30 de janeiro de 2009

O Planeta Proibido

A mais incensada sci-fi 50’s exige boa dose de paciência. Isso porque, esbarra na precariedade de tantas outras da época. Sem recursos financeiros ou artísticos, enchiam o roteiro de diálogos ao invés das coisas acontecerem ou serem mostradas. E aqui é um infinito blábláblá sobre tecnologia de mentirinha que só com muita boa vontade para acompanhar até o fim. Nos últimos minutos torna-se sensacional, com efeitos especiais ainda impressionantes e a grande sacada na conclusão da história envolvendo o Monstro ID. Aliás, argumento inspirado em A Tempestade de Shakespeare, o que torna a produção mais invulgar ainda. Muito bem humorado, o filme mostra a chegada de uma tripulação terráquea ao planeta Altair I, após investigar inusitado silencio onde antes era habitado. Agora vivem apenas duas pessoas, um cientista com mania de grandeza e sua filha, uma gatinha de roupas provocantes que deixará qualquer um dos astronautas a beijar na boca e sabe Deus o que mais. E claro, um robô humanóide com as falas mais divertidas. Outra coisa curiosa, e que chega a incomodar a princípio, é Leslie Nielsen jovem sendo o capitão. Não dá pra não esperar algumas caretas dele. Mas dá conta do recado na luta contra o mal obscuro comum a todos.

O Planeta Proibido – Forbidden Planet

- EUA 1956 De Fred M. Wilcox Com Walter Pidgeon, Leslie Nielsen, Anne Francis, Warren Stevens, Richard Anderson, George Wallace, Robert Dix 98’ Ficção Científica


Cotação:

16 de janeiro de 2009

Noite Alucinante 3

E assim, cai o pano da forma épica que o desfecho de uma trilogia inovadora como foi Evil Dead merece. Ash como no final do anterior, entre no portal por acidente indo parar na Idade Média. Lá irá se transformar no herói que o Necronomicon apregoava existir, mas também o causador de grandes transtornos ao despertar a fúria do Exército das Sombras. Não tendo no título original “Evil Dead”, nem o número 3, leva muito mais a sério a cronologia do que o episódio anterior, embora não seja nada fiel na cena que serve de ponte entre eles. Num flashback, algumas sequências foram refeitas, com Bridget Fonda sendo Linda, a namorada possuída. Diversão garantida para quem não levar tudo tão a sério ou não esperar o mesmo horror de antes. Aliás, sua violência está mais gráfica, assumindo de vez sua inspiração em desenhos tipo Perna Longa ou nos velhos episódios de Os Três Patetas. A ambiciosa produção faz com que mesmo com mais grana as dificuldades sejam semelhantes ao de 1982, feito por Sam Raimi com um punhado de dólares em 16 mm. Não que a mente do diretor seja pouco fértil ao ponto de deixar de executar alguma de suas idéias malucas por falta de dinheiro ou recursos tecnológicos da época. O tal exercito das sombras, por exemplo, é parte fantoche, parte atores fantasiados e parte stop-motion e mesmo assim é um raro momento mágico entre as fitas de aventura. Sabor puro de Sessão da Tarde!

Noite Alucinante 3 – Army of Darkness

- EUA 1992 De Sam Raimi Com Bruce Campbell, Embeth Davidtz, Marcus Gilbert, Ian Abercrombie, Richard Grove, Timothy Patrick Quill, Michael Earl Reid, Bruce Thomas, Bridget Fonda 96’ Comédia/Horror


Cotação:

13 de janeiro de 2009

Senta No Meu Que Eu Entro Na Tua

Dois episódios: Alô Buça e O Unicórnio. No primeiro, as desventuras de uma mulher casada e leviana às voltas com sua vagina que resolveu falar tudo o que sente. Pouco a pouco ela vai mandando na vida da “dona” sendo muito indiscreta. Chega a recusar que um parceiro coloque a boca em si por causa do mau hálito. A outra historinha é sobre um marido traído (Germano Vezzani que chegou a fazer ponta em telenovela da Globo) que ao invés de chifre vê nascer um insaciável pênis em sua cabeça! Em ambos os casos, é evidente que se trata de uma crítica a quem tem a vida em torno do sexo, praticamente deixa que um órgão comande sua roda social. Tão engraçado e chulo que beira a genialidade! Dá pra rir só de imaginar a atriz que dublou a vagina, ou como aqueles closes na hora que ela fala devem ter ficado vistos numa tela grande de cinema. O momento chave é a dona cantando uma música de dor de cotovelo e a genitália indo de “Isso me dá um tique tique nervoso...”!!! Mas o grande barato das pornochanchadas dessa fase explícita é usar sua displicência pra colocar a sacanagem no seu devido lugar: Como a coisa mais óbvia e comum que existe desde que o mundo é mundo! A cena final é de se suspeitar ter sido fonte de inspiração a John Waters. O filme Clube dos Pervertidos se encerra exatamente da mesma forma.

Senta No Meu Que Eu Entro Na Tua

- Brasil 1985 De Ody Fraga Com Germano Vezzani, Jaime Cardoso , Sílvia Dumont, Walter Gabarron,Sandra Midori, Débora Muniz, Kelly Muriel, 88’ Comédia/Sexo Explicito


Cotação:

8 de janeiro de 2009

O Mensageiro do Diabo

O fato de ser a única direção do ator Charles Laughton só amplifica seu fascínio de obra prima. É como se Da Vinci só tivesse pintado a Mona Lisa... Se equilibrando entre conto de fadas e uma tenebrosa história de serial killer irredutível, é bonito o suficiente para ir além de mero filme para causar medo. Notadamente influenciado pelo expressionismo alemão e na literatura gótica, consegue ser desconcertante em muitos momentos. Tanto visualmente (com momentos até ridículos de tão doces) quanto psicologicamente, nos mostrando que criancinhas inseguras somos nós, apegadas a velhas máscaras sacras para poder confiar no próximo! A diva Lilian Gish, aquela altura já era uma senhorinha que teria relutado pra sair da aposentadoria, abre o espetáculo entre estrelinhas. Recita alguns trechos bíblicos para só aí sermos apresentados ao lobo em pele de cordeiro. Não é sempre que vemos um ator encontrando o papel de sua vida como Robert Mitchum aqui. Quando aparece (vestido como respeitável religioso) num show de strip-tease, e no ápice salta de entre suas pernas um lustroso canivete, sabe-se de qual espécie de fera estamos diante. Disfarçado de pastor, aplica golpes em viúvas desamparadas, até que na cadeia escuta de um condenado à morte sobre a fabulosa fortuna que deixou escondida entre sua família. E o resto da metragem será gasto com o pilantra primeiro conquistando a pobre viuvinha (Shelley Winters, quem mais?) e depois atrás das criancinhas fofas, detentoras do segredo milionário. Nada menos do que um dos mais perversos jogos de gato e rato que o cinema já mostrou.

O Mensageiro do Diabo - The Night of the Hunter

- EUA 1955 De Charles Laughton Com Robert Mitchum, Shelley Winters, Lillian Gish, James Gleason, Evelyn Varden, Peter Graves, Don Beddoe, Billy Chapin 93’ Suspense


Cotação:

3 de janeiro de 2009

O Cheiro do Ralo

Desde Macunaíma não tínhamos um personagem tão brasileiro nas telas. O canalha com justificativas passa a perna até na Dora de Central do Brasil. Lourenço é o dono de uma casa de penhores que pra ganhar mais precisa se desfazer do que lhe oferecem. No começo tinha dó, depois acabou se acostumando porque “precisa sobreviver”. Daí a tratar pessoas como as quinquilharias que o cercam será um pulo. Solitário, apaixona-se pela bunda da balconista do boteco. Leia bem, não a balconista, só a bunda! O título bizarro combina tal e qual com a galeria de seres que aparecem a todo instante. Todos sem nomes, fora a empregada doméstica que depois de sete anos avisa Lourenço do equivoco que ele comete a chamando de forma errada. É um filme leve e inteligente, feliz em seu disfarce de comédia ligeira. Só que com sua busca desesperada em conseguir uma estética Cult demora a nos envolver naquele universo. Nos extras descobre-se que a inspiração principal talvez seja as pornochanchadas, porque o Selton Mello (excelente como protagonista embora aparente ter muito menos idade do que o personagem) assume a inspiração em Paulo César Pereio. Já a produção assume lado algum. Tentando parecer internacional, atemporal, todo o resultado foi pra lugar nenhum, uma espécie de limbo artístico. Aquele mesmo lugar onde o Coyote busca incansavelmente capturar o Papa-Léguas. Bacana mas distante.

O Cheiro do Ralo

- Brasil 2006 De Heitor Dhalia Com Selton Mello, Paula Braun, Paulo Alves, Susana Alves, Roberto Audio, Jorge Cerruti, Fabiana Guglielmetti, Sílvia Lourenço, Lourenço Mutarelli 112’ Comédia


DVD- Dá pra imaginar pelas cenas deletadas o trabalho que a edição deve ter dado. Nenhuma delas aparenta estar inferior ao que vimos na tela. Tem um making of profissional, tipo filme mesmo, diferente dos tapa buraco que as distribuidoras de DVD por hábito costumam nos impingir. Outra demonstração de capricho da Universal é o diário longo do Selton Mello, onde se sente o sacrifício que deve ter ser fazer cinema com tão pouca grana.

Cotação: