arte, trilha sonora de Danny Elfman e a retórica sobre as diferenças. Há sim, e a referência ao estúdio inglês Hammer na presença de Kris Kristofferson com visual quase igual ao usado por ele no clássico One Million Years B.C..

Planeta dos Macacos – Planet of Apes
- EUA 2001 De Tim Burton Com Mark Wahlberg, Tim Roth, Helena Bonham Carter, Michael Clarke Duncan, Kris Kristofferson 120’ Ação/Sci-Fi


DVD - Poucos lançamentos usaram e abusaram da mídia DVD como este Planeta dos Macacos. Pra você ter uma idéia, é possível se assistir ao filme 4 vezes!!! Normal, com comentários do diretor, outra com os de Danny Elfman (as poucas coisas sem legendas em português) e com entrada de informações de bastidor na tela. Duplo, os bônus não estão concentrados apenas no segundo disco, tendo inclusive um easter egg no primeiro. Se o filme ficou a desejar, prepare-se para passar horas e horas com documentários (relativamente longos e bem produzidos) de bastidores, cenas estendidas, cenas vistas por múltiplos ângulos (até com as páginas do roteiro), trailers, pôsteres entre outros regalos. Vale comentar um defeito nos discos da Fox: nos filmes só é possível alterar áudio e legendas pelo menu principal e não diretamente pelo controle remoto o que é bastante irritante.

Cotação:

16 de dezembro de 2007

Splash – Uma Sereia em Minha Vida

Rever este clássico do repeteco na TV em versão digital tem sabor de novidade. Sem os intervalos comerciais, o absurdo fullscreen e a cafonice da dublagem, parece um filme de verdade, e não aquela tolice que havia ficado retido no meu subconsciente. Com roteiro previsível, como normalmente são os romances made in Hollywood, fica evidente o diferencial de um elenco dando vigor a tanta sacarina. É absurdo o quão convincente está Daryl Hannah interpretando um personagem fantástico. E que pena que ela está pouco se lixando pra carreira topando depois disto qualquer bobagem. Tanto sereia quanto mulher idealizada, tivesse outra ali e 99% do charme teria ido ao ralo. E Tom Hanks em seu primeiro papel de destaque (Com a manjada voz 80’s de Nizo Neto na dublagem original presente nesta edição), distante léguas dos dois Oscars, é igualmente doce, nos fazendo esquecer do que está nas entrelinhas das intenções de seu yuppie: Quer uma mulher limpinha, que fique em casa nua o esperando chegar do trabalho para tórridas seções de sexo.

Splash – Uma Sereia em Minha Vida – Splash
- EUA 1985 De Ron Howard Com Tom Hanks, Daryl Hannah, John Candy 109’ Romance


DVD - Maravilhoso nem tanto pelo filme, mas pelo material extra escasso, mas eficiente todo legendado em português! É como se depois de 20 anos muitas dúvidas fossem selecionadas na sua cabeça, de uma época em que filmes fantásticos carregavam o tempero da dúvida de como aquilo havia sido feito. Nos de hoje só há uma resposta: Computador. É um filme tão querido que todos os envolvidos (incluindo Hanks e Hannah!!!) aparecem dando depoimentos atuais em um documentário bem extenso. Apostava que ela tinha usado uma dublê de corpo, por exemplo, nas cenas subaquáticas... Oh! E a Touchstone Pictures foi criada para lançar ele já que a Disney não queria associar seu nome a um filme de temática adulta. Hei, lembra que Madson até aparece nua em plena Nova York? Há orgulhosa faixa de comentário do diretor, produtor e roteiristas, e a cerejinha do bolo, os testes do casal central em VHS. Acredite, os chefões do estúdio se recusavam a ter Daryl como a sereia!

Cotação:

14 de dezembro de 2007

O Advogado do Diabo

Pra mim Al Pacino é que nem aquele hino de time de futebol, suas glórias vêm do passado! Caricato usa eternamente as mesmas técnicas em qualquer filme que seja.... Se a película ainda ajudar, vá lá, mas em algo tão canhestro como isto aqui não tem o que disfarçar, quase me levou ás gargalhadas tentando dar medo! E que filminho chulé, diga-se de passagem... De um moralismo de dar dó! Parece que o roteiro foi escrito por uma dona de casa provinciana, daquelas que vão á missa todo domingo, acreditam que na cidade grande ninguém presta, e que o dinheiro é coisa do demo. Tudo é escachado, obvio demais, de extremo mau gosto. Descaradamente chuparam idéias de grandes filmes de horror (como O Bebê de Rosemary, A Profecia, etc) achando que se colocassem uns efeitinhos digitais capengas já estaria ótimo! Não há clima, suspense, sutileza, nadinha que mereça ser levado em consideração como filme de horror, suspense ou o que quer que seja. Irritantemente nota-se a intenção de tentar nos chocar a todo custo, mas sempre de uma forma bastante infantil. Se prepare para os últimos 30 minutos mais constrangedores do que você imagina. Só uma dica: Quanto tudo está um lixo, pode ficar mais lixo ainda... Simplesmente de tão babaca me surpreendeu. Nem o efeito que o Michael Jackson (mil anos antes) usou no clipe Black or White ficou fora desta “obra prima” do cinema yankee! Talvez seja pra rir e eu não tenha entendido...

O Advogado do Diabo – The Devil’s Advocate
- EUA 1997 De Taylor Hackford Com Keanu Reeves, Al Pacino, Charlize Theron, Jeffrey Jones 144’ Horror


DVD - Bem, foi um dos primeiros a ser lançado no mercado, o que talvez explique os menus estáticos e a falta de legendas em português nos extras. Aliás, filme ruim dá até preguiça de se fuçar no conteúdo a mais, mas mesmo assim, tem faixa de áudio com comentário do diretor, que devia mais é ter vergonha, muito texto, cenas excluídas comentadas por ele, spots de TV, trailer... Pra quê?

Cotação:

13 de dezembro de 2007

Era Uma Vez No Oeste

Duas personagens femininas vão parir um novo mundo: A estrada de ferro e a prostituta Jill (Claudia Cardinale). Enquanto que a primeira põe à própria sorte os mais variados tipos tão desajustados quanto corajosos, a segunda os trata como uma madrinha, quem sabe uma fada madrinha de um reino muito distante... Embalado pela espetacular trilha de Ennio Morricone (servindo a maioria das vezes como único diálogo), acompanha-se uma contenda (que só se revelará no final) enquanto os novos rumos são traçados pela água e terra. Os dois elementos são constantes, sendo a terra o caminho desbravado pela locomotiva até alcançar o mar. A água, também mostrado em muitos momentos relacionado ao papel da Claudia Cardinale, não poderia ser arquétipo melhor à esperança. Belíssimo (e reverente) último suspiro dos clássicos faroestes, regido pelo mestre Sergio Leone por (feliz) imposição da Paramount. Em cada frame nada é gratuito neste trabalho artesanal que desnuda o a imaginação sabe sobre os bravos que peitaram o desafio de colonizar a América. Do argumento engenhoso assinado por Dario Argento (!!!), Bernardo Bertolucci e o próprio Leone à competente edição com um ritmo lento e árido como o deserto, um dos melhores espetáculos que já tive a honra de poder assistir. Absurdamente arrebatador, mesmo com quase três horas de duração, ao final é inevitável a vontade de aplaudir e logo depois rever tudinho!!! A raiva que dá, quando se depara com uma obra prima deste porte, é porque não assisti antes? Por estúpido preconceito com bang-bangs... Fabuloso!

Era Uma Vez No Oeste – Once Upon A Time in The West
- EUA/Itália 1968 De Sergio Leone Com Henry Fonda, Charles Bronson, Claudia Cardinale, Jason Robards 165’ Faroeste


DVD - Há duas versões, a dupla (tido como um dos melhores lançamentos em DVD) e esta pobrinha, em apenas um disco. O único extra é uma faixa de comentários de pesquisadores, técnicos e gente como John Carpenters e Claudia Cardinale, que lamentavelmente foram gravados separadamente. Cada hora ouve-se um deles. Mesmo assim, o filme está com uma imagem pra lá de cristalina em Widescreen Anamórfico. Vêem-se cada poro da pele dos atores, quase os grãos da areia... O áudio em 5.1 deixa os silêncios (amplificados por ruídos naturais) da abertura muito mais angustiantes.

Update: Só depois descobri um easter egg logo no menu principal.


Cotação:

História de Uma Cidadezinha

Se este filme não conta-se com Marilyn Monroe em seu elenco ganharia o destino de tantos outros desprezíveis: Teria virado matéria prima na fabricação de vassouras! Originalmente conhecido no Brasil como Em Cada Lar Um Romance (o que não faz o mínimo sentido!), é uma pequena bobagem (quase um média metragem), subversiva e deslavada propaganda dos princípios anticomunistas. O trabalhador deve servir da melhor maneira possível o patrão magnata, que não passa de um ser altruísta e muito bonzinho a favor de uma América próspera. Nosso herói, que retorna a sua cidade natal após a derrota nas eleições, quase vira vilão ao usar seu jornal contra uma indústria que achava gananciosa. Não espere nada além de alguns discursos cheios de boas intenções, tal e qual você sabe o quê. Sua ingenuidade chega a ser graciosa como a classe média americano dos 50 sempre nos parece. De qualquer forma, indispensável na coleção dos admiradores de Monroe. Ainda longe de se tornar o maior mito que o cinema já produziu, emociona sua visível insegurança nas duas ou três frases de texto (além de literalmente enfeitar o cenário ao fundo) como a secretária do tal noticioso interiorano. Foi o nono filme de sua carreira, e o (terceiro e) último na MGM, que a dispensou alegando já ter Lana Turner em seu cast, não precisando de outra loira. A curiosidade fica no fato de que esta película, por ser artisticamente insignificante, tornou-se rara inclusive em sua época. Instantaneamente desprezado e esquecido segundo o biógrafo Donald Spoto. Uma cópia teria ressurgido na Austrália após a morte de Marilyn Monroe em 1962.

História de Uma Cidadezinha – Home Tow Story
- EUA 1951 De Arthur Pierson Com Donald Crisp, Jeffrey Lyn, Marjore Reynolds, Marilyn Monroe 61’ Drama


DVD - Uma das glórias da era digital em que vivemos é a possibilidade do acesso a obscuras produções como esta. Muitos títulos com copyrights teoricamente perdidos estão surgindo para download na internet, ou sendo lançado em DVD por pequenas distribuidoras. Este aqui (De uma tal Líder) tem um menuzinho simpátiquinho com uma casinha onde na janelinha se vê cenas do filminho enquanto caiem folhinhas. Um show de inhos e inhas ideal para a obra em questão. Ao fundo se ouve a mesma música que toca na abertura do filme, mas visivelmente percebe-se que não é original da época, aliás, o leão da Metro está mudo!!! Não tem seleção de capítulos e há a opção de áudio em 2 ou 5 canais... Em um filme da década de 50? Como assim?

Cotação:

O Grande Truque

Logo no inicio do século passado o planeta estava em alvoroço com a possibilidade de se contatar o mundo dos mortos, o obscuro, o não nominável... Coincidentemente, ou não, também foi a era onde a ciência mais se fez notável de uma forma popular. As trevas assustavam bem menos, já que Edson tinha inventado a lâmpada. Terreno fértil para o chamado teatro de vaudeville ser tomado por mágicos, ilusionistas e canastrões em geral. É neste ambiente que Chris Nolan desenrola seu novelo de falsas imagens e aparências, usando praticamente a mesma equipe (inclusive elenco) de Batman Begins, em um caleidoscópio rococó. Contada de forma não linear, somos convidados a remontar passo a passo o que teria feito os ex-colegas de palco a odiarem-se a ponto de assassinatos, entre outras baixarias, irem se impondo até a surpresa final. Nolan tenta assim, o grande truque para si! Saboroso, com reconstituição de época impecável, e elenco perto do memorável. David Bowie interpretando o real e bizarro cientista Tesla não poderia ser melhor escolha... O único porém é que o mistério principal, se você prestar atenção ao filme desde inicio, desvenda-se quase meia hora antes de acabar a história. O mesmo gosto de se descobrir onde o coelho estava escondido antes de surgir na cartola de um mágico... Daí resta-se dizer “Dããããã! Tanta coisa pra isso?”.

O Grande Truque – The Prestige
- EUA 2006 De Christopher Nolan Com Christian Bale, Hugh Jackman, Michael Kane, Scarlett Johansson, David Bowie 130’ Suspense


DVD - Um menu brincando com o mais primitivo do ilusionismo. Tão bacaninha que nos faz acreditar que entre um desenho de cartola ou pombinha deve ter um easter egg escondido em algum lugar, mas parece que é só truque! Há um documentário dividido em alguns segmentos, bem superficial, trailer e galeria segmentada.

Cotação:

Batman Begins

Esta sexta versão do personagem mais célebre criado por Bob Kane segurou a bomba da expectativa após toda a avacalhação sofrida nos últimos dois exemplares. A própria Warner estampou (cinicamente) com destaque na capinha do DVD “O Melhor de Todos”... Mentira! Realmente está anos luz dos filmes de Joel Schumacher, mas isso é quase como bater em bêbado: Se a gente apanha é vergonhoso, mas se bate acaba dando no mesmo. Mas há os dois primeiros dirigidos por Tim Burton, sendo o mais autêntico Batman Returns o único a merecer o título de concorrente a este novo. A versão 2007, quase um estudo sobre o medo que nos repele e atrai à vida, é um dos melhores filmes de super-herói jamais feito, até porque, não foi dirigido por um fã de quadrinhos, mas um cineasta inventivo. Por tanto, temos aí um filme de verdade, personagens de verdade, situações de verdade, etc. Mas aí também está o que o faz perder alguns pontos se comparado ao de 1992. Enquanto o outro se desenvolve no mundo dos sonhos e fantasia, onde qualquer absurdo se justifica, este de tão realista fica muitos momentos sem nexo. Volta e meia, quando estamos entretidos no universo sombrio do Homem-Morcego, lá vem um escorregão nos dizer que é tudo mentirinha. A própria capa do herói raramente corresponde aos movimentos previstos, por exemplo. E o Bat-sinal nos céus? Não seria mais prático e eficaz que se usasse um Bat-celular? Qual o sentido em usar um Batmóvel (com designe horroroso que mais parece o Caveirão do Bope) se ele não se parece com nenhum carro nas ruas? Pra chamar a atenção? E me diz quem teve a infeliz idéia de escalar Katie Holmes como mocinha? Nula! Cillian Murphy, como vilão que se transforma em O Espantalho, não parece nada além de um adolescente brincando de ser mau cheio de caras e bocas. Daqui a 30 anos, tanto realismo transformará este filme obsoleto como o Paladino da Justiça de Adam West, enquanto que o de Tim Burton, atemporal, um clássico! Fantasias, como as da mente do Doutor Caligari, são eternas...

Batman Begins - Batman Begins
- EUA 2005 De Christopher Nolan Com Christian Bale, Michael Kane, Lian Neeson, Katie Holmes, Gary Oldman 140’ Ação


DVD - Edição dupla fantástica! Horas e horas de extras. O menu do segundo disco pode ser acessado da forma convencional, através de uma lista, ou navegando por uma história em quadrinhos, abarrotada de easter eggs! De qualquer forma, há coisas em um que estão ausentes no outro. Tem recurso DVD-Rom, mas como a maioria dos da Warner, é perder tempo. A gente coloca no Drive do PC e eles só querem que a gente instale um software suspeito. E isso lá é extra?

Cotação:

6 de dezembro de 2007

Scanners – Sua Mente Pode Destruir

Gêneros cinematográfico vivem de ciclos, e isto parece ser mais claro nos fantásticos ou horror. De monstros a ameaças nucleares, descambando na década de 60 à presença do diabo entre nós (só ele poderia ser o causador de tamanhas transformações) e depois ainda vieram os perigos dos poderes mentais... Sempre acompanhando as preocupações e/ou anseios sociais, como tudo que se preze comercial. Este David Cronenberg, o seu primeiro sucesso internacional, então seria um filhotinho da Carrie, A Estranha. O “capeta” de antes se tornou justificado psicologicamente. Aliás, esta fonte de mal bíblica (O Bebê de Rosemary, A Profecia, O Exorcista) teria sido fruto não só dos excessos da contracultura da época, mas um desdobramento dos assassinos perturbados mentalmente como Norma Bates em Psicose? Assim, antropofagicamente, os títulos vão se alimentando uns dos outros em busca do que é comum ao medo de cada período tendo como principal termômetro o sucesso de bilheteria. De qualquer forma, Scanners continua fresco e divertido. Mesmo batidíssimo em inúmeras exibições na TV e VHS!!! Começa como um filme de detetive futurista num shopping Center dando lugar a uma história de falsas aparências com suspense e horror. Seus efeitos especiais mecânicos ainda são impressionantes e nojentos. Absolutamente 80’s e atemporal, encontrei desta vez muitas semelhanças ao famoso animé de 1995 Ghost In The Shell (ou O Fantasma do Futuro). Oh! Que por acaso é citado como uma das principais referências na criação de Matrix. 15 anos antes os parapsicólogos canadenses já entravam num sistema de computador usando uma cabine telefônica e, acho a principal delas, o uso dos caracteres verdes tipicamente digitais para se mostrar os créditos. Que seja só mais um motivo para você rever esta preciosidade, além das melhores cabeças explosivas do cinema!

Scanners – Sua Mente Pode Destruir - Scanners
- Canadá 1981 De David Cronenberg Com Stephen Lack, Jennifer O’Neill, Michael Ironside 102’ Terror


DVD - Menuzinho animado com cenas do filme e algum texto. Não sabia que a atriz Jennifer O’Neill era carioca... A imagem (Letter Box) está relativamente boa ao contrário do áudio, que a capa diz ser 2.0, mas parece mono. Ainda há uma certa falta de sincronia do som, mas pesquisando na net há reclamações no mundo todo, portanto não deve ser culpa da distribuidora brasileira.

Cotação:

Suspiria

Poucos cineastas vivos são tão merecedores do título de mestres quanto Dario Argento. Um malandro que usa seu conhecimento apurado dos confins da psique humana para exibi-la com seu apurado conhecimento cinematográfico. Este Suspiria, por exemplo, a cada vez que se vê têm-se a certeza de estar diante de uma obra de arte, tão preciosa quanto um Michelangelo. Pela primeira abandonava o bem sucedido gênero Giallo, aqueles filmes italianos de suspense com misteriosos assassinos de luvas pretas, e se aventurava pelo horror sobrenatural. Sobrenatural disfarçado de psicológico ou psicológico disfarçado de sobrenatural? O que pode estar na mente da frágil adolescente americana (Jessica Harper) ao tentar a sorte numa bem conceituada (e distante) escola de balé alemã? Com seus olhos compartilhamos o temor que o isolamento cultural/social pode causar. Como no também grande O Inquilino de Roman Polanski, nada pode ser mais terrível quando não se tem com quem contar, quando se está longe do que nos dá segurança. Este conto de fadas macabro, com imagens tão assombrosas quanto belas não se cansa de pregar peças. A garota ao se deparar com duas figuras um tanto quanto bizarras, lhe encarando desprezívelmente, parece escutar em sussurro “wait!” (“espere!”), mas também poderia ser “witch!”(“bruxa!”)... Será que ouvi certo? É só o começo de uma intrincada trama em cenários absurdos e psicodélicos, fotografia em cores berrantes e trilha sonora (da banda Goblin) perfeita a caminho do mais próximo registro do que é um pesadelo! O final simplista chega a incomodar, mas depois de tudo que presenciamos é só um detalhe.

Suspiria - Itália 1977 De Dario Argento Com Jessica Harper, Stefania Casini, Miguel Bosé 98’ Horror

DVD - Êeeeee!!! De babar este lançamento do selo Dark Side!!! Duplo, widescreen, áudio em 5 canais, extras a dar com um pau!!! Trailer americano e europeu, spots de radio e TV, gigante galeria de imagens, biografias, etc! No segundo disco, a cerejinha do bolo: Um documentário longo sobre toda obra de Argento, inclusive com a presença dele, colaboradores (como George Romero) e parentes (as filhas Asia e Fiona e a primeira mulher, a atriz Daria)!

Cotação:

5 de dezembro de 2007

Dália Negra

Brian De Palma tem um nome forte o suficiente para que quaisquer de seus trabalhos sempre mereçam atenção. Mesmo com os tropeços dos últimos anos, há sempre Carrie, Dublê de Corpo, Vestida Para Matar, Os Intocáveis, e alguns outros que depõem a seu favor... Pena que ainda não foi desta vez que o mais famoso seguidor de Hitchcock usou seus maneirismos de câmera, planos panorâmicos de tirar o fôlego em prol de uma boa história. Aqui tudo isso só serve pra disfarçar um roteiro mal e porcamente escrito. O tal crime da aspirante a atriz Elizabeth Short torna-se apenas o pano de fundo para a história de dois amigos policiais que têm em comum o gosto pelo boxe e o afeto da mesma garota. Com um elenco mais experiente até daria um caldo razoável. Mas o que temos são três jovens tentando interpretar no vazio, discutindo a rebinboca da parafuseta! Se nem para eles aquilo parece ter interesse maior, imagina pra quem está os assistindo? Lá pela metade da coisa entra o núcleo magnata da família de Hilary Swank (ótima!), soturna e perigosa. Mas aí já é tarde! Começa-se a desenrolar um monte de subtramas que, se prestei bem atenção, não estavam enroladas dês do começo! Aliás, a solução do caso (real) que dá nome ao título ganha uma solução tão ridícula quanto improvável. Baseado no livro do autor de L.A. Confidential, taí a prova de que brincar de noir não é pra qualquer um...

Dália Negra – Black Dalia - EUA 2006 De Brian De Palma Com Scarlett Johansson, Josh Hartnett, Hilary Swank, Aaron Eckhart 120’ Suspense

DVD - Os extras são o trailer dele, algumas curtíssimas entrevistas com os principais envolvidos e slide show sonororizado. Cabe dizer que a capa tem frente e verso, a principal com o belo pôster original e a outra apenas com destaque no elenco. Mas conteúdo é o mesmo, caso você o ache á venda de forma diferente. Uma coisa negativa foi a idéia de colocar inúmeros trailers de trashes logo no inicio do disco, sem a opção de pulá-los... É preciso correr (como se fosse a era do VHS) toda vez que se quer ver o filme. Chato!

Cotação:

Bonequinha de Luxo

Este verdadeiro mimo em forma de película parece querer nos dizer o tempo todo que por mais que se fuja do mundo, absolutamente somos incapazes de escapar de nós mesmos. Nunca a mais antiga das profissões foi retratada de forma tão doce e agradável. Pauline Kael disse que quem leu o romance de Truman Capote, ao qual o roteiro se baseia, fica consternado ao ver tudo tão amaciado. Eu não li, mas provavelmente a graça esteja exatamente neste tom cor pastel típico de Black Edwards. A vida da graciosa Holly Golightly (interpretada pela graciosa Audrey Hepburn), que recebe de cavalheiros 50 dólares a cada ida ao banheiro, é só um reflexo de sua alma á deriva dos acontecimentos mundanos. Inédito em VHS, esta edição em DVD no Brasil (país citado em vários momentos) tem o mérito de regatar seu formato original widescreen, e podermos finalmente ouvir as vozes originais dos atores. Toda uma geração só o conhecia pelas reprises nas madrugadas da Globo. Cult imortal faz com que seus extras (leia abaixo) se tornem preciosidades. Por exemplo, diretor e produtor confirmam a história que por muitos anos era só lenda: Marilyn Monroe teria ganhado o personagem de presente do amigo Capote. O que nos faz ficar imaginando que outro (absolutamente outro!) filmes fantástico teria sido. Também curioso o depoimento de Edwards, por mais que o filme pareça cria total dele (inclusive na hilária caricatura racial de Mickey Rooney), destaca com certo orgulho apenas a cena da festa como sua. Some a tudo a trilha camp esplêndida de Henry Mancini (ganhadora do Oscar), figurinos absurdos de Givanchi e um gato fofo que não deve ter nome. Pronto! Um filme para ser visto e revisto para o resto de nossas vidas, genial em sua simplicidade. Surpreendente e feliz como abrir uma caixa de biscoitos e ganhar um anelzinho...

Bonequinha de Luxo – Breakfast At Tiffany’s - EUA 1962 De Blake Edwards Com Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal, Mickey Rooney 114’ Romance

DVD - Olha que bizarro! A mesma distribuidora o lançou duas vezes com diferença de pouco tempo. Este é a chamada “Edição de Aniversário” e pelo que percebi, de diferente é só a capinha rosa. Os extras (todos legendados!) possuem entrevista com produtor e diretor, e sobreviventes da festa (!!!) além de Patrícia Neal, a única do cast principal viva. Um documentário curto sobre a joalheria Tiffany’s e outro sobre o que Hepburn representa ao mundo da moda. Ah sim, tem a dublagem original 60’s, pro caso de você, que estava acostumado a ver pela TV, sentir falta, se bem que com imagem tão cristalina, este áudio com chiados tipo vinil não combina em nada.

Cotação:

4 de dezembro de 2007

O Homem Duplo

O filme decepção do ano não é necessariamente um filme ruim. É banal, corriqueiro... O fato de ser baseado na obra de Philip K. Dick nos fazia esperar algo ousado, ainda mais sabendo que os astros tiveram que ser redesenhados com a técnica de rotoscópia, já usada por Disney na década de 30 em Branca de Neve. Talvez esta façanha, refazer tudo quadro a quadro, tenha sido a pázinha de cal em qualquer positividade. Primeiro porque acaba chamando muito mais atenção do que a história (confusa) em si, e depois porque o emprego dela não acrescente em nada. Não serve, como por exemplo os maneirismos estéticos de Sin City, para direcionar o espectador a climas, subentendimentos ou estilos. É só perfumaria! O projeto que demoraria a principio 9 meses, acabou em 18. Mesmo artesanal o resultado foi frio, como se as imagens tivessem sido automaticamente rastreadas por um software gráfico. Em um argumento essencialmente humano e verborrágico soou desnecessário. Bem, pelo menos adicionou alguma expressão na interpretação de Keanu Reeves, e isto já é um mérito louvável. Mas no geral é bonito, ousado e com elenco interessante. Talvez mereça ser revisto com menos expectativas...

O Homem Duplo – A Scaner Darkly - EUA 2006 De Richard Linklater Com Keanu Reeves, Winona Ryder, Robert Downey Jr., Rory Cochrane, Woody Harrelson 100’ Ficção Científica/Policial

DVD - Um caso raro de DVD simples e completo! Ao invés de ser lançado duplo divido em minúsculos documentários se optou por apenas dói com mais de meia hora cada. O primeiro sobre o livro original e seu autor e o segundo o making off em si do filme, ressaltando a rotoscópia. A parte nojenta está na faixa de comentários com diretor, astro principal, historiador etc. A cara de pau da Warner faz este extra ser mencionado na capa, mas legendas em português que é bom, necas de pitibiriba! E isto está se tornando um hábito das distribuidoras...

Cotação: