8 de maio de 2009

O Monstro do Circo

Tão espetacular que a limitação técnica da falta de som torna-se mero detalhe. Lon Chaney é um perigoso bandido, que para fugir da polícia, refugia-se num circo. Como possui seis dedos em cada mão (o que o identificaria facilmente), disfarça-se de atirador de facas sem braços. Na tenra idade, Joan Crawford é a belíssima filha do dono do circo e partner de picadeiro do malfeitor. Por coincidência, a garota tem aversão a que homens lhe toquem, portanto, vira alvo fácil do falso deficiente enquanto escapa dos galanteios do Homem Forte. E espere um verdadeiro desfile de personagens e ações bizarras, como automutilação e muitas reviravoltas na trama. Até um vigoroso final, ainda de prender o fôlego 82 anos depois! Chaney faz jus à alcunha de homem das mil faces num desempenho emocional e físico difícil de ser superado. Consegue, por exemplo, acender e fumar cigarro só com os pés com espantosa desenvoltura, assim como tocar violão. Parece que fez isso a vida toda. O diretor Tod Browning é muito famoso por ter feito Drácula, aquele de 31 com Bela Lugosi, e o maldito Monstros (Freaks, 1932), mas não há dúvidas de que neste O Monstro do Circo chegava ao auge de seu talento. Alegórico e divertido, traça um vigoroso estudo sobre a natureza humana, numa época em que a psicologia não estava tão avançado.

O Monstro do Circo – The Unknown

- EUA 1927 De Tod Browning Com Lon Chaney, Joan Crawford, Nick De Ruiz, John George, Frank Lanning 63’ Horror


Cotação:

6 de maio de 2009

Feliz Natal

Um filme brasileiro recente que não se passa em morro carioca, sertão ou nos brinde com as agruras amorosas da classe média já é louvável por si só! E confesso que comecei a assistir com as quatro patas no chão. A fotografia granulada e câmera trêmula me cheiravam a pretensão artística de atorzinho da Globo tentando ser gente no cinema. Preconceito! Ambos acordam completamente com o ambiente doméstico ao qual a história transcorre. Há que se lembrar que junto à tecnologia, a arte (essa coisa tão humana...) de interpretar sofre transformações, e a estréia de Selton Mello como diretor aponta caminhos novos tão drásticos a atores quanto a chegada do áudio ou o zoom. Interpretações tão cristalinas só possíveis no teatro, mas sem os exageros do palco. Ou melhor, a câmera digital nos transporta dolorosamente para dentro da ação quase como bisbilhoteiros, vasculhando cada emoção por mais sutil que seja em “tempo real”. E o cineasta se cercou de um elenco tarimbado, embora não óbvio, para que a experiência seja a mais correta possível. Darlene Glória, por exemplo, está estupenda como a mãe alcoólatra que já desistiu a muito tempo de segurar as pontas da família em frangalhos. Mello acertou na primeira tacada não só pelo que se assiste, mas pelo filme continuar a existir em nossa mente quando ele acaba. Tijolo por tijolo os personagens vão se revelando, tão ricos e tão miseráveis em sua existência que mesmo sem sobrar o que ser amarrado no final é nítido que pertencem a este mundo.

Feliz Natal – Feliz Natal

- Brasil 2008 De Selton Mello Com Darlene Glória, Paulo Guarnieri, Lúcio Mauro, Leonardo Medeiros, Graziela Moretto, Fabricio Reis, 100’ Drama


Cotação: